ESTUDO QUÍMICO PRELIMINAR DE

Pera glabrata (EUPHORBIACEAE)

Tânia Maria de Almeida Alves (PQ) e Carlos Leomar Zani (PQ)

Laboratório de Química de Produtos Naturais (LQPN)

Centro de Pesquisas René Rachou. FIOCRUZ – Belo Horizonte

Palavras-chaves: cumarina; Pera glabrata; Euphorbiaceae

Introdução

Diversas partes de Pera glabrata (Sch.) Baill., uma espécie da família Euphorbiaceae, foram coletadas na Mata Atlântica. Ensaios preliminares mostraram que o extrato em CH₂Cl₂/CH₃OH (1:1) da casca do galho causou a lise de formas promastigotas de Leishmania braziliensis (Torres-Santos et al., 1994) e inibiu a proliferação de linfócitos em sangue periférico humano (resultado não publicado). Estudos realizados na Bolívia mostraram que P. benensis era utilizada por indígenas para o tratamento de leishmaniose cutânea, atividade esta que foi atribuída a naftoquinonas (Fournet et al, 1992). Estes resultados, aliados à ausência de estudos químicos anteriores desta espécie, nos estimularam a realizar este trabalho.

Objetivos

Isolar e identificar constituintes químicos do extrato de Pera glabrata.

Métodos

Isolamento: Cromatografia em colunas abertas de sílica gel utilizando-se solventes de polaridade crescentes. As purificações finais foram feitas por CLAE em coluna de sílica gel (0,46 x20cm), eluída a 1ml/min com diclorometano-hexano em várias proporções e detecção no ultra violeta a 254 nm. Os sólidos obtidos foram recristalizados e/ou eluídos em coluna de Sephadex-LH20.

Identificação estrutural: através da interpretação dos dados de RMN (mono e bidimensional), UV, IV e EMBAR.

Resultados

O composto 1 foi isolado como um sólido translúcido, com ponto de fusão 146-148^°C. No EMBAR foi registrado pico com m/z 281 Da, relativo a [M+H]⁺, compatível com a fórmula C₁₄H₁₆O₆. Também foram detectados picos com m/z 265 [M-CH₃]⁺; m/z 249 [M-OCH₃]⁺. No espectro de RMN ¹H observou-se o simpleto relativo a 1H ressonando em d 6,66 (H-C6); um multipleto com integração 2, centrado em d 4,64 atribuído ao metileno CH₂ –C3; quatro simpletos com integração de três H cada em d 4,02; 3,93 e 3,92 atribuídos a três metoxilas ligadas a carbono sp²; um grupo metila foi identificado pelo sinal em d 2,63 (CH₃–C5). No espectro de RMN¹³C foram registrados 14 sinais. Estes dados, juntamente com aqueles obtidos nos espectros bidimensionais (COSY, HMQC e HMBC), permitiu-nos propor a estrutura da 3-hidroximetil-4,7,8-trimetoxi-5-metil–cumarina, com as seguintes atribuições para os sinais da RMN¹³C: 164,1 (C2); 111,9 (C2); 168,8 (C4); 110,3 (C4a); 132,3 (C5); 112,2(C6); 56,1 (HOCH₂-C3); 63,1 (CH₃O-C4); 22,7 (CH₃-C5); 61,5 (CH₃O-C7); 56,2 (CH₃O-C8). De Pascual et al. (1981) e Yousuf et al. (1999) atribuíram, para a 3,5-dimetil-4,7,8-trimetoxi-cumarina, os sinais em d 147,6 para C7, em 134,4 para C8 e em 153,6 para C8a. Com base nos nossos dados de HMBC (figura) e HMQC, propomos as seguintes atribuições: 134,5 (C7), 154,5 (C8) e 148,3 (C8a).

Duas outras substâncias de natureza terpenoidal foram isoladas e estão em fase de elucidação estrutural.

Conclusões

Pelo que sabemos esta cumarina é inédita, um parente oxigenado da 3,5-dimetil-4,7,8-trimetoxi-cumarina (8-metoxi cumarsalina), isolada anteriormente das folhas de Juniperus sabina da família Cupressaceae (dePascual et al.1981). Como o trabalho de isolamento não foi biomonitorado, resta determinar se as substâncias isoladas apresentam alguma atividade contra Leishmania e/ou como inibidora da proliferação de linfócitos, trabalho este programado para ser conduzido assim que estes ensaios estiverem novamente disponíveis.

Bibliografia

Fournet, A; Angelo, A; Munoz, V; Roblot, F; Hocquemiller, R; Cave, A, (1992) “Biological and chemical studies of Pera benensis, a Bolivian plant used in folk medicine as a treatment of cutaneous leishmaniasis.” J Ethnopharmacol 37: 159.

DePascual, J; Feliciano, AS; Del Corral, JMM; Barrero, AF; Rubio, M; Muriel, L , (1981) “2,5-dimethylcoumarins from leaves of Juniperus sabina” Phytochem. 20: 2778

Yousuf, MH; Bashir, AK; Blunden, G; Yang, MH; Patel, AV (1999) “Coumarleucasin and leucasone from Leucas inflata roots” Phytochem. 51: 95.

Torres-Santos, EC, Rossi-Bergmann, B and Zani, CL (1994). "Antileishmanial effect of several plant extracts". XXI Reunião Anual de Pesquisa Básica em Doença de Chagas, Caxambu. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 89: 193.

FIOCRUZ/PRONEX/CNPq