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"A papel da Química na Ligação Brasil-Portugal em tempos de globalização"

 

Prof. Francisco Radler de Aquino Neto (IQ - UFRJ)

e-mail: radler@iq.ufrj.br


É inadmissível a falta de uma maior aproximação entre Brasil e Portugal em todas as instâncias, exceto a sentimental e a cultural. Isso ocorre porque ambas as comunidades estão voltadas para os "irmãos" do Norte, mais ricos e desenvolvidos; como se aqueles modelos de riqueza e desenvolvimento fossem necessariamente os mais adequados para nossos países. Eis a grande balela da globalização. Ao tudo englobar, homogeneizar, mas principalmente deter o controle da situação e do conhecimento, uns poucos determinam o destino de todos. E com a clara tendência de reservar a melhor parte para si mesmos. No afã de nos igualar ao inigualável, já que não damos as cartas desse jogo mais viciado que o de cassinos clandestinos, esquecemo-nos do passado de glórias, e da ausência de barreira lingüística ou psicológica que impeça uma profícua e eqüitativa interação entre as nações de língua portuguesa. Esse neocolonialismo fruto da conveniência, subserviência e concupiscência das elites, só pode ser superado pela ação determinada das forças produtivas, seus órgãos de classe e, principalmente, das Associações científicas. A reversão dessa situação é emergencial face a cristalização dos blocos dominantes como forma de preservação dos ganhos de qualidade das nações desenvolvidas, cuja perpetuação depende da submissão das nações periféricas. A coesão lingüística, histórica e social possibilita a formação do "Bloco português" (quem sabe fortalecido pelo Espanhol, "Bloco Ibero-americano") como contraponto aos Blocos Norte-Americano, Europeu e Norte-Asiático (que certamente será constituído). Nesses tempos difíceis, a Globalização de fato vem promovendo a individualização (face a luta pela sobrevivência) do ser humano e mesmo das sociedades, a despeito do discurso unificador. A palavra de ordem que deveria ser Universalização (do conhecimento, direitos a saúde, educação, vida digna) foi substituída pela marca do capitalismo selvagem agora destituído de modelo alternativo. Nesse modelo são Globalizados os prejuízos, mas setorizados os benefícios e, em especial, atribuindo-se o ônus de saldar a fatura do bem estar das nações mais ricas, aos países periféricos. Assim, consolidar um bloco capaz de se contrapor à "globalização" selvagem ora vigente é essencial para se atingir a justiça social em nossas sociedades. Se Portugal é o "Portal" (da Europa) para essa globalização; o Brasil é seu suporte. Separadamente são insuficientes para inserir o bloco português (hispânico?) no tabuleiro de "go" onde as riquezas declinantes do mundo serão divididas. Atividades realmente universais deveriam servir de mote para a pré-globalização Brasil-Portugal: quais seriam elas? Poder-se-ia pensar na Física que está presente na origem de tudo. Mas, a Física atrai nosso lado esotérico, místico, do espetacular ("espetaculoso"). Desenvolve nosso imaginário e se fixa em nossas preocupações cósmicas e cármicas ("Big bang", força da gravidade, etc.). Estando pois, ainda, distante da política de resultados palpáveis necessários ao imediato resgate da miséria em que se encontram nossos povos. Por outro lado a Química é a Ciência do Concreto, de tudo o que de real existe, estando presente em tudo que diz respeito a nosso dia-a-dia. Sendo palpável, deveria permitir inúmeros laços de aproximação, colaboração e fixação das relações Brasil-Portugal, iniciando nossa inserção segura no processo de globalização. A ligação química brasileiros-portugueses já é fortíssima. Afinal pelo menos 40% do código genético brasileiro é português! Por outro lado a ligação química Brasil-Portugal é reflexo das demais interações, isto é, tão rara quanto a ilustrada no logotipo desta 23a Reunião Anual: Pt - Br. Como ponto de partida, precisando selecionar no âmbito da Química um segmento que representasse a melhor via globalizadora, é natural fixarmo-nos na Cromatografia. Por sua vez (sem dúvida nas suas diversas formas e assemelhados) a mais universal das técnicas, depois da pesagem, determinação de volume e extração; mas com um impacto inigualável sobre os mais diferentes setores que afetam o mundo moderno. À parte certas áreas muito específicas da química, todas empregam a "Cromatografia". Em especial suas aplicações extremamente relevantes em outros setores, tais como meio ambiente, energia, petroquímica e suas conseqüências, farmácia, bioquímica, biotecnologia, medicina em suas diversas especialidades, química forense, química fina, tratamento de rejeitos, esgoto, água potável, reciclagem, descontaminação, habitação, transporte, vestuário, etc. A participação efetiva da Cromatografia na solução de problemas globais ainda que regionais, demonstra que há múltiplas possibilidades de aproximação entre Brasil e Portugal. Alguns exemplos ilustrativos foram selecionados de apresentações nesta 23a RASBQ, vinculadas ao LADETEC-IQ/UFRJ. Um levantamento embrionário de instituições, suas áreas de atuação e intercâmbios existentes, será apresentado visando estimular o debate sobre a conveniência e oportunidade de dinamizar as relações "portugofônicas". Caberá à próxima geração de profissionais da química, a tarefa de implementar essas ações, resgatando o orgulho, dignidade, independência e justiça social dos povos portugueses.