Marie Curie

Foto de Marie Skłodowska-Curie (1920)

Marie Skłodowska-Curie nasceu Maria Salomea Skłodowska em Varsóvia (Polônia) no dia 7 de novembro de 1867. Seus pais, Bronisława e Władysław Skłodowski, eram professores e ela era a filha mais nova dentre os 5 filhos do casal.

Ela iniciou seus estudos superiores na universidade polonesa Uniwersytet Latający em Varsóvia, visto ser essa uma instituição patriótica polonesa de ensino superior que admitia estudantes mulheres. Nessa época as mulheres não eram admitidas em instituições regulares de ensino superior na Polonia.

Władysław Skłodowski e as filhas 
(da esquerda para direita) Maria, Bronisława e Helena, 1890

Por volta de 1890, sua irmã Bronisława casou-se com Kazimierz Dłuski, médico polonês. O casal se mudou para Paris (França) e mais tarde convidou Maria para se juntar a eles e estudar na cidade francesa. Maria se recusou porque não poderia pagar as despesas da universidade; para isso ela trabalhou como professora e governanta alguns anos para juntar fundos para a empreitada. Neste meio tempo, ela iniciou seu treinamento científico prático (1890 a 1891) em um laboratório de química no Museu de Indústria e Agricultura, localizado perto daCidade Velha de Varsóvia. O laboratório era dirigido por seu primo Józef Boguski, que fora assistente do químico russo Dmitri Mendeleiev, na cidade de São Petersburgo. Somente aos 24 anos, pôde seguir sua irmã mais velha e mudar-se para Paris para estudar.

Nesta cidade iniciou seus estudos em Física, Química e Matemática na Universidade de Paris e, para custear seus estudos e sua subsistência, dava aulas particulares à noite, levando uma vida modesta e de muitas necessidades, morando em um pequeno sótão perto da Universidade de Sorbonne.

Formou-se em física em 1893 e começou a trabalhar em um laboratório industrial. Concomitantemente, continuou seus estudos na mesma universidade conseguindo um segundo diploma em 1894. Alguns estudiosos da sua biografia afirmam que esse segundo diploma foi em matemática, no entanto outros afirmam que foi em química.

“It was like a new world opened to me, the world of science, which I was at last permitted to know in all liberty,”

Citação de Marie Curie sobre a oportunidade ímpar de poder estudar

Neste período, ela recebeu uma bolsa de estudos que era destinada a estudantes poloneses excelentes, o que a ajudou na conclusão de seus estudos. Após isso, ela foi contratada pela “Sociedade para o Incentivo à Indústria Nacional francesa” para fazer um estudo relacionando as propriedades magnéticas de diferentes aços e sua composição química. Para realizar esse estudo, ela precisava encontrar um laboratório onde pudesse fazer o trabalho. No ano de 1894, Maria, agora Marie, conheceu Pierre Curie, por intermédio de um colega físico polonês. Pierre tinha um laboratório precário e rudimentar onde ela foi buscar o espaço para realizar seu trabalho de pesquisa [R. W. Reid (1978). Marie Curie. New American Library. p.32. ISBN 978-0-00-211539-1. Biography & Autobiography – 309 paginas]. Nesta época, Pierre Curie era instrutor na Escola Superior de Física e Química Industriais de Paris (ESPCI) onde mantinha esse laboratório.

Ainda em 1894, ela retornou à Polonia onde tentou uma posição em uma universidade polonesa (Universidade Jaguelônica), vaga essa que lhe foi negada por ser mulher. Retornando a Paris, iniciou seu doutoramento. Pierre Currie, muito incentivado por Marie e familiares, finalizou seu doutorado pesquisando sobre Magnetismo, recebendo sua láurea em 1895 e ascendendo à carreira de Professor na ESPCI. Marie e Pierre se casaram em 1895.

Pierre e Marie Curie realizando experimentos no laboratório, 1904

Gabriel Lippmann (Prêmio Nobel de física em 1908) foi o orientador do doutorado de Marie Curie. Ele permitiu que Marie utilizasse o seu laboratório para o seu trabalho de tese e ajudou-a a encontrar outras fontes de apoio. O seu trabalho de tese foi inspirado em duas importantes descobertas. Por essa época, em 1896, Henri Becquerel descobriu que sais de urânio emitiam raios que se assemelhavam em seu poder penetrante à radiação X recentemente descoberta por Wilhelm Roentgen em 1895. Além disso, ele descobriu que essa radiação não dependia de uma fonte externa de energia e parecia ser espontaneamente emitida pelo urânio. Curiosa desse fenômeno, Marie Curie decidiu investigá-lo como objeto de pesquisa de sua tese, fazendo um estudo sistemático sobre os “raios misteriosos do urânio”.

Cerca de 15 anos antes, Pierre e seu irmão mais velho, Jacques, inventaram um novo tipo de eletrômetro, um dispositivo para medir correntes elétricas extremamente baixas. Marie então usou o eletrômetro de Pierre para medir as fracas correntes que passavam pelo ar bombardeado pela radiação produzida pelo urânio. Ela conseguiu fazer medições reprodutíveis apesar de suas condições laboratoriais precárias. Seus estudos levaram-na a concluir que a emissão do urânio poderia ser uma propriedade atômica desse elemento e relacionada à sua própria estrutura atômica. Marie também testou outros elementos conhecidos para determinar se eles fariam o ar conduzir melhor a eletricidade e, em 1898, suas pesquisas a levaram a concluir que o tório, assim como o urânio, emitiam a radiação observada por Becquerel e que essa emissão parecia também ser uma propriedade atômica. Para descrever o comportamento do urânio e do tório Marie Curie cunhou a palavra “radioatividade” – baseada na palavra latina para denominar “raio”. Esses estudos foram realizados em colaboração com Pierre. Seu artigo, apresentando um relato breve e simples de seu trabalho, foi apresentado em 12 de abril de 1898 por seu supervisor Gabriel Lippman e, em 1903, ela recebeu seu doutorado pela Universidade de Paris.

