MONITORAMENTO E DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE CHUMBO PARTICULADO EM ÁREAS CIRCUNVIZINHAS A REFORMADORAS DE BATERIAS


Simone Lorena Quiterio (PG)1, Priscila Tamiasso Martinhon (PG)1, Ulisses César Araújo (PQ)3 , Rita Mattos (PQ)3, Maria de F. Ramos Moreira (PQ)3 , Luiz S. Cardoso Santos (PQ)3 , Célia R.Sousa da Silva (PQ)1, Delmo Santiago Vaitsman (PQ)2


(1) Departamento de Físico Química – IQ/UFRJ; (2) Departamento de Química Analítica – IQ/UFRJ; (3) Lab. de Toxicologia CESTEH/ENSP/FIOCRUZ


Palavras-chave: chumbo, monitoramento ambiental, ambiente “indoor/outdoor”


A exposição humana ao chumbo (Pb) causada por emissões industriais é um problema de interesse mundial. As principais fontes de exposição ao Pb são empresas do setor de reformadoras de baterias (RB), que ainda utilizam processos e tecnologia obsoletos, em instalações precárias. O monitoramento de Pb no ar, próximo a tais fontes estacionárias é necessário para avaliar o nível de exposição ao Pb e prever possíveis efeitos nocivos à saúde. Os efeitos mais críticos no ser humano são observados sobre o sistema nervoso, e síntese do heme. Podendo ocorrer também distúrbios no sistema nervoso periférico e nos sistemas renal, gastrointestinal, reprodutor e cardiovascular. Os sintomas crônicos decorrentes da exposição excessiva são encefalopatia, arterioesclerose, nefropatia saturnina crônica, fibrose intersticial e hipertensão arterial 1.

Deste modo, neste trabalho, determinou-se o nível de chumbo presente no ar em ambientes externos (“outdoor” - ar atmosférico) e interno (“indoor” - poeira doméstica) de regiões circunvizinhas a uma fonte estacionária de emissão de chumbo, visando contribuir para o controle e o monitoramento ambiental dos níveis deste metal.

As amostras foram coletadas em 156 pontos “indoor” e 22 pontos “outdoor” , no populoso bairro de Olaria situado na zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.

A amostragem “indoor” foi realizada nas residências, empregando-se uma bomba aspirante portátil marca SKC, modelo 224-PCXR8, com vazão de 2,5L.min-1, acoplada a um cassete, com filtro de éster celulose de 37mm de diâmetro e poro de 0,8mm, marca Millipore. O tempo de coleta foi de 7 minutos. A área mínima amostrada foi de 30cm X 30cm e foi realizada em locais onde a poeira mais se acumulava, como capachos na entrada da casa, sofás, cortinas e tapetes, de acordo com a metodologia adotada pelo Centro Panamericano de Ecologia Humana e Saúde 2. As coletas foram realizadas em residências localizadas em um raio de 25m, 50m e 500m a partir da fonte de emissão estacionária.

Na amostragem “outdoor” foram enpregadas bombas de médio volume, marca Sibata modelo IP-20T, com uma vazão de 20 L.min-1. O sistema de coleta era composto de um suporte para filtro, filtro de nitro celulose de 55mm de diâmetro e poro de 0,8 mm, marca Millipore; tripé e separador de partículas. As condições de amostragem foram: tempo de coleta, 5 horas, nas duas primeiras avaliações e 6 horas na terceira avaliação.

No caso da amostragem em ambientes externos, com fonte de emissão estacionária, foi obedecido o critério para a escolha dos pontos de coleta estabelecido pela EPA 3. As coletas foram realizadas em pontos localizados em raios de até 25m e a 500m, a partir da fonte estacionária.

Os reagentes utilizados no preparo das soluções e nas análises químicas do processo foram de grau analítico (PA). As procedências dos reagentes e padrões empregados foram: ácido nítrico - MERCK e padrão de chumbo Titrisol – MERCK (Solução estoque – 1000µg.mL-1).

Os filtros foram colocados cuidadosamente em frascos de polietileno, digeridos em 3 mL de ácido nítrico concentrado, por duas horas à temperatura ambiente e diluídos a 50 mL com água ultrapura Milli-Q. Diluiu-se uma alíquota e as determinações das concentrações de chumbo nas soluções foram realizadas por metodologia de espectrometria de absorção atômica com a técnica de forno de grafite e corretor Zeeman.

O laboratório de toxicologia realiza controle de qualidade analítico interno, utilizando padrões certificados, e externo, participando de programas interlaboratoriais, que garantem a qualidade dos resultados obtidos.

No ambiente “outdoor” foram realizadas três coletas, duas em seis pontos localizados a aproximadamente 25m da RB e uma coleta de quatro pontos a 500m da mesma.O limite para Pb-ar 3 de 1,5 mgPb.m-3 foi excedido em 50% das amostras coletadas, variando de 0,03 a 183,3 mgPb.m-3. No ambiente “indoor” foram realizadas três coletas em seis pontos de seis residências localizados a aproximadamente 25m da RB, uma coleta em seis pontos de quatro residências a 50m e uma coleta em seis pontos de quatro residências a 500m da mesma. O limite para Pb-pd 4 de 1,5 mgPb.m-2 foi excedido em 44% das amostras coletadas, apresentando valores variáveis de 2,2 a 54338,9 mgPb.m-2.

Comparando-se os resultados obtidos com os limites sugeridos em publicações recentes, observou-se acúmulo de chumbo na poeira doméstica (Pb-pd) e no ar atmosférico (Pb-ar).



Bibliografia


1 – Galvão, L.A. & Corey, G. Plomo: Serie Vigilância. México, OMS, OPS, Centro Americano de Ecologia Humana y Salud, 1989, vol 8.

2 – Valencia, T.C.; Carrillo, L.L.; Romeu, I. Manual de Procedimento en la Toma de Muestras Biológicas y Ambientales para Determinar Niveles de Plomo. México, Metepec, Ed do México, 1995.

3 - Guidance for Siting Ambient Air Monitors Around Stationary Lead Sources. USA. EPA-454/R-92-009R. August 1997

4 - Matte,T.D. et alli. International Journal of Epidemiology, v.18, p.874-881, 1989.



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