POTENCIAL ALELOPÁTICO DA FRAÇÃO N-BUTANÓLICA E FLAVONÓIDES ISOLADOS DE GLEICHENIA PECTINATA WILD (P.R.) SOBRE SEMENTES DE LACTUCA SATIVA VAR. GRAND RAPIDS

Marize Terezinha Lopes Pereira Peres (PQ)1*, Sônia Corina Hess (PQ)2, Moacir Geraldo Pizzollatti (PQ)3, Maike Hering de Queiroz (PQ)4, Franco Delle Monache (PQ)5, Rosendo Augusto Yunes (PQ)3.

1*Departamento de Ciências Exatas e Biológicas, Campus de Dourados - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Caixa Postal 322, CEP 79825-070, Dourados-MS, mperes@ceud.ufms.br; 2Departamento de Hidráulica e Transportes, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; 3Departamento de Química, Universidade Federal de Santa Catarina; 4Departamento de Botânica, Universidade Federal de Santa Catarina; Istituto di Chimica e Chimica Clinica, Università Cattolica del Sacro Cuore, Roma, Itália.

Palavras-chaves: Gleichenia pectinata, alelopatia, flavonóides

INTRODUÇÃO

Gleichenia pectinata Wild (P.R.) (Gleicheniaceae), popularmente conhecida como “feito-prego”, forma associações que caracterizam-se pela forte dominância desta espécie, apresentando um cortejo florístico reduzido, o que sugere a liberação de aleloquímicos (QUEIROZ,1994).

Em ensaios de laboratório com o extrato aquoso de G. pectinata observou-se estímulo na germinação de Clidemia hirta (Melastomataceae) e inibição na germinação de Lactuca sativa var. Grand rapids (Compositae) (; PERES et al, 1998).

OBJETIVO

Os resultados promissores obtidos com o extrato aquoso serviram como estímulo para que fossem realizados estudos químicos e biológicos com a fração n-BuOH do extrato MeOH de G. pectinata sobre a germinação e crescimento de L. sativa var. Grand rapids, descritos no presente trabalho.

MÉTODOS

Frondes jovens e verdes de G. pectinata foram coletadas em três estações do ano (outono, inverno e primavera) nas encostas da localidade de Santo Antônio de Lisboa (Florianópolis-SC), a uma altitude de 184 m, correspondendo fitossociologicamente a um gleichenietum pectinatae. O material vegetal foi identificado pela botânica Dra. Maike H. Queiroz, e uma excicata depositada no Herbário Flor do Horto Botânico da Universidade Federal de Santa Catarina.

As frondes jovens coletadas no outono (1,4 Kg) foram maceradas em MeOH. O extrato bruto (174,6 g) foi particionado com hexano (0,51 g), AcOEt (2,6 g) e n-BuOH (24,2 g). A fração n-BuOH foi submetida à cromatografia em coluna (sephadex LH-20, MeOH-água, 9:1), obtendo-se uma mistura que foi recromatografada (silicagel 60, CHCl3/MeOH 8:2), obtendo-se o ácido siquímico (145 mg).

As frondes verdes coletadas no outono (586 g) foram maceradas em MeOH. O extrato bruto (42,7 g) foi submetido à cromatografia em coluna (silicagel 60, hexano/AcOEt (gradiente) e MeOH). A fração eluída com MeOH foi particionada com AcOEt (1,23 g) e n-BuOH (5,3 g). A fração n-BuOH foi purificada por CC (silicagel 60, CHCl3/MeOH, gradiente). As frações similares foram reunidas e submetidas à cromatografia flash (silicagel 230-400 mesh, AcOEt/MeOH, gradiente), obtendo-se campferol (46 mg) e quercetina (16 mg). Os compostos isolados foram identificados por meio de técnicas espectrais (UV, IV, RMN) e espectrometria de massas.

As frações n-BuOH e os compostos puros foram dissolvidos em solvente apropriado, nas concentrações desejadas, e 1 mL impregnados em discos de papel filtro Whatman No 1 (f 5,5 cm) e colocados em placas de Petri. Após a evaporação do solvente, Tween 80 foi adicionado (100 mg/mL; 1,5 mL) e o sistema deixado em repouso por uma noite. Posteriormente, cada disco de papel recebeu 50 sementes distribuídas aleatoriamente (BRASIL, 1992). A germinação foi conduzida em germinador com condições de luz e temperatura constantes (25oC). As leituras para avaliação do percentual de germinação foram diárias, enquanto que as medidas do comprimento do hipocótilo e da radícula ocorreram 72 horas após a germinação. Estabeleceu-se como critério de germinação a protusão radicular. Os dados obtidos foram submetidos ao teste de comparação de duas proporções sobre duas amostras independentes dentro do programa STATITCF, versão 5.

RESULTADOS E CONCLUSÕES

Os extratos n-BuOH das frondes jovens e verdes, coletadas nas estações do outono, inverno e primavera, na concentração de 3,84%, retardaram e inibiram a germinação de L. sativa Var. Grand rapids, sendo a fração das frondes jovens coletadas no inverno a mais ativa (26% de inibição da germinação). A quercetina (1,58 x 10-2) e o campferol (1,67 x 10-2) não interferiram no comportamento germinativo das sementes ensaiadas. O ácido siquímico (1,0 x 10-2 M) inibiu a germinação de L. sativa em 10%, resultado similar ao observado para a fração n-BuOH da fronde jovem coletada no outono, de onde este composto foi isolado. Os extratos n-BuOH inibiram o crescimento da radícula e do hipocótilo, sendo a fração da fronde jovem coletada na primavera a mais ativa (91,1% de inibição do crescimento da radícula e 78,6% do hipocótilo). O ácido siquímico (0,01M) estimulou o crescimento da radícula para todas as concentrações ensaiadas (0,01M; 73,6 %). Ao contrário, a quercetina inibiu o crescimento da radícula (5,0 x 10-4; 54,5%) e do hipocótilo (5,0 x 10-4; 21,8%). O campferol não exerceu influência sobre o crescimento da radícula e do hipocótilo de L. sativa.

Os resultados obtidos colocam G. pectinata como uma fonte potencial de aleloquímicos, podendo ser útil na pesquisa de novos herbicidas ou reguladores naturais de crescimento.

BIBLIOGRAFIA

QUEIROZ, M. H. Tese de doutorado em ciências florestais. École Nationale du Génie Rural, des Eaux et des Forêts. Nancy-França, 1994.

PERES, M.T.L.P. et al. Pesquisa Agropecuária Brasileira. V.33, n. 2, p. 131-137, 1998.

BRASIL. Ministério da Agricultura. Regras para a análise de sementes. 1992.



UFMS, PADCT/CAPES, CNPq.