SOBRE A ABORDAGEM DO CONCEITO DE ELETRONEGATIVIDADE EM ALGUNS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO


Angela F. Campos (PQ), Maria Betania D. dos Santos (IC)


Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

Departamento de Química


palavras-chave: eletronegatividade, ensino médio, livro didático


O conceito de eletronegatividade (EN) é um dos mais antigos e amplamente utilizados em química. Apesar de antigo, este conceito ainda desperta grande interesse entre os químicos. Isto se reflete na grande quantidade de trabalhos publicados sobre este assunto e também nas diferentes definições de EN encontradas na literatura, tais como, EN de ligação, EN orbital, EN global, EN absoluta. O conceito de EN é importante pois auxilia o químico na interpretação de estruturas e suas relações com as propriedades físicas e químicas. Por exemplo, na área específica de ligação química, é difícil imaginar explicar polaridade de uma ligação, ligação covalente polar e apolar, momento dipolo, sem utilizar-se do conceito de EN.

Considerando que, o livro didático é um instrumento importante para o processo de ensino-aprendizagem e constitui um veículo de informação grandemente utilizado por professores e alunos do ensino médio, e, a relevância do conceito de EN para o entendimento dos fatos da química, o propósito deste trabalho é analisar de que maneira este conceito é abordado em alguns livros didáticos do ensino médio.

Na análise foram considerados os assuntos de química referentes ao primeiro ano do ensino médio, que geralmente correspondem ao volume I de alguns livros didáticos. Investigamos seis livros didáticos designados aqui de 1 – 6. Estes livros foram escolhidos pois são frequentemente utilizados em escolas particulares e públicas do estado de Pernambuco.

Os aspectos investigados nestes livros foram os seguintes: (i)- se o conceito de EN foi abordado pelos livros didáticos; (ii)- em que assuntos de química o conceito de EN é inserido pelos autores; (iii)- qual definição de EN é introduzida pelos autores; (iv)- se os autores mostram como os valores de EN foram obtidos.

No que diz respeito ao primeiro aspecto, observou-se que o conceito de EN foi abordado em todos os livros analisados. Os livros [1], [3], [5] e [6] introduzem o conceito de EN quando abordam o assunto de ligação química e, os livros [3] e [4] inserem o conceito de EN no capítulo que trata das propriedades periódicas dos elementos e também em ligação química. Pode-se notar que, em todos os livros analisados o conceito de EN é abordado dentro do assunto de ligação química, o que nos leva a perceber que a definição de EN utilizada por estes autores foi a de Pauling (1): “Eletronegatividade é o poder de um átomo em uma molécula em atrair elétrons para si” . Os livros [2-4, 6] mostram claramente isto. É interessante comentar que no livro [6] os autores abordam o conceito de EN sob dois pontos de vista. Inicialmente, eles comentam sobre a afinidade eletrônica (que pode ser considerado uma medida de retenção de elétrons) e potencial de ionização ( medida de atração de elétrons), e comentam que a partir destes dois parâmetros chega-se a um outro parâmetro denominado eletronegatividade. Essa definição (proposta originalmente por Mulliken (2), é reforçada um pouco depois, mas antes disso os autores abordam a definição de EN proposta por Pauling sem mencionar que o conceito de EN é definido por diferentes autores e sob diferentes aspectos. Consequentemente, tal situação pode deixar o leitor confuso sobre o que realmente é eletronegatividade. É importante comentar que os autores (livro 6), de um certo modo, reconhecem a importância do conceito de EN em química, uma vez que os mesmos trazem o tema eletronegatividade como título de um capítulo do livro. No livro [3], os autores abordam a definição de EN de Pauling e, através de um gráfico, mostram a variação de EN na tabela periódica atribuindo valor zero para as EN’s dos gases nobres. Eles comentam: “Não é costume falar em eletronegatividade para os gases nobres, uma vez que eles não apresentam tendência a receber ou compartilhar elétrons”. No entanto, sabe-se que do ponto de vista de Mulliken, os gases nobres possuem eletronegatividade e têm os maiores valores da tabela periódica, uma vez que EN não seria apenas uma medida de atração eletrônica, mas também de retenção de elétrons. Por isso, não é surpreendente o fato de existir vários artigos científicos que mostram diferentes métodos de cálculo das EN’s dos gases nobres (3-6).

No tocante ao último aspecto (iv), nenhum livro analisado aborda como os valores de EN foram obtidos, apenas comentam que os valores de EN foram propostos por Pauling que arbitrariamente atribuiu o valor 4,0 para a EN do elemento químico flúor (F). Ainda, mostram uma tabela periódica com os valores de EN sem nenhuma explicação. Apenas na referência [3], os autores citam que a tabela de EN de Pauling não é a única, mas que há outras propostas de quantificação do conceito de EN. O fato dos autores não mostrarem como são obtidos os valores de EN de Pauling é compreensível, pois a escala de Pauling foi obtida a partir de dados experimentais de calores de formação ou energias de ligação de moléculas simples e diatômicas. Estes assuntos são tratados em sala de aula a partir do segundo ano do ensino médio. Logo, os valores de EN dos elementos da tabela periódica são dados aos estudantes, através dos livros didáticos, como um conjunto de números arbitrários e sua origem não é discutida.

Finalmente, uma nova proposta de determinação de EN em termos de parâmetros atômicos que permita ao próprio estudante calcular os valores de eletronegatividade e correlacionar estes valores com a estrutura atômica e propriedades dos elementos está no momento em estudo.

PIBIC/CNPq


(1)- Pauling, L., J. Am. Chem. Soc., 54 (1932) 988.

(2)- Mulliken, R. S., J. Chem. Phys., 2 (1934) 782.

(3)- Allen, L. C.; Huheey, J. E. J. Inorg. Nucl. Chem. 42 (1980) 1523.

(4)- Filgueiras, C. A. L. ; Química Nova, (1980) 104.

(5)- Fung, B.; J. Phys. Chem., 69 (1965) 596.

(6)- Bratsch, S. G., J. Chem. Educ., 65 (1988) 34.