ESTUDO DA DEPOSIÇÃO DE Hg A PARTIR DA VARIAÇÃO DA RAZÃO Hg/Ti EM TESTEMUNHO DE SEDIMENTOS EM AMBIENTE LACUSTRE REMOTO, LAGOA DO CAÇÓ-MA.

Marcio Lima de Moraes (PG)1, Abdelfettah Sifeddine (PQ)1,2, Luiz Drude de Lacerda (PQ)1

1 - Departamento de Geoquímica - Univ. Fed. Fluminense, Niterói, RJ

2- IRD- Bondy, França

palavras-chave: Hg, sedimentos lacustres, Lagoa do Caçó.

INTRODUÇÃO

Sedimentos lacustres em áreas remotas têm sido utilizados como arquivos da deposição atmosférica de metais, capturando ano após ano registros daqueles contaminantes dispersos via atmosférica. Entretanto, é necessário separar o Hg que ali está depositado, reconhecendo qual Hg foi lixiviado dos solos e qual é derivado somente das deposições atmosféricas (Rasmussem, 1998; Swain et al, 1992; Koening, 1999)

OBJETIVOS:

Este trabalho tem como objetivo, definir a partir de teores de background o quanto variam as cargas de Hg em perfis de sedimentos lacustres. Utilizando para isso razão entre as concentrações de Hg e Ti visando minimizar as influências das entradas de Hg advindo das fontes geológicas locais.

MÉTODOS: Testemunho de sedimentos foi coletado no Lago Caçó, usando-se tubo de acrílico de 50 cm comprimento e 6 cm de diâmetro. Este testemunho foi seccionado ainda no campo, a intervalos de 1 cm. Em cada seção, foram determinadas no laboratório, a densidade e as concentrações de Hg e Ti. Mercúrio foi analisado a partir de extração total com HNO3 :H2SO4 (2:1 v/v) e HCl concentrado feita erlenmeyer com condensador tipo dedo frio. Após repouso por uma noite, a amostra foi aquecida por 1h em banho-maria (70-80 o C) e após resfriamento, fez-se lentamente a adição de solução de KmnO4 (6%). Seguida de solução de persulfato de potássio a 5%. No dia seguinte, o excesso de oxidantes foi reduzido com solução de cloridrato de hidroxilamina (20%) sendo em seguida feita a determinação de Hg em espctrofotômetro de absorção atômica com geração de vapor a frio sendo o agente redutor SnCl2 (2% em HCl 5%, purgado por 30 min, para eliminação de Hg presente). Ti, foi determinado após digestão total da amostra com mistura de (HNO3 :HCl:HF) (1:1:1 v/v) em becher de teflon e determinado por colorimetria.



RESULTADOS: As concentrações de Hg variaram de 37 a 162 ng/g no perfil de sedimentos. Sendo que de 30 a 15 cm de profundidade a concentração média foi de 60± 16 ng/g e da profundidade de 15 cm até a superfície a concentração média foi de 100 ± 33 ng/g. As concentrações médias de Ti foram de 0,2 % ± 0,1 (n=30) e são comparáveis às concentrações médias de Ti referenciadas p/ a crosta que é da ordem de 0,3 % (Wedepohl, 1995). O fator de enriquecimento (FE)=(Hg/Ti)/(Hg/Ti)(crosta)., usado para estimar o quanto as cargas de Hg variaram revelaram abaixo de 15 cm de profundidade um valor em torno de 1, caracterizando um nível de background. Tendo por hipótese que a partir dos 15 cm verificamos o início de incrementos antrópicos, já que, vemos gradativamente um aumento da razão Hg/Ti, até um pico na superfície, com um fator de enriquecimento em relação a crosta terrestre superior a 5. Esses incrementos originam-se sobretudo a partir do aumento da concentração de Hg pela deposição atmosférica, via de entrada deste poluente para o lago remoto em estudo.

Figura 1 – Gráfico de distribuição dos fatores de enriquecimento da razão Hg/Ti (FE) X profundidade em um perfil de sedimentos do Lago Caço/MA


CONCLUSÕES: A análise desse perfil de sedimentos revela um aumento da quantidade de Hg para o topo das camadas. E neste caso, os incrementos originados pela deposição atmosférica, provavelmente pode ser advinda das atividades de mineração na região amazônica nos recentes anos, indicando a influência antrópica neste lago remoto.

BIBLIOGRAFIA:RASMUSSEN, P. E. (1998) Long-Range Atmospheric Transport of Trace Metal: the Need For Geoscience perspectives Environmental. Geology 33:97-108.

SWAIN, E. B.; ENGSTRON, D. R.; BRIGHAM, M. E.; HENNING T. A.;

KOENING, R. (1999) Digging in the Mire for the Air of Ancient Times. Science 284:900-901

Wedepohl, K. H. (1995) The composition of the continental crust. Geochimica et Cosmochimica Acta. Vol. 59, pp1217-1232.