CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE CERÂMICAS
INDÍGENAS DO ESTADO DO AMAZONAS
GENILSON P. SANTANA (PQ) &JORGE ALMEIDA DE MENEZES (IC)
Departamento de Química Instituto de Ciências Exatas Universidade do Amazonas Manaus Amazonas Cep 69077-000 e-mail genilson@fua.br
Palavras-chaves: cerâmicas indígenas, Região Amazônicas, espectroscopia IV
O estudo das técnicas de fabricação e decoração dos objetos de cerâmica é tido como o alfabeto de arqueólogos e historiadores, pois fornece base segura para a reconstrução de muitos aspectos da vida de antigas civilizações. No caso específico dos grupos indígenas da Região Amazônica essa manifestação só recentemente tem sido reportada por alguns antropólogos, sendo que a base para a confecção de suas cerâmicas, ainda é pouco conhecida. Portanto, o presente trabalho foram obtidas 11 cerâmicas de três grupos indígenas, Waiwai, Tukâno e Baniwa, todos localizados no Estado do Amazonas, cujo escolha se deve ao fato de pertencerem à mesma etnia, aparentemente grupos com a mesma formação cultural.
As cerâmicas diferenciam entre si por possuírem diferentes cores de pigmentos. As cerâmicas do grupo indígena Baniwa são ornamentadas por pigmentos vermelhos. As cerâmicas do grupo indígena do grupo Waiwai são enfeitadas com pigmentos negros, sendo recobertas com verniz. O grupo indígena Tukâno utiliza dois tipos de decoração; uma com temas em negro e outra totalmente negra. As duas aparentemente protegidas por uma camada de verniz.
As amostras foram estudadas através da retirada de pequenas quantidades da parte inorgânica e orgânica (pigmento e vernizes), tendo o cuidado para não danificar totalmente as cerâmicas, e espectroscopia no infravermelho na região de 4000 a 400 cm-1. Baseados em alguns relatos de antropólogos especialistas em grupos indígenas da Amazônia em que afirmam que todos os grupos indígenas ceramistas do Amazonas fazem uso de argilas de rios e igarapés, foram realizados também experimentos térmicos com caulinitas, talvez o argilomineral mais abundante da Região Amazônica [1]. Os experimentos consistiram no aquecimento por 24 horas nas temperaturas de 150, 300, 450, 600, 750, 900 e 1.050 oC, para cada uma das amostras foi obtido um espectro de infravermelho na região de 4000 a 400 cm-1.
Os espectros de infravermelho da parte inorgânica mostraram basicamente para os três grupos indígenas bandas em 1805, 797 e 473 cm-1 típicas de estiramentos Si-O-Al e Si-O-Si e Al-O-Al, respectivamente. O conjunto dessas bandas caracteriza uma mistura composta de óxido de alumínio e silício, oriunda da decomposição de argilomineral em altas temperaturas. Os espectros de infravermelho das cerâmicas claras também apresentaram bandas em 3465 e 1634 cm-1 típicas de estiramento O-H de água de hidratação. Essas bandas são menos intensa nas cerâmicas pretas, respectivamente.
O espectro de infravermelho dos experimentos térmico com caulinita apresentou três espectros com a mesma característica dos grupos indígenas. Pela análise dos espectros o grupo Waiwai aquece suas cerâmicas em 600 oC, o grupo Baniwa em 750 oC e o grupo Tukâno em 900 oC. As três temperaturas diferentes poderiam explicar as cores exibidas pelas desses grupos indígenas amazônicos. As cerâmicas do grupo Baniwa e Waiwai têm cor mais clara do que do grupo Tukâno.
A análise dos espectros de infravermelho dos vernizes bandas em da cerâmica do grupo indígena Tukâno mostrou bandas em 2934 cm-1 de desdobramento OH e 1697 cm-1 desdobramento de C=O típicas de aldeído. Em 3294 cm-1 existe banda desdobramento de OH, 1452 cm-1 desdobramento de COOH e 880 cm-1 estiramento de COOH, indicando a presença de ácidos carboxílicos. As bandas em 3086 e 1642 cm-1 são referentes a desdobramento de ligações C=C de alquenos. As bandas em 1162, 1244, 1383 e 2865 cm-1 são relativas ao desdobramento de ligações CH de alcanos. Existem também bandas em 1528 e 2663 cm-1 típicas de desdobramento C=O possivelmente de cetona e/ou éster.
Os espectros de infravermelho das amostras dos vernizes da cerâmica do grupo indígena Waiwai apresentam basicamente as mesmas bandas observadas nas cerâmicas do grupo indígena Tukâno, com exceção da ausência da banda do grupamento C=O. O grupo Baniwa tradicionalmente não utiliza vernizes em suas cerâmicas.
Em algumas cerâmicas do grupo indígena Tukâno continha um verniz aparentemente negro, mas o espectro de infravermelho revelou a existência de um silicato, com temperatura de aquecimento menor da parte interior; no mesmo material encontraram-se duas temperaturas, internamente com 900 ºC e externamente com 750 ºC. Essa característica pode ser explicada pelo fato de que esse grupo indígena utiliza além de verniz uma mistura constituinda de sumos de determinados vegetais, ceras, cinzas, argilas, etc. e reaquecimento. Segundo alguns antropólogos essa técnica é chamada de esfumaramento.
No caso específico dos pigmentos do grupo indígena Baniwa os espectros de infravermelho mostraram na região de 1000 e 1200 cm-1 uma banda de grande intensidade, característica de grupamento do tipo C-C(=O)-O-C(=O)-C. Em 1500 cm-1 existe uma banda de baixa intensidade, característica de estiramento C-O-H. Na região de 1750 cm-1 existe uma banda de intensidade média, típica de estiramanento C=O. A ausência de uma banda larga na região de 3500 cm-1 nos mostra que a base para a pigmentação desta tribo seja, composta orgânica de ésteres e álcool.Os espectros de infravermelho dos grupos indígenas Waiwai e Tukâno posseum, ao contrário do grupo Baniwa, uma banda em 3400 cm-1 típica de deformação O-H. Outra característica marcante é a ausência de uma banda em 1200 cm-1 de C-C(=O)-O-C(=O)-C.
[1] COUCEIRO, P. R. C & SANTANA, G. P. Caulinita em solo da Amazônia: Caracterização e permutabilidade. Acta Amazônia, 29(2): 267-275 (1999).