ESTUDOS DE RMN E MODELAGEM MOLECULAR DE CICLOPENTANOS SUBSTITUÍDOS

 Valdemar Lacerda Júnior (PG), Mauricio Gomes Constantino (PQ), Gil Valdo José Da Silva (PQ)

Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo

 

palavras-chave: ciclopentanos; rmn; modelagem molecular

 

            Durante a execução de trabalhos experimentais em nosso laboratório preparamos os compostos da Figura 1 e verificamos que há vários dados analíticos que podem ser obtidos com relativa facilidade, tais como constantes de acoplamento entre hidrogênios vicinais, geminais e a longa distância 4JHH.1, 2 Apesar da facilidade de obter tais dados, sua utilidade é reduzida pelo fato de não ser conhecida a relação entre esses dados e a estrutura molecular, na extensão desejável. É uma situação curiosa, em que dados analíticos facilmente obtidos não podem ser traduzidos em informação simples e confiável sobre a estrutura molecular (principalmente do ponto de vista da estereoquímica), apesar de tudo indicar que esses dados contêm a informação requerida. O que falta, quase certamente, é o conhecimento de algumas das relações entre estrutura molecular e propriedades espectrométricas.

 

Figura 1        


 


Com a finalidade de estudar uma possível relação entre valores de 4JHH obtidos experimentalmente e os ângulos diedros entre os hidrogênios envolvidos no acoplamento, fizemos um estudo detalhado dos espectros de RMN dos compostos acima, fazendo  uso de várias técnicas especiais de RMN, tanto de 1H como de 13C, tais como HMQC, “J-resolved” e NOE  DIFF, possibilitando assim, atribuir os sinais  correspondentes a cada um dos hidrogênios de todos os compostos e estabelecer os valores dos deslocamentos químicos, das constantes de acoplamento, inclusive os acoplamentos a longa distância 4JHH, a posição na molécula e a estereoquímica relativa dos hidrogênios envolvidos.

 Os ângulos diedros presentes nas moléculas em questão foram calculados com o auxílio de programas computacionais; vários métodos foram experimentados: método da mecânica molecular, método semi-empírico de orbital molecular e método ab initio de orbital molecular. Primeiramente constatamos que ocorre acoplamento 4JHH ¹ 0 mesmo quando a conformação  em “W” (planar) não é possível para os hidrogênios envolvidos. Mais importante, porém, é que há uma relação aparentemente racionalizável entre os valores de 4JHH  e os ângulos diedros entre os hidrogênios envolvidos.


   Os cossenos dos ângulos diedros q1 e q2 foram calculados e a média dos produtos dos quadrados dos cossenos destes ângulos (levando-se em conta a contribuição de cada confôrmero) foram relacionados  com os valores de 4JHH obtidos experimentalmente, resultando em uma correlação bastante razoável como observado nos gráficos 1 e 2.

A diferença entre os dois gráficos mostra que os métodos de cálculos dos ângulos não fornecem resultados com a desejável confiabilidade. Além disso, fatores que têm grande possibilidade de afetar valores de J (como eletronegatividade e orientação de substituintes, etc.) 3 não foram tomados em consideração devido ao reduzido número de pontos. Como conseqüência, é natural que os pontos não se alinhem em uma curva contínua. Mas mesmo assim há uma clara tendência de aumento de 4JHH conforme os ângulos q1 e q2 se afastam de 90º e se aproximam de 180º.

(1) Luiz Gonzaga de Oliveira Matias, “Síntese de b-Hidróxi- e b-Etóxi-lactonas”, tese de Doutoramento, IQ-USP, São Paulo, 1995.

(2) Lacerda Jr., V.; Aragão, V.; Constantino, M. G.; da Silva, G. V. J.  22a Reunião Anual da SBQ, Resumos, QO-147, 1999.

(3)  Barfield, M.;  Smith, W. B.  J. Amer. Chem. Soc. 1992, 114, 1574.

FAPESP, CAPES, CNPq