Os achados científicos envolvidos nos estudos da radioatividade desenvolvidos nesse período levaram Marie Curie, Pierre Curie e Henri Becquerel ao Prêmio Nobel de Física em 1903 “Em reconhecimento aos extraordinários serviços prestados pelas suas pesquisas conjuntas sobre os fenômenos de radiação descobertos pelo Professor Henri Becquerel”.

Diploma do Prêmio Nobel de 1903 (Por Sofia Gisberg, uploaded and retouched by Jebulon)

Trabalhando com o mineral Pechblenda (variedade, provavelmente impura, de uraninita, um mineral que é composto principalmente de óxido de urânio), observou que ele era quatro vezes mais ativo que o próprio uranio, concluindo que esse mineral (e outros com os quais também trabalhou) continham quantidades de outras substâncias que deveriam ser mais ativas que o urânio. Na busca sistemática por essas substâncias, em 1898, Marie e seu marido publicaram um documento conjunto anunciando a existência de um elemento muito semelhante ao bismuto que foi denominado por eles de Polônio (batizado em homenagem a seu país natal). Em dezembro do mesmo ano, anunciaram também a existência de um segundo elemento, esse muito semelhante ao Bário, que foi batizado de Rádio, o qual foi definitivamente isolado na forma de metal puro a partir da Pechblenda em 1910.

Os achados relativos à descoberta desses dois novos elementos levaram Marie Curie ao Prêmio Nobel de Quimica em 1911 “Em reconhecimento aos seus serviços prestados ao avanço da química pela descoberta dos elementos rádio e polônio, pelo isolamento do rádio e pelo estudo da natureza e dos compostos deste elemento notável.”

Diploma do Premio Nobel de 2011

Em 1900 Marie Curie tornou-se a primeira mulher a ser contratada como docente na “Escola Normal Superior”, mesmo ano em que seu marido se tornou professor na Universidade de Paris.

Embora os achados científicos do casal Curie fossem impressionantes, muitas vezes Marie era impedida de falar sobre sua pesquisa por ser mulher e seu marido discursava sozinho. Por exemplo, em 1903 Pierre discursou sobre a radioatividade na Royal Institution em Londres.

Em 19 de abril de 1906, Pierre Curie foi atropelado por uma carroça puxada por cavalos, em Paris, e morreu. Marie ficou sozinha com duas filhas, Irène de 9 anos e Ève de 2; nessa época ela tinha 38 anos. Na sequência (1908) ela se tornou a primeira mulher nomeada para lecionar na Sorbonne. Naquele mesmo ano, depois de alguns meses, em novembro de 1906, ela deu sua primeira palestra.

Ela chefiou o Instituto do Rádio (Institut du radium, atualmente Institut Curie), um laboratório de radioatividade criado para ela pelo Instituto Pasteur e a Universidade de Paris (1909).

Ao longo da I Guerra mundial, ela esteve intensamente empenhada em equipar mais de 20 caminhões, que funcionaram como hospitais de campanha móveis, e cerca de 200 instalações fixas com aparelhos de raios X. Ela mesma treinou as pessoas no uso e na tecnologia de raios X. Além disso, ela mesma dirigiu esses caminhões para onde eles eram necessários. Uma de suas filhas, Irène, aos 18 anos, também se envolveu com a tarefa e ambas, trabalhando durante a guerra nessas condições precárias, foram expostas a grandes doses de radiação.

Marie curie em um dos seus veículos moveis de raios X em 1915

Em 1911, mesmo ano de ter recebido o prêmio Nobel de química Marie Curie foi convidada a participar da Primeira Conferência Solvay a qual atenderam os mais proeminentes cientistas da época.

Primeira Conferência Solvay (1911).
M. Curie (sentada na frente de Rutherford) confere alguns documentos
com Henri Poincaré (sentado a sua direita).
Em pé logo atrás A. Einstein tendo a sua direita Paul Langevin, colaborador de M. Curie.

Em 1922, tornou-se membro da Academia Francesa de Medicina e tornou-se também membro do recém-criado Comitê Internacional de Cooperação Intelectual da Liga das Nações. Ela esteve no Comitê desta liga até 1934 e contribuiu para a coordenação científica da Liga com outros pesquisadores de destaque, como Albert Einstein, Hendrik Lorentz e Henri Bergson.

Além disso, ela viajou para diferentes países do mundo, aparecendo publicamente e dando palestras, como por exemplo, Estados Unidos, Bélgica, Brasil, Espanha e Tchecoslováquia, além da Polônia, seu país natal, onde participou de uma cerimônia de lançamento das bases do Instituto do Rádio de Varsóvia, inaugurado em 1932, tendo como diretora a sua irmã Bronisława.

Em 1930, ela foi eleita para o Comitê Internacional de Pesos Atômicos, no qual serviu até sua morte.

Na última década de sua vida Marie Curie testemunhou as pesquisas de sua filha Irène e de seu genro Frédéric Joliot a respeito da descoberta da radioatividade artificial. Posteriormente essas pesquisas levaram o casal ao Prêmio Nobel de Química em 1935 (“em reconhecimento à sua síntese de novos elementos radioativos”). Infelizmente, Marie Curie morreu de leucemia em 4 de julho de 1934 sem poder testemunhar esse feito de sua filha.

Em seu último ano, ela trabalhou em um livro denominado de Radioatividade, que foi publicado postumamente em 1935.

Marie Curie e sua filha Irene em 1925