ESTUDO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL DE ÁCIDOS 2-(ALQUILAMINO)-1-FENILETANO-1-TIOSSULFÚRICOS


Liliani Salum Alves Moreira (PG)1, David Lee Nelson (PQ)2, Míriam T.P. Lopes (PQ)3, Dorila Piló-Veloso (PQ)1.


1Departamento de Química – ICEx - Universidade Federal de Minas Gerais

2Departamento de Alimentos – FAFAR - Universidade Federal de Minas Gerais

3Departamento de Farmacologia - ICB - Universidade Federal de Minas Gerais


Palavras-chave: Atividade antitumoral, Ácidos b-aminotiossulfúricos, Sais de Bunte


As células tumorais apresentam alterações nucleares,1 funcionais.2 e estruturais.1 As alterações metabólicas associadas `as estruturais tornam as células tumorais mais sensíveis que as normais às irradiações g e a diversas substâncias clastogênicas. Em geral, os quimioterápicos são mais tóxicos para as células tumorais, pois estão produzindo altas concentrações de substâncias que a célula não consegue metabolizar, ou interferindo na proliferação celular. Sabendo que b-aminotióis apresentaram atividade antitumoral,3 neste trabalho, os ácidos 1-fenil-2-(isopropilamino)etano-1-tiossulfúrico (1), 2-(butilamino)-1-feniletano-1-tiossulfúrico (2) e 2-(ter-butilamino)-1-feniletano-1-tiossulfúrico (3), sintetizados,4 foram testados em painel de linhagens celulares: normal - células de ovário de hamster chinês (CHO), nas concentrações 10-4, 10-5 e 10-6 mol/L, com um tempo de exposição de 96 h -, e tumorais - glioma de rato (C6), melanoma humano (MEWO) e fibroblasto tumorigênico de camundongo (L929), nas concentrações 10-5, 10-7 e 10-9 mol/L. -, onde avaliou-se a inibição da viabilidade celular através do ensaio colorimétrico do MTT.5 Este ensaio é empregado para selecionar substâncias purificadas ou frações de plantas com atividade antitumoral,6 pois avalia diretamente o metabolismo celular e, como consequência, mede a viabilidade celular.

As células foram cultivadas rotineiramente com 5% v/v FBS em meio RPMI 1640 e incubadas em atmosfera úmida com 3% de CO2, a 37 ºC, no escuro. As suspensões celulares das linhagens normal e tumorais foram plaqueadas em microplacas de 96 cavidades contendo 3 x 103 células/cavidade e incubadas nas mesmas condições. Após 24 h, os ácidos b-aminotiossulfúricos 1 a 3 foram adicionados em concentrações entre 10-4 e 10-9 mol/L. O MTT foi adicionado 4 h antes da leitura (50 mg/cavidade). Esta foi realizada por ultravioleta a 600 nm, 48, 72 e 96 horas após a adição dos ácidos 1 a 3. Em paralelo, sob condições de plaqueamento e tempo de incubação idênticos, foi realizado um experimento onde as células foram tripsinizadas, expostas ao azul de tripano e contadas em câmara de Neubauer (n=3 experimentos), avaliando-se o número de células viáveis e correlacionando-as com a absorbância produzida pela redução do MTT. A relação entre as duas medidas foi analisada estatisticamente (teste da independência, p> 0,05). Na padronização do ensaio foram utilizadas substâncias que são empregadas na quimioterapia do câncer, como mitomicina e citarabina, em concentrações de 10-4 a 10-9 mol/L.7 Na avaliação da citotoxicidade em células CHO, os ácidos 1 e 3, apresentaram uma baixa atividade inibitória da viabilidade celular (<40%) na concentração de 10-4 mol/L , sendo que nas concentrações menores não foi observada inibição. Para 2, observou-se uma baixa atividade inibitória da viabilidade celular (11 e 9%), nas concentrações de 10-5 e 10-6 mol/L, respectivamente. Porém, na concentração de 10-4 mol/L, observa-se uma citotoxicidade moderada (63%). Nas células C6 os ácidos 1 a 3 apresentaram baixa atividade antitumoral em todas as concentrações testadas, com inibição da viabilidade celular menor que 40%. Na linhagem celular Mewo, 1 apresentou baixa atividade inibitória da viabilidade celular (máx. 30%), em todas as concentrações testadas, independentemente do período de exposição das células à substância. O ácido 2 apresentou alta atividade inibitória da viabilidade celular (máx. 80%), na concentração de 10-5 mol/L e, nas concentrações de 10-7 e 10-9 mol/L, a atividade antitumoral foi baixa (máx. 33%).Também 3 apresentou baixa atividade inibitória da viabilidade celular (<13%) nas concentrações de 10-7 e 10-9 mol/L. No entanto, 49% de morte celular foi verificada na concentração de 10-5 mol/L em um tempo de exposição de 96 h. Na linhagem celular L929 não foi observada atividade nas diferentes concentrações testadas para nenhum dos ácidos estudados.

A análise dos resultados da atividade antitumoral dos ácidos 1 a 3 permite concluir que 2 apresenta-se como uma substância potencialmente antitumoral, visto que, na concentração de 10-5 mol/L, observou-se uma alta atividade antitumoral (80%) em linhagem celular Mewo. Além do mais, apresentou baixa atividade inibitória da viabilidade celular (11%) em linhagem celular CHO. Ao comparar a atividade de 2 na concentração de 10-5 mol/L com o efeito produzido por mitomicina, na concentração de 10-4 mol/L, pode-se observar que estas são substâncias com atividade equipotente. Assim, 2 é um agente antitumoral dez vezes mais ativo que a mitomicina de uso clínico, para linhagem celular Mewo. Em adição, a baixa atividade antitumoral (<40%) apresentada por 2 em linhagem C6 em todas as concentrações testadas e sua inatividade frente aos ensaios com L929 indicam maior especificidade da atividade antitumoral em relação às células de Mewo.


Bibliografias:

CROCKER, J., Molecule Biology in Hepathology , Chichester: 1ª ed. John Wiley &Sons, 1994.

OBERLEY, L.W.& BUETHER, G.R., Cancer Research., v.39, p.1141-49, 1979.

DOLABELA, M.F. et al, 19ª Reunião Anual da SBQ, SA 005, 1996.

MOREIRA, L.S., 21ª Reunião Anual da SBQ, SA 019, 1998

BELLAMY, W.T., Drugs, v.44, p.690-708, 1992.

6) BOYD, M.R., PPO updates, v.3. p.1-12, 1989.

7) GOODAMN, G. A. ; RALL, T.W.; NEIS,A S. & TAYLOR, P. (Editors), The Pharmacological Basis of Therapeutics, McMillan, New York, p.436-62, 1996.

(CNPq, FAPEMIG, FINEP).