Aplicação de extratos brutos de flores de quaresmeira e azaléia e da casca de feijão preto em volumetria ácido-base. Um experimento para cursos de análise quantitativa.


Márlon H. F. B. Soares1 (PG), Patrícia, A. Antunes2 (PG)

e Éder T. G. Cavalheiro1 (PQ).


1 Universidade Federal de São Carlos - Departamento de Química

Via Washington Luís, Km 235 - CxP 676 - CEP 13565-905 - São Carlos/SP

2 Universidade de São Paulo – Instituto de Química de São Carlos


palavras-chave: vinagre; indicadores naturais; antocianinas.


O líquido escuro de tom azulado que sai da casca do feijão preto quando este é lavado com água quente apresenta mudança de coloração para vermelho em presença de substâncias com caráter ácido e coloração verde na presença de bases. O mesmo tipo de observação pode ser feito para extratos de algumas flores.

Estas observações sugerem que este material tem a propriedade de agir como um indicador ácido-base, a qual já foi anteriormente descrita para extratos de algumas flores comuns no Brasil, como uma proposta de recurso didático para ensino de conceitos relacionados a equilíbrio químico, titulações ácido-base e fundamentos de métodos ópticos de análise.

Neste trabalho, em complementação ao que foi discutido anteriormente, apresenta-se a aplicação destes corantes em titulações acido-base como um experimento alternativo para cursos de química geral ou análise quantitativa. A padronização de soluções e a quantificação de ácido acético em vinagres foi feita na presença de corantes naturais obtidos de extratos brutos de Phaseolus vulgaris L (feijão preto), Tibouchina granulosa (quaresmeira) e Rododhendron simsii (azaléia). Os resultados foram comparados com aqueles obtidos usando-se indicadores convencionais. A prática foi testada em cursos de graduação, com resultados bastante satisfatórios.

Para obtenção do extrato bruto de Tibouchina granulosa e Rododhendron simsii foram utilizadas aproximadamente 300 g de pétalas de flores recém-colhidas e 50 g de grãos de feijão preto, imersas em 300 mL de etanol, durante 48 horas, à temperatura ambiente. Após este período o solvente foi eliminado em um rota-evaporador, sob vácuo, a temperatura máxima de 40 °C até volume constante. O líquido viscoso obtido foi seco em estufa à vácuo a 40 °C, até peso constante. A evaporação natural do excesso de solvente e um secador de cabelo com fase fria também podem ser utilizados. Durante a prática, foi proposto aos alunos que, após efetuarem as titulações usando os indicadores convencionais e os corantes naturais, eles deveriam responder a um questionário de avaliação do desempenho dos indicadores utilizados.

Quando da quantificação do teor de ácido acético em amostras reais, utilizou-se vinagres de vinho branco, vinho tinto e de álcool. Apesar da prática ser bastante comum em cursos de química geral e análise quantitativa, o uso dos corantes naturais pode enriquecer sobremaneira a discussão, aproveitando a curiosidade e o interesse despertado nos estudantes por esses indicadores alternativos.

A atenção dos estudantes para o trabalho experimental também fica aguçada pela expectativa em relação aos resultados, com excelente efeito sobre o entendimento dos procedimentos experimentais e os conceitos abordados.

Dos resultados obtidos pelos alunos, os quais são apresentados na Tabela 1, foi observado que no caso do vinagre de vinho tinto, a viragem dos indicadores alternativos não é clara passando de vermelho para castanho no ponto final. Como conseqüência observam-se erros relativos elevados em relação a fenolftaleína.

Esta interferência deve ser causada pela presença de antocianinas da uva. Sendo um ponto bastante interessante de discussão com os estudantes acerca da influência da natureza da amostra na visualização do ponto final.

No caso do vinagre de vinho branco, a viragem se mostrou nítida e reprodutível, como pode ser observado nos resultados obtidos. Alguns estudantes chegaram a erros menores que 1% em relação à fenolftaleína. A mudança de coloração se dá de rosa para verde, demonstrando que neste caso, a ausência de antocianinas na amostra melhora a nitidez da viragem, apesar do tom amarelado deste tipo de vinagre.

Porém, os melhores resultados em termos de visualização do ponto final, foram obtidos usando-se vinagre de álcool. A ausência de coloração da amostra permite observar nitidamente a mudança de coloração de rosa para verde no ponto final. Este efeito confere resultados muito positivos, tanto em termos didáticos quanto quantitativos.


Grupo

Tipo de

Vinagre

Concentração (% m/v)



Indicador Convencional

Azaléia

E1

Quaresma

E2

Feijão

E3

1

Vinho Tinto

4,41

4,12

-6,6

4,50

2,0

4,25

-3,6

2

Vinho Branco

4,25

4,29

0,9

4,41

3.7

4,47

5,2

3

Vinho Branco

4,53

4,47

-1,3

4,49

-0,9

4,45

-1,8

4

Vinho Tinto

4,30

4,58

6,5

4,56

6,0

4,62

7,4

5

Álcool

4,39

4,47

1,8

4,60

4.7

4,53

3,1

6

Álcool

4,49

4,51

0,4

4,54

1,1

4,56

0,2

E1, E2, E3 = Erros relativos.


O objetivo principal deste trabalho foi o de utilizar a curiosidade despertada nos estudantes pelo uso de indicadores alternativos para transmissão dos conceitos e foi plenamente atingida, considerando-se as reações e comentários durante e após a prática.

[FAPESP]