ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DOS CONSTITUINTES DE UMA AMOSTRA DE PRÓPOLIS DA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO

Lélia C. F. Bezzan (PG) e Evandro Nascimento (PQ)

Instituo de Química - Universidade Federal de Uberlândia

38400 Uberlândia – MG – email: eanascimento@ufu.br

palavras-chave: própolis, resina, eucalipto

Própolis é uma substância resinosa composta por produtos coletados pelas abelhas do exsudato (resina) de diversas plantas e por secreção própria. A própolis brasileira é muito valorizada no mercado internacional, especialmente aquelas provenientes de colméias situadas próximas a florestas de eucalipto. O presente trabalho estuda uma amostra de própolis e outra de exsudato da madeira, coletadas em meio a uma floresta de Eucalyptus da espécie urophilla. Conforme pôde ser observado nas ocasiões das coletas das amostras não havia outras espécies botânicas que servissem de alimento para as abelhas ao redor do local onde se encontravam as caixas.

O objetivo do presente trabalho é caracterizar uma amostra de própolis e comparar sua composição com a composição do exsudato do Eucalyptus urophila que serviu de pasto para as abelhas.

Foram preparados extratos de própolis e do exsudato com os seguintes solventes: água, clorofórmio, metanol. Os extratos metanólicos foram utilizados para avaliação dos teores de fenóis totais e de quercetina. Uma coluna de sílica gel COM uma carga de aproximadamente 0,5 gramas do resíduo metanólico seco de própolis foi cromatografada com três solventes: clorofórmio, acetona, metanol O extrato aquoso da própolis serviu para se avaliar os componentes voláteis através de uma extração no sistema de Clevenger. O extrato clorofórmico de própolis foi base para o cálculo do teor de cera e a caracterização do resíduo clorofórmico por cromatografia foi realizada para a própolis e a resina. Uma outra separação da própolis em coluna de sílica gel foi realizada. Desta vez o material colocado na coluna foi obtido após uma seqüência de extração da amostra de própolis que começou com a retirada dos produtos solúveis em água para então se obter o extrato metanólico do qual seria obtida a fração solúvel em acetato de etila para, então, cromatografá-la na coluna. A massa de própolis que ficou após a separação dos componentes solúveis em metanol foi ainda extraída com clorofórmio, mesmo assim restou um resíduo insolúvel. Este resíduo foi analisado por diversas técnicas como GPC, Infravermelho, análise elementar e teor de cinzas. A caracterização dos constituintes das duas amostras foi realizada por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas e por índices de Kovats. Todas as amostras a serem cromatografadas foram devidamente derivatizadas, metiladas ou sililadas

Foram identificados 55 compostos na própolis: ácidos cinâmico, trans cinâmico, cis cinâmico, palmítico, oleico, benzóico, esteárico, teracosanóico, behênico, isobutírico, lático, elaídico, undecanóico, araquidônico, láurico, capróico, tridecanóico, heptadecanóico, nonanóico e heptanóico; álcoois nonacosanol, heptadecilglicerol, glicerol, propileno glicol, bezílico, neopentílico, cinamílico, isooctanol e 2-etil-1-hexanol; aldeídos protocatecualdeído e vanilina; ésteres: cinamato de benzila, benzoato de benzila, benzoato de fenila e dibutil éster do ácido carbônico; alcanos: 2,2-dimetil-3,5-decadieno, 11,20-dideciltriacontano, pentadecano, heptadecano, trieicosano, hexadecano, 2,4-dimetil-pentano, dotriacontano, tritetracontano, 2,6,10,15-tetrametilheptadecano, 7-hexill-heicosano, n-octacosano, tetratetracontano e trans cariofileno; cetonas: benzil-fenil-metanona, 3-metóxi-3-metil-2-butanona, 2-metil-1-fenil-1-propanona, 1,4-difenil-1,4-butanediona e os éteres: eil-butil-éter e etil-isobutil-éter. Na resina foram identificados 12 compostos: hidroxiacetona, 1-metil-dietilamina, ácido tânico, a -D-galactopiranosídeo, dois falvonóides, L-alanina, 1-amino-2propanol, neopentanediol, N,N –dimetil-formamida e o ácido butanóico.

Dos compostos identificados, os seguintes ainda não foram relatados na literatura sobre a própolis brasileira: com exceção dos ácidos lático, elaídico, undecanóico, capróico, tridecanóico, nonanóico e heptanóico; dos álcoois heptadecilglicerol, propileno glicol,neopentílico, isooctanol e 2-etil-1-hexanol; dos ésteres benzoato de fenila e dibutil éster do ácido carbônico; dos alcanos 2,2-dimetil-3,5-decadieno, 11,20-dideciltriacontano, pentadecano, heptadecano, hexadecano, 2,4-dimetilpentano, tritetracosano, 2,6,10,15-tetrametilheptadecano, 7-hexil-heicosano, n-octacosano e tetracontano; das cetonas benzil-fenil-metanona, 3-metóxi-3-metil-2-butanona, 2-metil-1-fenil-1-propanona e 1,4-difenil-1,4-butanediona; e dos éteres: etil-butil-éter e etil-isobutil-éter que não contam até o momento na literatura especializada.Não foi encontrada uma boa concordância entre os constituintes identificados na própolis e na resina. Talvez porque os extratos aquosos das duas amostras não puderam ser analisados. O aminoácido que foi encontrado na resina não foi detectado na própolis mas há evidências que sugerem a presença de compostos nitrogenados no resíduo final da extração de Banskota. Quanto aos teores de cinzas, resíduo seco livre de voláteis, voláteis e de cera, que são os valores que atestam a qualidade da própolis, a amostra estudada se encontra dentro dos parâmetros encontrados para outras amostras de própolis brasileira, com exceção do teor de cera que foge aos padrões brasileiros mas está relacionado na literatura para outras amostras estrangeiras. Os teores de fenóis totais e flavonóides estão abaixo de uma outra amostra coletada em uma floresta de Eucalyptus citriodora na região de São Paulo.

1-Bankova,V.; Phytochemical evidence for the plant origin of Brazilian propolis from São Paulo state. Z. Naturforsch 54c, 401D405 (1999).

2-Woisky, R. G.; Salatino, A.; Analysis of propolis and procedure for chemical quality control. J. Apic. Res., 1998, no prelo.

3-Maia, A. B. R. A.; Nelson, D. L.;Mattos,L.M.; Dosagem de quercetina em própolis. Trabalho apresentado no Simpósio Brasileiro sobre própolis e apiterápicos. Franca, SP, 1999

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