Microgênese da explicação de um problema ambiental.
Marcelo Leandro Eichler (PG).
Área de Educação Química Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: poluição ambiental, solução de problemas, epistemologia genética.
O foco desta pesquisa foi a relação entre a epistemologia genética e a construção dos conhecimentos químicos necessários à explicação de um problema ambiental simulado em computador. Esta pesquisa foi referenciado na epistemologia genética por dois motivos. Primeiro, pela certeza que o referencial piagetiano é válido para orientar projetos de investigação em ensino e aprendizagem de ciências e, mais particularmente, de química. Segundo, as pesquisas em epistemologia genética não contemplaram tarefas onde o sistemas de conceitos, modelos, relações e leis próprios da química fossem empregados.
A escolha pela microgênese permite um estudo sobre os níveis de explicação e compreensão que os sujeitos fazem das tarefas que lhes são propostas e, para os quais, não apresentam uma solução imediata (Inhelder e Caprona, 1996; Inhelder e cols., 1987). Entende-se que análises como essas são pertinentes para a construção de referenciais teóricos sobre a aprendizagem dos conceitos e dos modelos da química (Ceron, 1996).
Nesta pesquisa, o particular interesse pela gênese da explicação científica e da causalidade guardou relações com objetivos de avaliação de um projeto que visa a modelagem e implementação de ambientes de aprendizagem de ciências mediados por computador (Eichler e Del Pino, 1998). O primeiro produto deste projeto foi o software Carbópolis (http://www.iq.ufrgs.br/aeq/carbop.htm), que foi utilizado como tarefa experimental nesta pesquisa.
Nesse software, a simulação de poluição ambiental é apresentada através de uma estratégia de resolução de problemas. O software possui as seguintes características: um mapa para auxiliar a situação geográfica do problema; personagens para descrever o problema; menu e ícones que possibilitam a coleta das amostras de ar e água da chuva sobre o mapa, análise das amostras e instalação de equipamentos antipoluentes; ferramenta de hipertexto para a leitura dos assuntos relacionados ao problema; ferramenta de editor de textos para registrar conclusões parciais e o resultado das análises das amostras durante a utilização do software; e dois questionários para orientar a conclusão das atividades propostas pelo software. São poucas as etapas pré-ordenadas no software, como, por exemplo, a impossibilidade de analisar amostras sem tê-las coletado. Assim, os participantes do experimento, para chegarem a solução do problema que lhes é proposto, poderão utilizar diferentemente as ferramentas incluídas no software.
O estudo microgenético da explicação causal foi realizado com a colaboração de nove participantes. A participação foi por adesão. Foram convidados adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos, de uma escola de ensino básico da rede pública. Para manter a coerência com a teoria que foi utilizada como referencial, os participantes deveriam apresentar: condutas operatórias; conhecimentos básicos em informática, que permitissem o reconhecimento e utilização das funções presentes na tarefa; familiaridade com conceitos de ciências naturais que fossem suficientes para a interpretação dos textos e dados presentes na tarefa; e desconhecimento de soluções imediatas para a tarefa proposta.
A pesquisa teve um delineamento de estudo de casos (Inhelder e Caprona, 1992/1996). Durante a solução da tarefa apresentada aos participantes foram utilizadas a observação sistemática e o método clínico. Os participantes utilizaram o software em sessões de 45 minutos e foram utilizadas tantas sessões quanto necessárias para os participantes resolverem o problema proposto. As atividades realizadas pelos participantes com o software educacional foram gravadas por uma rotina de histórico, chamada de log files, que permitiu descrever a seqüência e o tempo despendido com a utilização de cada uma das ferramentas presentes no software. O software, também, propiciava o registro do que fosse escrito no editor de texto, assim como as respostas aos questionários. Finalmente, as entrevistas do experimentador com os participantes foram gravadas em fitas de áudio e posteriormente transcritas.
A análise microgenética foi realizada para dois casos prototípicos. Dessa forma, pode-se evidenciar: o desenrolar das descobertas realizadas pelos participantes com relação ao problema ambiental simulado; descrever as condutas cognitivas dos participantes na solução da tarefa; conhecer as coordenações e integrações realizadas envolvidas na solução e explicação do problema proposto; conhecer as abstrações utilizadas pelos participantes na solução e explicação do problema proposto; conhecer os modelos parciais utilizados durante a solução e explicação do problema proposto; conhecer a formação dos conceitos parciais durante a solução e explicação do problema proposto; descrever e explicar os esquemas gerais orientados aos procedimentos para a solução do problema proposto; e descrever e explicar os esquemas gerais orientados para a compreensão do problema proposto e sua solução.
(CNPq)
Referências bibliográficas:
Ceron, M.T. (1996). Construção do conhecimento: um estudo sobre os níveis de compreensão e explicação em alunos de 2º grau. Dissertação de Mestrado em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Eichler, M.L. & Del Pino, J.C. (1998a). Modelagem e implementação de ambientes virtuais de aprendizagem em ciências [CD-ROM]. Em Actas do IV Congresso Ibero-Americano de Informática na Educação, RIBIE 98, Brasília.
Inhelder, B.; Ackermann-Valladão, E.; Blanchet, A.; Karmiloff-Smith, A.; Kilcher-Hagedorn, H.; Montangero, J. & Robert, M. (1987). Das estruturas cognitivas aos procedimentos de descoberta: esboço de pesquisas atuais. Em Leite, L.B. & Medeiros, A.A. Piaget e a escola de Genebra. (pp. 75-91). São Paulo: Cortez.
Inhelder, B. & Caprona, D. (1996). Rumo ao construtivismo psicológico: estruturas? procedimentos? Os dois "indissociáveis". Em Inhelder, B. & Cellérier, G. O desenrolar das descobertas da criança: um estudo sobre as microgêneses cognitivas. (pp. 7-37). (E. Gruman, Trad.) Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1992).