OXIGÊNIO
Peça teatral de Carl Djerassi e Roald Hoffmann
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Atores da Peça Oxigênio
Sérgio Cantú
Gabriella Allegri
André Mussoi
Nakédia Maysa
Thiago Messias
Monique Gonçalves
Mauro Braga
Gabriela Mendonça
Queli Aparecida
Rafael Ourives
Rodrigo Oliveira
Márcia Alves
Equipe Técnica de Teatro
Mariangela Cantú - diretora
Marcelle Bretas
Marcelle Paciello
Maria Gorete Silva
Anderson Lima
A peça tem como tema a questão da prioridade da descoberta científica e da ética na ciência. Trata-se de uma ficção que mistura protagonistas históricos reais com personagens fictícios modernos. O Comitê Nobel de Química reúne-se em Estocolmo para decidir a respeito da concessão de um Prêmio Nobel retroativo, em comemoração do centenário do Prêmio Nobel, no ano de 2001. Depois de alguma discussão, decide-se que o prêmio será dado ao descobridor do oxigênio. Só que há três candidatos, Lavoisier, Scheele e Priestley.
Personagens históricos
Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794): químico, financista, fermier général, membro influente da Academia das Ciências da França. A Ferme Générale, a que pertenceu, era uma associação de financistas que cobrava impostos em nome do Rei, mediante comissão, e também participava intensamente da vida econômica do país. Como químico, mostrou que o ar não é uma única substância, mas compõe-se de oxigênio e nitrogênio, determinando também seus percentuais. Decompôs a água em oxigênio e hidrogênio, demonstrando sua composição, e sintetizou-a a partir dos mesmos gases. Deu uma explicação completa e satisfatória para o fenômeno da combustão, mostrando que ela consiste na combinação do oxigênio com o corpo que arde. Também explicou o processo análogo da redução de um óxido metálico ao metal correspondente como a remoção do oxigênio que estava unido ao metal. Desta maneira, apresentou uma teoria muito mais satisfatória que a Teoria do Flogisto (ver abaixo), sendo capaz de dar conta de muitos fenômenos tanto qualitativa como quantitativamente. Explicitou o Princípio de Conservação da Matéria, que leva seu nome, e deu a primeira definição operacional de elemento químico. Estabeleceu de vez que a explicação de um fenômeno químico só está completa se for apresentada qualitativa e quantitativamente. Estabeleceu as bases da Termoquímica, junto com Laplace, bem como da Teoria da Respiração e da Fotossíntese. Propôs, junto com colaboradores, uma nova nomenclatura química, que se tornou a base de nossa nomenclatura moderna. Também executou muitos trabalhos de natureza aplicada, como novos processos de fabricação de pólvora, que tornaram a França menos vulnerável ao poderio bélico de seus vizinhos. Foi preso, condenado e guilhotinado sumariamente em 1794 sob a acusação de malversação de fundos públicos, num processo altamente controvertido.
Marie Anne Pierrette Paulze Lavoisier (1758-1836): filha do riquíssimo Jacques Paulze, também Fermier Général, que viria a ser executado em companhia do genro. Marie Anne, que se casou aos 13 anos com Lavoisier, tivera uma educação esmerada. Estudara línguas, desenho, gravura e pintura, o que foi importantíssimo em seu papel de colaboradora do marido, traduzindo-lhe as obras dos químicos ingleses e executando os desenhos que vieram a constituir as magníficas gravuras que ilustram o Tratado Elementar de Química de Lavoisier. Algum tempo após a morte de Lavoisier, casou-se novamente com o Conde Rumford, cientista brilhante e grande aventureiro. O casamento durou pouco, desfazendo-se logo.
Joseph Priestley (1733-1804): um dos mais brilhantes químicos experimentais britânicos do século 18. Descobriu o nitrogênio e seus três principais óxidos, o cloreto de hidrogênio, o monóxido de carbono, a amônia e outros gases. É um dos descobridores do oxigênio, como se discute nesta peça. Priestley o preparou em 1774 a partir do aquecimento do óxido de mercúrio, chamado na época de mercurius calcinatus, expressão usada na peça. Alguns meses mais tarde, estando em Paris, é convidado a jantar na casa dos Lavoisier, quando descreve para o químico francês o que fizera. No entanto, só em 1775 Priestley demonstra que o gás obtido é diferente do óxido nitroso. Lavoisier repete seu processo com sucesso. Daí advém uma disputa em relação à prioridade na descoberta, pois embora o químico inglês tivesse obtido o oxigênio primeiro, foi Lavoisier quem explicou seu papel nas reações químicas. Priestley era também pastor unitarista, religião que negava o dogma da Santíssima Trindade e, em conseqüência, opunha-se à religião anglicana. Politicamente ele era progressista e grande entusiasta da Revolução Francesa. Em decorrência disso, durante as comemorações do dia 14 de julho de 1791, uma turba destruiu e ateou fogo à casa e ao laboratório de Priestley em Birmingham. Embora ele tivesse conseguido receber uma indenização do governo, ficou muito desgostoso e, três anos depois, emigrou para os Estados Unidos.
