ISOLAMENTO E DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIPLASMÓDICA DE UM LABDANO DE Alomia myriadenia (ASTERACEAE)


Elita Scio (PG)1,3; Tânia Maria de Almeida Alves (PQ)1; Antoniana Ursini Krettli (PQ)2; Lindomar Soares (PG)2; Young Geun Shin (PQ) 4; Geoffrey A. Cordell (PQ) 4; Carlos Leomar Zani (PQ)1


  1. Laboratório de Química de Produtos Naturais (LQPN). Centro de Pesquisas René Rachou. FIOCRUZ – Belo Horizonte

  2. Laboratório de Malária (LM). Centro de Pesquisas René Rachou. FIOCRUZ

  3. Departamento de Bioquímica. Instituto de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Juiz de Fora.

  4. Department of Medicinal Chemistry and Pharmacognosy. College of Pharmacy. University of Illinois at Chicago. EUA


Palavras-chaves: diterpeno, Plasmodium falciparum, Alomia myriadenia


Introdução

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 300 milhões de pessoas estão infectadas com pelo menos uma espécie de protozoário do gênero Plasmodium, causador da malária. Estima-se que a mortalidade na Amazônia brasileira seja em torno de 6 mil a 10 mil pessoas por ano (WHO, 1993). Com o aparecimento da resistência do P. falciparum aos tratamentos convencionais, várias drogas, inclusive produtos naturais vêm sendo testados contra o Plasmodium, sendo que a artemisinina, isolada de Artemisia annua tem sido amplamente utilizada (Phillipson e Wright, 1991), apesar do aparecimento de cepas tolerantes ao tratamento. O LQPN e o LM, tem buscado triar extratos vegetais e micromoléculas naturais ou sintéticas, que possam ser úteis no controle desta moléstia (Alves e cols., 1997; Zani e cols., 1997). No ensaio in vivo, com camundongos experimentalmente infectados com o P. berghei, o extrato etanólico das partes aéreas de Alomia myriadenia Schultz-Bip. (Asteraceae) mostrou-se parcialmente ativo na dose de 1000 mg/kg. Esta é a primeira vez que esta espécie vegetal é investigada.


Objetivos

  1. Isolar e identificar os constituintes químicos do extrato de A. myriadenia.

  2. Verificar a atividade antiplasmódica in vitro das substâncias isoladas.


Métodos

Isolamento: o extrato etanólico foi suspenso em uma mistura de CH3OH/H2O (1:1) e submetido a partição com hexano e com CH2Cl2. Esta última foi cromatografada em cromatógrafo Shimadzu LC10A com coluna semipreparativa Shimpak ODS, eluída com acetonitrila (70%). Um sólido obtido, foi recristalizado em CH3OH/H2O.

Identificação estrutural: utilizando-se dados de RMN, UV, IV e EM.

Ensaio biológico: Foi utilizado o isolado de P. falciparum BHz 26/86, originário de Candeias (Rondônia) e adaptado para cultivo contínuo de acordo com a técnica descrita por Tragger e Jensen (1977). Este modelo apresenta boa correlação com o modelo murino.

Resultados

Tabela: Atividade in vitro de 1 contra P. falciparum.

Substância

Concentração


% redução da parasitemia

Cloroquina

320 nM

84


80 nM

73


20 nM

57




1

160 µM

100


80 µM

100


40 µM

94


Como pode ser visto na Tabela, esta substância mostrou-se ativa no ensaio in vitro com o P. falciparum sendo, todavia, bem menos ativa que a cloroquina. O espectro de massas mostrou [M+H]+ em 319 dalton (100%), compatível com a fórmula molecular C20H30O3. A fórmula mínima foi corroborada pelos dados de RMN (­1H, ­13C DEPT, HMQC, HMBC), que nos permitiu propor a estrutura do diterpeno labdano 12-hidroxi-labda-7,13-dien-15,16-olído (1). A seguinte atribuição de sinais foi proposta: RMN1H: 5,49 d (H-C7); 1,73 d (H3 -C17); 4,76 d (H-C12); 2,15 d (OH); 5,97 d (H-C14). RMN13C: 13,7 (CH3); 21,8 (CH3); 22,7 (CH3); 33,02 (CH3); 70,2 (C12); 123,8 (C7); 135,15 (C8); 171,4 (C13); 115,8 (C14); 173,5 (C15).


1


Conclusões

A substância 1 apresentou atividade biológica antiplasmódica significativa e sua CI50 deverá ser determinada. Resta determinar se esta substância é inédita como produto natural. Outras substâncias estão em fase de isolamento e identificação estrutural e também terão suas atividades antiplasmódicas avaliadas.


Bibliografia

Alves, T. M. A., T. J. Nagem, et al. (1997). “Antiplamodial triterpene from Vernonia brasiliana (L.) Druce.” Planta Medica 63(6): 554-555.

WHO (1993). Tropical Disease Research. Geneva, World Health Organization.

Zani, C. L., E. Chiari, et al. (1997). “Anti-plasmodial and anti-trypanosomal activity of synthetic naphtho[2,3-b]thiophen-4,9-quinones.” Bioorg. Med. Chem 5(12): 2185-2192.

FIOCRUZ/PRONEX/CAPES/CNPq