SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO DE Ni (II) COM SULFÓXIDO DE METIONINA
Pedro P. Corbi (PG), Petr Melnikov (PQ), Antonio C. Massabni (PQ)
Departamento de Química Geral e Inorgânica Instituto de Química UNESP - Rua Prof. Francisco Degni s/n, CP 355, CEP 14801-970, Araraquara, SP, Brasil
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palavras-chave: sulfóxido de metionina; aminoácido natural, complexo metálico
O sulfóxido de metionina (MetSO, C5H11NO3S, figura 1) é um aminoácido encontrado na sua forma natural em vários alimentos consumidos geralmente em nossa dieta alimentar, assim como os aminoácidos derivados da cisteína anteriormente descritos. Através de métodos de separação cromatográfica, e posterior caracterização, este aminoácido foi detectado, entre outros produtos, no alho [1], na cebola [2], nas nozes [3], na cenoura [4] e na maçã [5].
Figura 1. Fórmula estrutural do sulfóxido de metionina
Em recentes estudos, este aminoácido de fácil acesso e de baixo custo apresentou propriedades anti-inflamatórias [6], e também a capacidade de atuar como um sinalizador biológico no caso da ocorrência de processos oxidativos no organismo humano [7]. Neste contexto, o estudo da síntese e das propriedades de complexos de metais de transição envolvendo o aminoácido sulfóxido de metionina é de elevado interesse para a obtenção de novos marcadores químicos, capazes de transportar os referidos íons metálicos paramagnéticos aos seus sítios específicos no organismo, possibilitando posteriores estudos clínicos através da técnica de RMN [8].
O complexo de Ni (II) com sulfóxido de metionina foi sintetizado pela adição de uma solução de cloreto de níquel (II) a uma solução contendo metioninato-sulfóxido de potássio (recém preparado) na relação molar de 1M:2L. O processo de síntese foi conduzido em meio de etanol absoluto. Após agitação constante por 18 horas à temperatura ambiente, o precipitado de coloração azul formado foi separado por filtração e seco em dessecador sob P4O10.
Os dados analíticos obtidos por análise elementar (EA 1110 CHNS-O CE Instruments) e por absorção atômica (Perkin Elmer AAnalist 300) sugerem a seguinte composição para o complexo de níquel (II) com sulfóxido de metionina: Ni(C5H10NO3S)2·nH2O.
Valores calculados para Ni(C5H10NO3S)2·2H2O (%) C 28,52; H 5,76; N 6,65; Ni 13,94. Experimental: C 27,73; H 5,20; N 6,17; Ni 14,55. O número de moléculas de água nas amostras preparadas varia no intervalo 0<n<2. O complexo é extremamente higroscópico.
De acordo com a espectroscopia I.V. (Espectrofotômetro Spectrum 2000, Perkin Elmer), as variações nas frequências dos estiramentos assimétrico e simétrico do grupo carboxilato (COO-) no complexo, em relação ao metioninato-sulfóxido de potássio, assim como o deslocamento da frequência de estiramento correspondente à ligação (S=O) no complexo em relação ao aminoácido não complexado, sugerem a coordenação do ligante ao íon Ni (II) através destes grupos. O fato do composto mostrar-se extremamente higroscópico, assim como a pequena variação na frequência de estiramento da ligação S=O no complexo, pode indicar que este tipo de coordenação é competitivo com a coordenação das moléculas de H2O nos mesmos sítios.
Por espectroscopia eletrônica na região do visível, três bandas bem definidas e um ombro em 744,08 nm foram identificados. Estas bandas, observadas e analisadas de acordo com a literatura, nos permitem propor para o complexo de níquel (II) com metioninato-sulfóxido uma geometria do tipo octaédrica. De acordo com este modelo proposto, foram feitas as seguintes atribuições para as transições eletrônicas: a banda observada no espectro em 27016 cm-1 é atribuída à transição 3T1g (P) ¬ 3A2g; a banda em 16162 cm-1 é atribuída à transição 3T1g ¬ 3 A2g e a banda em 9997,8 cm-1 é atribuída à transição 3T2g ¬ 3 A2g. O ombro observado em 13439 cm-1 é atribuído à transição 1 Eg ¬ 3 A2g, proibida pela regra de seleção de spin.
Devido à rápida hidratação, não foi possível obter monocristais do composto, ou registrar um quadro de difração de raios-X que permita sua identificação cristalográfica.
Referências
[1]. M. Sugii; T. Suzuki; T. Kakimoto; J. Kato, Bull. Inst. Chem. Res., 42, 246 (1964).
[2]. J. Kuon; R. A. Bernhard, J. Food Sci., 28, 298 (1963).
[3]. I. Kristensen; P. O. Larsen; H. Soerensen, Phytochemistry, 13, 2803 (1974).
[4]. D. A. Alabran; A. F. Mabrouk, J. Agr. Food Chem., 21, 205 (1973).
[5]. M. Bielinska-Czarnecka, J. Sci Food Agr., 14, 527 (1963).
[6]. M. K. Unnikrishnan; M. N. A. Rao, Agents Actiions, 31, 110 (1990).
[7]. C. C. Chao, Y. S. Ma, E. R. Stadtman, Proceedings of The National Academy of Sciences of the United States of America, 94, 2969 (1997).
[8]. M. Brehm, Inorg. Chem., 38, 1134 (1999).
FAPESP / CCET-UFMS