Mary Priestley: pouco se conhece a seu respeito. Dedicou-se completamente ao marido e à educação dos filhos. Teve um grande papel em ajudar seu marido a suportar as inimizades granjeadas por suas posições políticas.
Carl Wilhelm Scheele (1742-1786): químico e boticário sueco, tão brilhante como modesto. Descobriu os ácidos arsênico, molíbdico, túngstico, tartárico, múcico, lático, úrico, prússico, oxálico, cítrico, málico, gálico, pirogálico, entre outros. Também descobriu o glicerol, vários ésteres, a caseína, o sulfeto de hidrogênio, o arsenito de cobre, chamado de verde de Scheele, e a ação da luz sobre os sais de prata. Em 1772 obteve o oxigênio ao aquecer uma mistura de nitrato de potássio e ácido sulfúrico. Mais tarde obteve o mesmo gás por vários outros processos. Sua descoberta, contudo, só saiu à luz em 1777, quando foi publicado seu Tratado Químico do Ar e do Fogo. A prioridade de Scheele com relação à obtenção do oxigênio só foi demonstrada em 1892, com a publicação de seus cadernos de laboratório. Apesar de viver modestamente e ter que custear suas experiências de seus parcos recursos, Scheele deixou uma obra notável, de grande experimentalista.
Sara Margaretha Pohl: foi casada com o boticário Pohl, da cidade sueca de Köping. Scheele sucedeu a Pohl no privilégio de ser o farmacêutico local. Não se sabe bem qual foi a relação real entre Scheele e Fru Pohl. Ao pressentir a morte, Scheele se casa com Sara Margaretha para que ela possa herdar o privilégio da farmácia. Dois anos depois ela se casa novamente, também em virtude de disposição expressa por Scheele.
Teoria do Flogisto
A Teoria do Flogisto surgiu com Johann Joachim Becher (1635-1682), desenvolvendo-se e consolidando-se com Georg Ernst Stahl (1660-1734). A palavra flogisto (ou flogístico) vem do grego e designa o princípio da inflamabilidade. O flogisto é aquilo que um corpo perde ao se inflamar. Todos os corpos combustíveis contêm flogisto. O carvão, que é muito rico em flogisto, uma vez que arde quase sem deixar resíduo, pode ser usado como fonte de flogisto para regenerá-lo num corpo que não o possua. Por isso é que se usa carvão para reduzir os óxidos metálicos aos metais originais, restabelecendo o flogisto que eles haviam perdido ao se oxidar (considerando a oxidação de um metal como uma combustão muito lenta). A teoria dava explicações qualitativas muito convincentes. No entanto, como explicar que, quando um metal se oxida, sua massa aumenta, já que ele está perdendo flogisto? Ao insistir numa combinação de explicações tanto qualitativas como quantitativas, pesando sempre os reagentes e os produtos de todas as reações, fossem os produtos sólidos, líquidos ou gases, Lavoisier concluiu que a combustão não implica em nenhuma perda de substância, mas sim na incorporação de alguma coisa àquilo que arde. Ele foi capaz de demonstrar também que aquilo que se incorpora às substâncias combustíveis é o oxigênio. Dessa maneira, ele pôde explicar a natureza de um fenômeno que desafiava os homens desde a descoberta do fogo. A obra de Lavoisier é considerada a culminação do que se convencionou chamar de Revolução Química. A Química que se estabelece a partir daí é o que denominamos Química Moderna. Ao considerarmos a Teoria do Flogisto podemos entender os termos do século 18 ar desflogisticado ou gás desflogisticado, isto é, sem flogisto, muito usados na peça para designar o que Lavoisier viria a chamar de oxigênio. O ar desflogisticado é ávido por flogisto, por isso reage tão bem com substâncias ricas em flogisto, como as substâncias combustíveis.