DISTRIBUIÇÃO E ESPECIAÇÃO DO COBRE E CÁDMIO DISSOLVIDOS NAS ÁGUAS COSTEIRAS DA REGIÃO DA
ILHA DE SANTA CATARINA, SC.
Anderson Bendo (IC)1, Ma Lúcia A. Moura Campos (PQ)1,
Almir Spinelli (PQ)1 e Eduardo S. Sierra(PQ)2
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 88040-900.
1. Departamento de Química, 2. NEMAR
palavras-chave: especiação química, cobre, cádmio.
Introdução e objetivo
A Ilha de Santa Catarina está localizada geograficamente distante das maiores fontes antrópicas de metais, que são as indústrias metalúrgicas. Porém, existem fontes pontuais de contaminação como esgoto doméstico, aterro sanitário, uso de pesticidas, além do uso de cobre como agente anti-encrustantes em tintas de embarcações. A alta toxicidade e longa persistência de metais como cobre e cádmio no ambiente aquático tem gerado grande preocupação entre pesquisadores e autoridades da saúde pública em todo o mundo. Vários estudos vem demonstrando que a forma lábil desses metais tem maior toxicidade que a forma complexada por ligantes orgânicos ou adsorvida no material particulado1. Daí a importância do estudo da especiação química. O objetivo deste trabalho é mapear a distribuição de cobre e cádmio nas águas da região da Ilha de Santa Catarina, levando em consideração a especiação química.
Métodos
Amostras de águas de superfície foram coletadas em diversos tipos de ambientes, incluindo desde um corpo de água doce (Lagoa do Peri) até ambientes marinhos (Figura 1). As amostras foram coletadas em frascos pré lavados de polietileno e filtradas dentro de no máximo 12 horas em filtros de poro 0,45 µm também pré lavados. As amostras acidificadas (pH~2- HCl) foram utilizadas para a determinação do metal dissolvido total após serem irradiadas com ultra-violeta em tubos de quartzo por 4 horas para destruição da matéria orgânica2. As amostras apenas filtradas foram utilizadas para a determinação da fração eletroquimicamente lábil do metal. As determinações de cobre e cádmio foram realizadas utilizando os ligantes salicilaldoxima (SA) ou oxina e voltametria de redissolução catódica3. Foi utilizado um potenciostato PAR 263A e eletrodo de gota pendente de Hg, PAR 303A.
Resultados e discussão
As concentrações de cobre lábil encontradas foram bastante inferiores às concentrações de cobre dissolvido total (Tabela 1), demonstrando a presença de até 94% de fortes complexos formados entre o cobre e ligantes orgânicos, o que minimiza grandemente a toxicidade deste metal para a biota. A distribuição de cádmio dissolvido total foi relativamente uniforme, com média de 1,3 ± 0,4 nmol/L. Não foi possível avaliar as concentrações de cádmio lábil nas amostras devido a grande interferência dos compostos orgânicos presentes nas amostras. Apesar das estações de 2 a 8 estarem localizadas em áreas bastante urbanizadas e com sistema de captação e tratamento de esgoto precários, as concentrações dos metais dissolvidos foram bastante inferiores aos valores máximos permitidos pela resolução no 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente de 1986. Porém, é possível que grande parte do metal presente nessas águas esteja sob a forma particulada. As concentrações de cobre e cádmio aqui reportadas são similares àquelas encontradas nas águas costeiras da região Portugal4 (Cu: 4,6 9,3 nmol/L; Cd: 0,50 5,7 nmol/L). O valores do branco para o cobre (0,61 ± 0,24 nmol/L, n=11) e cádmio (< 0,4 nmol/L, n=3) estiveram dentro do desvio padrão das análises e portanto não foram considerados. A concentração média de cobre encontrada na água do mar certificada CRM 403 foi de 4,17± 0,85 nmol/L (n=3), não diferindo do valor certificado de 4,00 ± 0,38 nmol/L, demonstrando a boa exatidão e precisão do método utilizado.
Tabela
1: Concentrações em nmol/L de cobre lábil
([Cu]lab), cobre dissolvido total ([Cu]dt ), cobre complexado pela
matéria orgânica ([Cu]org] e cádmio dissolvido
total ([Cd]dt) nas distintas estações (st) de coleta
numeradas de acordo com a Figura 1.
st |
[Cu]lab |
[Cu]dt |
[Cu]org] |
[Cd]dt |
1 |
2,4 |
10,0 |
7,6 |
1,4 |
2 |
2,2 |
6,4 |
4,2 |
0,6 |
3 |
5,2 |
11,8 |
6,6 |
1,4 |
4 |
nd |
5,1 |
- |
1,5 |
5 |
1,0 |
10,3 |
9,3 |
1,6 |
6 |
5,8 |
6,9 |
1,1 |
1,7 |
7 |
0,8 |
13,2 |
12,4 |
1,5 |
8 |
6,7 |
11,0 |
4,3 |
1,7 |
9 |
1,0 |
8,0 |
7,0 |
1,1 |
10 |
1,5 |
7,3 |
5,8 |
0,7 |
11 |
1,0 |
2,6 |
1,7 |
1,3 |
12 |
3,2 |
7,0 |
3,8 |
0,8 |
13 |
0,7 |
4,8 |
4,1 |
1,8 |
nd = não foi possível determinar.
Figura 1: Ilha de Santa Catarina mostrando os pontos de amostragem. |
Referências
1. Kennish, M.J. (1996). Pratical
Handbook of Estuarine and
Marine Pollution. CRC Press.
2. Mello, LC et al. (1999). SBQ, 22a
Reunião Anual, AB-077.
3. Campos, MLAM e van den Berg (1994). Anal. Chem. Acta, 284: 481-496.
4. Vasconcelos, MTSD e Leal, MFC (1997). Anal. Chem. Acta, 353: 189-198.
CNPq