ANTECEDENTES DAS SOCIEDADES DE QUÍMICA NO BRASIL
Nadja Paraense dos Santos (PG)1,2, Ricardo Bicca de Alencastro (PQ)1,
Angelo da Cunha Pinto (PQ)1
1 Departamento de Química Orgânica - Instituto de Química - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
2 Engenharia de Produção - História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia - COPPE - Universidade Federal do Rio de Janeiro
palavras-chave: história da química, academias científicas, sociedades de química
A prática de organização de intelectuais no seio de academias e associações científicas e literárias, existiu desde os primórdios da civilização européia com a Escola de Platão. Organizações desta natureza desempenharam funções de relevância para a formação cultural, destacando-se o favorecimento do desenvolvimento da vida intelectual, formação de um público e o encaminhamento de padrões e valores.
O movimento academicista consolida-se tanto em Portugal quanto na Europa no século XII, mas seu advento nas respectivas colônias ocorreu somente a partir da primeira metade do século XVIII.
A análise das associações e agremiações científicas e literárias brasileiras nos conduz a um cenário enriquecedor no que se refere à formação da prática científica no país. Estas associações significaram importantes espaços para o debate e produção intelectual onde eram discutidos e divulgados os conhecimentos científicos em evidência na época.
A ausência de um perfil definido para o cientista conferiu à estas associações um caráter coletivo, evidenciado tanto na sua composição (sacerdotes, médicos, poetas e bacharéis) quanto no elenco das temáticas priorizadas, ao incluir literatura e diversas ciências.
A atividade científica no Brasil até o início da República, pode ser caracterizada por sua extrema precariedade, oscilando entre a instabilidade das iniciativas realizadas pelo favor imperial e as limitações das escolas profissionais. Destacamos o fato de que várias memórias científicas ou técnicas escritas ao longo do Segundo Reinado permaneceram inéditas, comparando esta situação com a que prevalecia um século antes, quando havia um desejo de se publicar e conhecer tudo o que tivesse alguma veleidade científica, mesmo que fosse equivocada, nos parece curioso, já que o Imperador gostava de se apresentar como mecenas nesta área.
No caso particular da Química, a sua institucionalização levou muito tempo. O ensino regular de Química, assim como alguma atividade de pesquisa no Brasil começou com a vinda da família real, mesmo assim de maneira limitada.
Ao tentarmos traçar um histórico das sociedades ligadas à Química no Brasil, nos deparamos com o fato de que apenas nos últimos quinze anos do século XIX começou a se evidenciar a necessidade de se consagrar a individualidade da Química como uma ciência com características próprias, desvinculada da obrigatoriedade de apoiar a Medicina e a Engenharia, como também começaram a se definir os limites da Farmácia, até então confundida com a Química.
A Química como ciência isolada, é relativamente nova, embora conhecida há séculos. A difusão das ciências em geral no Brasil, e da Química em particular é recente, basta lembrar que o Decreto N 0 24693, regulamentando a profissão de químico é de 12 de junho de 1933, completou 66 anos num país que vai completar 500 anos.
Nos primeiros anos do século XX e as necessidades provocadas pela I Grande Guerra realçaram as carências do país, dentre elas a falta de químicos e técnicos especializados para a indústria que começava a florescer.
Assim somente a partir do século XX teremos realmente as primeiras sociedades de química no Brasil.
Bibliografia:
Filgueiras, C. A L. Anais do I Seminário Nacional de História das Ciências e da Tecnologia, 1986.
Fonseca. M. R. G. F. da, A ciência é a única pátria, tese doutorado, FFLCH/USP, 1996.
Gonçalves, A L., Difusão da química no Brasil, Sobreondas, Rio de Janeiro, 1993.
Schwartzman, S., Formação da comunidade científica no Brasil, São Paulo, Ed. Nacional, Rio de Janeiro, FINEP, 1979.