Estruturando a química para deficientes visuais.

João Augusto de Mello Gouveia-Matos1 (PQ)

Raimundo do Nascimento Dória2 (PQ)

André Freitas3 (IC)

André Moraes Fróes4 (IC)

  1. Coordenação de Curso de Licenciatura - Instituto de Química, UFRJ

  2. Colégio Pedro II – Unidade de São Cristovão

  3. Curso de Licenciatura em Química – Instituto de Química, UFRJ

  4. Colégio Pedro II – Unidade de São Cristóvão

Palavras-chave: deficientes visuais, pedagogia da inclusão, conectividade.


  1. INTRODUÇÃO - A história da educação revela que, até o século XVIII, as noções a respeito de pessoas portadores de deficiência eram basicamente ligadas ao misticismo e ocultismo, não havendo base científica para o desenvolvimento de noções e ações realistas. O conceito de diferenças individuais não era compreendido ou avaliado. As noções de igualdade e mesmas oportunidades para todos eram ainda meras centelhas na imaginação de alguns indivíduos criadores (Mazzotta, 1996). Sob o titulo de Educação de Deficientes são encontrados da época registros de atendimentos ou atenção com vários sentidos: abrigo, assistência, terapia etc. No caso dos cegos, por exemplo, o surgimento da primeira instituição especializada data de 1784. Com o passar do tempo, a experiência mostrou que separar os deficientes via classe ou escola especial contribuiu muito pouco para o crescimento pessoal e cognitivo do deficiente. Tampouco contribuiu para um processo de mudança de atitude e postura por parte da sociedade como um todo, no que diz respeito à consideração desses indivíduos no exercício de seus direitos e deveres como seres humanos e cidadãos (Santos, 1992).

A transformação do paradigma na educação dos deficientes, do princípio da exclusão ao princípio da integração, veio apenas com uma progressão na história das sociedades, caracterizada pela busca cada vez maior da democratização, da garantia dos direitos humanos e de oportunidades justas às minorias com base em princípios igualitários. Educacionalmente, tal busca traduz-se no desenvolvimento dos princípios de “igualdade de oportunidades” e “educação para todos” (Santos, 1992). Na sociedade atual, isto significa que os deficientes têm direito a uma educação que incorpore, entre outros, conhecimentos em ciência e tecnologia, em especial em Química.

No caso do ensino de Química para deficientes visuais, muito pouco pode ser encontrado na literatura. Em visto disso, foi desenvolvido um projeto na área de química orgânica estrutural, a partir das necessidades de representação associadas ao processo ensino-aprendizagem para portadores de deficiência visual.


  1. Objetivos - Desenvolver, junto aos educandos portadores de deficiência visual cursando o ensino médio, recursos didáticos de baixo custo utilizando tecnologias disponíveis, para apoio à aprendizagem dos conceitos de cadeia e conectividade, pré requisitos fundamentais para uma abordagem estrutural da química orgânica.

  1. MÉtodos - A confecção e adaptação dos recursos contaram sempre com a participação crítica de um aluno cego, que cursa o ensino médio no Colégio Pedro II, Unidade São Cristóvão, Rio de Janeiro (observação participante).

  2. O recurso central desenvolvido neste estudo constitui-se na elaboração de um kit formado por uma placa metálica e peças imantadas contendo os símbolos químicos impressos em braile, e a respectiva “tradução à tinta”. Acompanhando este material, foram elaborados textos em braile, com a respectiva "tradução à tinta”, dos conceitos químicos abordados.

A gravação em fitas-cassetes destes textos foi outro recurso utilizado para o educando acompanhar em casa o estudo de química. Textos digitalizados e gravados em arquivos do tipo texto (extensão “txt”) também foram utilizados com esta finalidade, uma vez que estes podem ser “lidos” pelo programa sintetizador de voz “DOSVOX”, amplamente distribuído entre os alunos deficientes visuais.


  1. Resultados - Apesar do caráter preliminar destes estudos, os resultados têm sido animadores: através das mesmas avaliações aplicadas à turma em que está inscrito (videntes), pode-se constatar que o aluno adquiriu igual capacidade de reprodução, criação e compreensão que esta sobre os conceitos de cadeia e conectividade abordados neste estudo. Obviamente tais resultados podem ser reflexos apenas da inserção deste aluno como um membro da equipe, e não das possívies virtudes e qualidades do kit. Dentro do fluxograma do projeto de pesquisa, este será a próxima etapa a ser pesquisada.


  1. Considerações Finais - Para alcançar plenamente seus objetivos, a pedagogia da inclusão exige a possibilidade de participação ativa do deficiente na construção do conhecimento escolar, visto este estabelecer-se socialmente a partir das relações aluno « aluno e alunos « professor. Assim, através das possibilidades de facilitar as interlocuções em sala de aula, já que as peças podem facilmente ser manuseadas também pelos videntes , o kit proposto pretende dar a dinâmica e a versatilidade necessárias para o aprendizado do conceito de conectividade através de representações bidimensionais de estruturas químicas por educandos cegos. Esta interação é ampliada se considerarmos também que o manuseio por alunos videntes implica igualmente no desenvolvimento cognitivo destes últimos.

Deste modo, consideramos que a pesquisa desenvolvida pode vir a contribuir significativamente como um dos elementos para a implantação exitosa da pedagogia da inclusão em nossas escolas de ensino médio.


  1. Bibliografia

SANTOS, M. P. dos. Educação especial, inclusão e globalização: alguma reflexões. Espaço – Informativo técnico e científico do INES. Ano IV, n. 7. p. 13-21, jun. 1997.

SANTOS, M. P. dos. Educação especial, inclusão e globalização: alguma reflexões. Espaço – Informativo técnico e científico do INES, Ano IV, n. 7. p. 13-21, jun. 1997.

Mazzotta, M.J.S. (1996) Educação especial no Brasil: história e políticas públicas – São Paulo, Cortez.