SUBSTÂNCIAS E MISTURAS: COMO OS ALUNOS COMPREENDEM NO ENSINO FUNDAMENTAL


Marta Francileide Gonzaga da Silva (FM)1 , Rejane Martins Novais Barbosa (PQ)2 e Edenia Maria Ribeiro do Amaral (PQ)2

1 Centro Escolar São José

2 Universidade Federal Rural de Pernambuco – Departamento de Química


palavras-chave: misturas, substâncias, ensino fundamental


De acordo com o currículo escolar, apenas na oitava série do ensino fundamental e por um semestre, o aluno começa a conhecer, numa linguagem da química, alguns conceitos que muitas vezes já foram abordados nas séries passadas, dentro de um contexto de ciências, numa perspectiva interdisciplinar. Este fato pode vir a ser uma das causas de grandes distorções encontradas nos conceitos científicos apresentados pelos alunos, nas séries seguintes.

Zanon e Palharini (1995) afirmaram que não são recentes as preocupações com relação à ineficiência da formação em química ao longo do ensino fundamental. Segundo as autoras, em geral, os professores de ciências têm formação deficiente nesta disciplina. O despreparo que a maioria dos professores de ciências apresentam pode, em parte, ser o aspecto mais relevante para a formação deficiente dos alunos no conhecimento químico. Além deste fato, fazendo uma análise dos conteúdos de ciências trabalhados durante o ensino infantil e fundamental, observa-se que apesar das muitas possibilidades de se enfocar o conhecimento químico isto não acontece. Silva (1998), através de uma análise feita em sala de aula, durante a explicação de um determinado conteúdo, verificou que a professora utilizava a palavra “substância” para expressar coisas que poluem o rio, certamente, contribuindo na formação deste conceito.

Centrando foco nos conceitos de substância e mistura, fundamentais para o entendimento de diversos outros conceitos, pode-se constatar grandes dificuldades na compreensão dos mesmos. Araújo et al (1995), objetivando pesquisar sobre o modo como o conceito de substância é apreendido e organizado com relação a outros conceitos da química, por alunos de ensino médio e ainda como isso está relacionado com livros didáticos usados por eles, ressaltaram, dentre outros aspectos que, antes da aprendizagem formal, a palavra substância é conhecida pelos alunos, como sinônimo de coisa, material e elemento. A palavra mistura sugere um procedimento comumente usado pelos alunos desde a sua infância: o ato de misturar coisas. Estas características de suas experiências têm influenciado no aprendizado dos conceitos científicos, e assim, não é tarefa fácil para os professores, no ensino fundamental, introduzir os conceitos científicos aos alunos. Segundo os autores, o conceito de substância possui um maior grau de abstração do que outros. A dificuldade na compreensão do conceito de substância pode ser a origem das confusões encontradas diante das classificações de mistura homogêneas e heterogêneas e da compreensão das transformações químicas.

Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo: identificar as principais dificuldades dos alunos de oitava série na compreensão dos conceitos de substância e mistura, a partir de uma metodologia interativa, utilizando diversos instrumentos para a exploração do tema. Foi realizado no Centro Escolar São José com a participação de 13 alunos. Foram feitas duas intervenções didáticas. Na primeira intervenção foram desenvolvidas duas dinâmicas (I e II). Na dinâmica I, a finalidade foi observar a compreensão dos alunos sobre os conceitos de mistura e substância e teve como principais atividades: a classificação de exemplos em substâncias (justificando-os); realização de pequenos experimentos sobre misturas com proposição de questões para construção conjunta dos conceitos e formação de grupos para trabalho com ilustrações retiradas de revistas comerciais. Na dinâmica II, para observar a compreensão dos alunos quanto à classificação das misturas em homogêneas e heterogêneas, foram desenvolvidas as atividades: exposição das observações feitas a partir dos experimentos da dinâmica I; classificação das misturas em homogêneas e heterogêneas e trabalho em grupo para classificação de misturas. Na segunda intervenção, foi desenvolvida a dinâmica III para observar o entendimento individual dos alunos sobre substância e elemento químico, explorando os aspectos microscópicos. Foi proposto aos alunos, individualmente, um exercício, para identificação de substâncias e elementos químicos em misturas e a representação de algumas misturas a partir de desenho.

Os resultados mostraram que, de uma maneira geral, os alunos da oitava série não compreendem os conceitos de substância, mistura, elemento químico e reação química. Em suas respostas, eles tratam substância como sendo elemento químico:O3 é uma substância, pois são duas substâncias ou (elemento) que vão originar outra substância”. Com relação a mistura, nota-se que o termo é empregado como a ação de misturar, independendo se ocorre uma reação química: “NaCl é uma mistura do cloro com o sódio que formou o sal de cozinha”. Do ponto de vista metodológico, apesar das dinâmicas tornarem o trabalho mais estimulante e participativo, percebeu-se que a realização de experimentos em sala de aula não contribuiu de forma significativa para uma evolução conceitual dos alunos e o uso de ilustrações de revistas evidenciou que não é uma tarefa simples trabalhar conceitos científicos na perspectiva do cotidiano. É importante que o professor adquira uma postura de constante reflexão sobre a sua prática pedagógica para que possa desenvolver estratégias eficientes em sala de aula. Algumas das dificuldades dos alunos foram relacionadas à forma como os conceitos são usados nos livros didáticos do ensino fundamental, e isto foi objeto de uma outra etapa do trabalho.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, D. X. de; SILVA, R. R.; TUNES, E. O conceito de substância em química apreendido por alunos do ensino médio. Química Nova. vol. 18, n. 1, p. 80 – 90, 1995.

SILVA, R.M.G. A possível contribuição da aprendizagem escolar sobre o conceitos de química no desenvolvimento intelectual das crianças nas séries iniciais. Caderno de Resumo de Anais do IX Encontro Nacional de Ensino de Química. São Cristóvão: Sergipe. p. 158 – 167, 1998

ZANON, L. B. e PALHARINI, E. M. A química no ensino fundamental de ciências. Química Nova na Escola. n.2, p. 15 – 18, 1995.