FRAGMENTAÇÃO DO HALOTANO PELA LUZ SÍNCROTRON E POR ELÉTRONS RÁPIDOS


G. G. B. de Souza1 (PQ), M. L. M. Rocco1 (PQ), C. A. Lucas1,2 (PG), A. C. F. Santos1(PQ), H. M. B. Roberty3 (PQ) e A. N. de Brito4 (PQ)

1Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

2Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense.

3Observatório do Valongo, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

4Laboratório Nacional de Luz Síncroton, Campinas - SP, Brasil.


Palavras-chave: fotofragmentação; anestésicos; impacto de elétrons.


INTRODUÇÃO:

A excitação eletrônica de moléculas pode ser induzida por absorção de radiação ou através de colisões com partículas carregadas. O conhecimento dos mecanismos de excitação ou ionização, bem como de possíveis vias de relaxação, constitui-se por sua vez em aspecto essencial para a compreensão de efeitos causados por radiações em sistemas de interesse para áreas como biologia, litografia e ciência dos materiais1. Embora a grande maioria dos processos espectroscópicos estudados até a presente data refira-se a elétrons de valência, a disponibilidade de fontes de luz de alta energia, como a luz síncrotron, tem contribuido para ampliar o estudo de processos relacionados com elétrons de camadas mais internas.

OBJETIVOS :

Apresentamos resultados experimentais relacionados com algumas das vias de excitação eletrônica e relaxação de uma molécula contendo diversos átomos da família dos halogênios. Trata-se do CF3CHClBr, conhecido comercialmente como halotano, e habitualmente empregado como anestésico. Anestésicos voláteis como o halotano são compostos de interesse biológico utilizados tanto nos processos de pré-anestesia quanto na manutenção do estado de inconsciência induzida. Determinou-se o espectro de fotoabsorção e de fragmentação seletiva deste composto, em volta da borda 1s do C (~ 300 eV). A caracterização dos processos de ionização foi efetuada utilizando a técnica de espectrometria de massa por tempo de vôo. Também foram obtidos espectros de fragmentação iônica desta molécula empregando-se feixes de elétrons de alta energia (1 KeV).

MÉTODOS:

O estudo da fragmentação induzida por fótons de alta energia foi realizado no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). Radiação síncrotron monocromatizada das linhas TGM2 e SGM3 foi utilizada para excitar a molécula de halotano próximo à borda 1s do C (300 eV).

A segunda parte do experimento foi realizada no Laboratório de Impacto de Fótons e de Elétrons (LIFE) do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um feixe monocromatizado de elétrons de 1 KeV foi utilizado para a fragmentação molecular do composto. Um espectrômetro de massas4 foi utilizado na determinação da razão carga/massa dos fragmentos positivos.

RESULTADOS:


Fig. 1 – Espectros de massa do Halotano




Uma comparação entre espectros de massa obtidos através da interação com fótons de 310 eV e elétrons de 1 KeV pode ser vista na figura 1. Observam-se diferenças significativas nas intensidades relativas dos fragmentos iônicos, nos dois casos. No caso da ionização por impacto de elétrons (parte superior da figura), o espectro é dominado pelos fragmentos de maior massa. Por outro lado, no caso da fotofragmentação, as intensidades dominantes correspondem aos fragmentos mais leves. Este resultado é interessante, uma vez que os elétrons também possuem energia suficiente para, em princípio, fragmentar eficazmente a molécula.



CONCLUSÕES:

Foram medidos espectros de massa, e de fotoabsorção (rendimento iônico) para a molécula do Halotano. Como agentes de ionização utilizou-se a luz síncrotron e feixes de elétrons rápidos. Diferenças quantitativas foram observadas entre a fragmentação por impacto de elétrons (1 KeV) e a fotofragmentação por luz síncrotron (310 eV). Conclue-se que embora os elétrons possuam em princípio energia suficiente para excitar ou ionizar elétrons de camadas externas e internas, as seções de choque de colisão são dominadas pelos processos envolvendo os elétrons de valência, e consequentemente a fragmentação é mais “suave” quando comparada com o processo idêntico, gerado por fótons. Neste último caso, a energia é totalmente absorvida pela molécula, e a ocorrência de processos Auger conduz a uma fragmentação intensa da molécula.

Trabalho financiado por FAPERJ, CNPq, FINEP e LNLS.

REFERÊNCIAS:

1- D. M. Hanson, Adv. Chem. Phys. LXXVII,

2 – P. de T. Fonseca, J. G. Pacheco, E. d’A Samogin and A. R. B. de Castro, Rev. Sci. Instrum. 63 (1), (1992).

3 – LNLS Activity Report 97-98.

4 - J. B. Maciel, E. Morikawa and G. G. B. de Souza, Sunchrotron Radiation Instrumentation, AIP Conference Proceedings (1997).