Estudo de espécimens herborizados de Viguiera robusta Gardn. (asteraceae) através da microamostragem de tricomas glandulares.


Karin Schorr (PG), Fernando Batista da Costa (PQ)


Departamento de Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Av. Zeferino Vaz s/n, CEP 14040-903, Ribeirão Preto, SP


palavras-chave: Asteraceae, Viguiera, lactonas sesquiterpênicas


Viguiera robusta Gardn., arbusto anual recorrente nativo do Brasil e encontrado principalmente em regiões de cerrado, pertence à subtribo Heliantheae, família Asteraceae. A tribo Heliantheae, uma das maiores da família Asteraceae, engloba diversas espécies com importância econômica, na terapêutica e que possuem problemas de classificação taxonômica1. Viguiera é o maior gênero da subtribo Helianthinae e possui cerca de 200 espécies e, apesar de haver cerca de 35 espécies descritas no Brasil, muito poucas foram estudadas química e taxonomicamente2.

Como parte dos estudos para a determinação da real posição de V. robusta no gênero, descrito em 1818, inclui-se atualmente alguns estudos como morfologia, fitoquímica e filogenia com base em dados moleculares2. Anteriormente essa espécie já havia sido quimicamente investigada através do emprego de técnicas clássicas de fitoquímica, onde vários terpenos e algumas cumarinas foram isoladas3. Mais recentemente a investigação fitoquímica das espécies nativas desse gênero têm sido feita com base na identificação de lactonas sesquiterpênicas (LST) através da técnica de microamostragem dos tricomas glandulares capitados4,5. As LST são consideradas os marcadores taxonômicos da família e têm sido muito úteis no estudo de gêneros da tribo Heliantheae.

O intuito desse trabalho foi a comparação e avaliação da variabilidade qualitativa dos perfis de LST entre espécimens antigas de herbário e de coletas recentes de V. robusta. Dois indivíduos de diferentes populações foram coletados no mês de abril de 1998 em Brasília - DF (1150 m de altitude) e entre Altinópolis e Batatais - SP (860 m), cujos resultados foram anteriormente discutidos5. Outros dois exemplares, coletados no mês de abril de 1976 e 1978, são oriundos respectivamente dos mesmos locais que aqueles de 1998, tendo sido obtidos a partir de exsicatas depositadas no herbário do Instituto de Biologia da UNICAMP.

Além da microamostragem de tricomas glandulares4,5, duas substâncias foram isoladas a partir de um extrato obtido por solubilização dos tricomas através da rápida lavagem superficial de folhas4.

Quatro LST, budleína A (I), budleína A tiglato (II), atripliciolido angelato (III) e atripliciolido tiglato (IV), comuns a todas as amostras, foram caracterizadas por comparação com um banco de padrões, sendo (I) majoritária e isolada a partir do extrato de lavagem foliar. Um diterpenóide, o ácido caurenóico (V), também comum a todas as amostras e presente em teor significativo, não foi caracterizado apenas através de simples comparação, mas também isolado e identificado a partir do mesmo extrato.

A estabilidade do conteúdo glandular é aqui comprovada através de análises dos espécimens de herbário coletadas e armazenadas por mais de 20 anos em comparação com os exemplares das duas populações da mesma espécie coletados recentemente.

Estudos filogenéticos com base em dados moleculares também apontam uniformidade entre as espécies coletadas em 19982. A uniformidade do perfil químico pode auxiliar na comprovação da identificação botânica e ainda vem reforçar a utilização das LST como marcadores taxonômicos. Não houve variação qualitativa significativa entre as substâncias das diferentes populações, mesmo com vários anos de diferença entre as coletas. Esses resultados também reforçam a utilidade dessa técnica no estudo de espécimens depositados em herbários.


1BREMER, K. Asteraceae: cladistics and classification. Portland, Timber Press,1994.

2SCHILLING, E.E. et al. (2000) Brazilian species of Viguiera (Asteraceae) exhibit low levels of ITS sequence variation. Edinburgh J. Bot., in press.

3DA COSTA, F.B.; VICHNEWSKI, W.; HERZ, W. (1996). Constituents of Viguiera aspilioides and V. robusta. Biochem. Syst. Ecol., 24, 585-587.

4ALMEIDA, G. et al. (1998). Emprego de microanálise no estudo da química da fa­mília Asteraceae através da identificação de lactonas sesquiterpênicas de trico­mas glandulares. In: Resumos, 21a Reunião Anual da SBQ (PN-130).

5TORRE, K.A. et al. (1999). Verification of intraspecific variation of sesquiterpene lactones in Viguiera robusta (Asteraceae) using glandular trichome microsampling. Boll. Chim. Farmaceutico, 138, LII.


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