26a RASBQ - Simpósio: "Da Química à Transdisciplinaridade".
Otavio Aloisio Maldaner - DBQ, UNIJUÍ, RS. maldaner@unijui.tche.br
Educação em Química: uma Ação Transdisciplinar
Resumo
Enquadra-se este Simpósio em idéia de integração, um conceito que merece ser aprofundado. Integradas, as partes compõem algo novo, sem deixar de lado as suas origens e nem o seu nível de evolução independente. Novo é o objeto de estudo, que implica em nova metodologia, novas produções científicas e novas formas de validação. As partes a serem integradas são as disciplinas. A integração de disciplinas é tentada em muitos âmbitos, mais raramente em um contexto de uma Sociedade que se constitui em torno de um campo de conhecimento, a Química, no caso. Com certeza estamos sentindo a necessidade de, novamente, nos reunirmos em torno de um objeto comum de estudo, que foi deixado de lado com as inúmeras disciplinas constituídas nos últimos anos, e mesmo as diversas divisões dentro da SBQ. Tanto as novas disciplinas como as divisões mostraram-se necessárias e permitiram a evolução do conhecimento em múltiplas direções. A integração é necessária, hoje, e poderá ser buscada de diversas formas. No campo epistemológico temos instrumentos teóricos ou conceitos que permitem olhar as possibilidades de integração, como são a (trans)(multi)(inter)disciplinaridades. Há particularidades e evoluções históricas naturais em cada um destes conceitos e vou ater-me ao de transdisciplinaridade, por ser objeto do Simpósio. Para essa forma de integração disciplinar busca-se um método comum de estudo e trabalho entre os envolvidos no Programa. Cria-se um objeto ou fato comum em que as disciplinas se colocam em comum, começando a adquirir novos sentidos em novo contexto. O objeto comum, diferente da preocupação disciplinar, é complexo e único, criando-se em torno dele, com o tempo, uma nova ciência, que será duplamente alimentada: pela evolução das disciplinas e pela evolução da nova ciência em construção. O resultado será a compreensão sempre melhor do objeto complexo, com a conseqüente solução de problemas, aplicações tecnológicas e avanço teórico. Muitos exemplos no campo da Química estão nesse processo. Pode-se citar a Química Ambiental como exemplo.
Cabe-me desenvolver um pouco mais a compreensão transdiciplinar do fenômeno social Educação, mais especificamente Educação Química. No campo educacional formal somos todos um pouco mais reacionários do que em outras ciências. Penso que isso acontece mais pela crença que temos na concepção cientificista do mundo natural e social do que por algum princípio metafísico ou sociológico. Pode ser, também, por falta de dedicação ao assunto, pela pouca importância que damos à educação diante das muitas preocupações que temos nos programas que envolvem mais a Química do que a formação dos químicos e dos educadores em/pela Química. A superação de uma concepção cientificista reduz a crença na possibilidade de soluções técnicas simples para situações reais, naturalmente complexas, como são os problemas ambientais ou educacionais. Como químicos sabemos a tremenda influência que tem a presença de simples traços de alguma substância ou elemento indesejável na rota de uma síntese ou na leitura de um resultado analítico. A nova postura científica exige que se aceite os objetos complexos e se busque formas novas de produzir soluções, que não as derivadas de soluções técnicas produzidas fora do contexto, e se discuta a validade, e em que extensão, de soluções e teorias novas. Um resultado fora dos padrões disciplinares, digamos um resultado analítico para um problema ambiental, poderá ser de grande significado e de grande significação na prática. O mesmo vale para a formação em Química.
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