CARACTERIZAÇÃO DA CAPACIDADE DE FIXAÇÃO E RENDIMENTO DE RECUPERAÇÃO DE BASES ORGÂNICAS EM RESINAS CATIÔNICAS MACROPOROSAS COM APLICAÇÃO EM Peschiera affinis

Kelen Carine Costa Soares.(IC) (!) ,Elvira Saraiva (PQ) (2) , Luiz Eduardo Martins Taddei, (PQ) (3) , Sérgio Freire Carvalhaes, (PQ) (4)

(1)Faculdade de Farmácia da UFRJ;(2) Instituto de Microbiologia da UFRJ;(3) Escola de Química da UFRJ;(4) Instituto de Química da UFRJ


Palavras Chaves: Resina Catiônica, Alcalóide, Peschiera affinis


Introdução: Os processos de separação e isolamento de alcalóides de extratos de produtos naturais, envolvem uma série de extrações com solventes de polaridades variadas e extrações líquido-líquido em meio ácido, o que gera inconvenientes como formação de emulsões, acarretando em perda na eficiência do processo de partição, baixa reprodutibilidade e operações trabalhosas demandando tempo e materiais excessivosa alem de extração de compostos solúveis em água, não necessariamente básicos b.

Objetivo: Desenvolver um método simples de separação de bases através do uso de resina catiônica comercial macroporosa do tipo copolímero de estireno-divinilbenzeno, funcionalizada sob a forma de ácido sulfônico. Isolar e identificar a fração de alcalóides da Peschiera affinis, para posterior avaliação farmacológica.

Materiais e métodos: Fixação e liberação da fração ácida

1g da resina (Lewatit SP 112, Bayer) purificada/ativada (eluição com NaOH, água, HCl, água, n-propanol:água (1:1), n-propanol, extração em soxhlet com éter etílico e com éter de petróleo) foi acondicionada em balão de fundo redondo provido de condensador de refluxo e agitação.A amostra teste, anilina, 2,6 dimetilanilina e dodecildimetilamina em quantidade 30% superior à capacidade nominal de fixação da resina (1,8eq/l), e um padrão interno (hexadecano) foram dissolvidos em tolueno/etanol 1:1 e mantidos sob agitação com 1g da resina durante 2h. A resina foi filtrada, lavada com tolueno/etanol 1:1 para a retirada das bases não fixadas, as bases fixadas foram liberadas por extração com amônia em etanol e tolueno e analisadas quantitativamente (adição de padrão interno, n-hexadecano) por Cromatografia gasosa.

Aplicação em Peschiera affinis:12g de caule seco e moído foram extraídos com etanol em soxhlet durante 36 horas, o solvente evaporado a vácuo e o extrato (3,53g) foi armazenado em 30 mL de tolueno/etanol 1:1. Um terço do extrato foi utilizado para a reação de fixação.

Análise por Cromatografia: as análises por Cromatografia de Gás foram efetuadas nas seguintes condições: a-amostra teste : coluna 30m X 0,32mm, df=1, divisão de fluxo ( split 1:20), gás de arraste nitrogênio (2mL/min),135ºC – 150ºC (10ºC/min), 150ºC – 300ºC (20ºC/min), detector e injetor 300ºC; b-fração de alcalóides da Peschiera affinis: idem coluna 220ºC (1,5min), 220ºC – 300ºC (30ºC/min), 300ºC (15min). As estruturas dos alcalóides foram sugeridas pelo acoplamento de cromatografia de gas/espectrometria de massas (Hewlett Packard modelo 6890).

Resultados e discussão: a tabela abaixo mostra a porcentagem de recuperação e a capacidade de fixação da resina.

Amostra teste

Inicial

Fixada

Não fixada

% rec.

Cap. de fixação

Anilina

0,64meq

0,53meq

0,01meq

85%

0,533eq/g

2,6 dimetilanilina

0,61meq

0,49meq

0,07meq

91%

0,490eq/g

Dodecildimetilamina

0,67meq

0,64meq

0,003meq

96%

0,639eq/g

A capacidade de fixação total encontrada foi de 1,66 eq/g (se tivermos um alcalóide de massa molecular igual a 500, teremos 830 mg de alcalóide/grama de resina).


A massa total de alcalóides do extrato de Peschiera affinis foi de 14,9 mg (1,27% em relação ao extrato e 0,124 % em relação ao caule). A figura abaixo mostra o cromatograma da fração de alcalóides. Foram sugeridos os seguintes alcalóides: Ibogamina, 12-metoxi-Ibogamina, 18-ac.carbox.(ester metílico)-ibogamina (coronaridina), 12-metoxi, 18-ac.carbox.(ester metílico) ibogamina (voacangina) e um homólogo da voacangina com fórmula molecular com mais um grupamento CH2. Os alcalóides coronaridina e voacangina foram também caracterizados no extrato etanólico de Peschiera australis e são provavelmente responsáveis pela ação sobre a Leishmania amazonensisc, fazendo-nos supor uma atividade farmacológica similar para a Peschiera affinis.

Conclusões: a capacidade de fixação de bases orgânicas em resinas catiônicas (1,66 meq/g) sitou-se bem próximo da capacidade nominal da resina (1,8 meq/g) com rendimentos de recuperação das bases bastante elevados. Os alcalóides isolados (derivados da ibogamina) indicam que a Peschiera affinis deva ter ação ação sobre a Leishmania amazonensis, a exemplo do encontrado na Peschiera australis.

Bibliografia: a-Svoboda, G. H; “The Metodology of Selective Extraction and Gradient pH Extraction Techniques”, Lloydia [27] (4) 299-301, 1964; b- Santos, F. A. L., Valente, L. e Carvalhaes, S. F., Cactáceas Brasileiras: Estudo Químico e Farmacológico de Opuntia moncantha, XXI Jornada de Iniciação Científica da UFRJ, UFRJ, 1999, c-Delorenzi, J.C.M.O.B., Estudo Fitofarmacológico de Peschiera australis e sua ação sobre a Leishmania amazonensis, Dissertação de Mestrado, Inst. de Biof. Carlos Chaga Filho, UFRJ, 1998.

Agradecimentos: FUFB (processo 8015-2), Roche e Cenpes.