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"Ciência como cultura - paradigmas e implicações epistemológicas na educação científica escolar"

Maria Eduarda Vaz Moniz dos Santos
Centro de Investigação em Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
monizsantos@clix.pt

A expressão “ciência como cultura” embora aparentada com outras expressões, como as de cultura científica e de alfabetização científica, é mais abrangente do que estas. Assenta no pressuposto de que a ciência é uma valiosa componente da cultura humana. Remete-nos para a necessidade de fazer a ponte, em termos culturais, da comunidade científica para o cidadão comum. Aponta para um diálogo de saberes e para uma vivificação mútua de diferentes formas de cultura (científica, tecnológica, filosófica, literária, artística, religiosa, senso comum...), nomeadamente, para linhas culturais de força da comunidade envolvente.
Ensinar ciência como cultura tem como requisito e como instrumento gerador a educação CTS, quer pela via da popularização ciência, a nível não formal, quer pela via da educação escolar. Aposta numa estreita ligação entre o conhecimento científico e o mundo a que ele diz respeito e na co-construção do saber e da cidadania. Requer maior atenção a aspectos funcionais e operacionais da ciência. Demarca-se de ópticas vincadamente académicas e aproxima-se de ópticas baseadas nas realidades quotidianas. Propõe reflexões sobre o estatuto e propósitos da tecnociência e denuncia metas e valores que a ligam à ideologia do positivismo iluminista, ao pragmatismo comercial e ao consumismo. Incita a modos de articular ciência/tecnologia com a sociedade e a ponderar as ambivalências éticas de tais ligações. Ajuda a dar sentido à participação do cidadão no processo de tomada de decisões. Questiona o valor, limites e contradições da ciência, sem impedir o reconhecimento do valor e especificidade das diferentes ciências, sem conduzir ao relaxamento na ordem e rigor do conhecimento científico e sem nos impedir de ponderar o grande valor de um conhecimento que está constantemente a pôr-se em causa, a problematizar as suas “certezas”, a exigir provas e contra-provas para os seus discursos; valor que o torna único, mas não universal.
Encarar e apreciar a ciência como elemento da cultura requer importantes reformulações na nossa forma de pensar a ciência, a tecnologia, a educação, a cidadania e, em particular, as ligações ambivalentes da ciência à tecnologia e destas à sociedade. Razões de natureza pedagógica, utilitária, democrática, cívica, cultural e ética, requerem mudanças paradigmáticas e têm importantes implicações epistemológicas na educação científica escolar. Neste sentido, são propósitos desta reflexão conjunta pensar sobre: a) obstáculos epistemológicos que, por favorecerem a lógica da monocultura, se opõem à implantação da ainda frágil ciência como cultura; b) estratégias epistemológicas que apontam para uma diversidade de práticas culturais e para “constelações” de conhecimentos interactivos propícios à reconfiguração do ser através do saber; c) imperativos que nos forçam a (re)pensar as bases epistemológicas adequadas a mudanças paradigmáticas e que traduzem a dinâmica e a complexidade da evolução das matrizes que, actualmente, sustentam a ciência e a educação científica escolar.


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