ESTUDO DA FOTOFÍSICA DO 4-(2’-BENZOXAZOLIL)-2,5-DIIDROXIBENZOATO DE ETILA POR MÉTODOS ESPECTROSCÓPICOS E TEÓRICOS

 

Maximiliano Segala (IC), Dione Silva Corrêa (PQ)a,b e Valter Stefani (PQ)a

a Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

b Departamento de Química, Centro de Ciências Naturais e Exatas,
Universidade Luterana do Brasil

 

palavra-chave: benzoxazolas, esipt, cálculos teóricos

 

Compostos orgânicos do tipo 2(2'-hidroxifenil)benzazolas apresentam grande interesse fotofísico, pois emitem luz fluorescente com grande deslocamento de Stokes devido a um expressivo rearranjo do sistema de elétrons p causado por uma transferência protônica intramolecular no estado excitado (ESIPT). Tais compostos têm sido utilizados em geração de laser de corante,1 preparação de novos materiais,2 análise de sistemas biológicos3 e estudos em química computacional.4

O objetivo deste trabalho é a investigação do comportamento fotofísico do composto título através de espectrocopia na região do UV-Vis e por cálculos teóricos, a fim de elucidar um grande solvatocromismo mostrado por este composto.

Os estudos espectrocópicos foram realizados utilizando-se medidas de emissão de fluorescência, em diversos solventes orgânicos, a fim de observar o comportamento das diferentes espécies do corante quando se modificam grandezas como a constante dielétrica e o pH do meio. Para tanto, além da variação do solvente orgânico, adicionou-se gotas de HCl(conc.) ou H2O nas análises com dioxano e ciclohexano. O solvatocromismo constatado nas medidas espectroscópicas indicam a existência de diferentes rotâmeros responsáveis pelos fenômenos de absorção e emissão. A concentração relativa dos rotâmeros depende da competição entre as ligações de hidrogênio intramoleculares e as intermoleculares com o solvente. Esta competição se dá tanto nas ligações de hidrogênio presentes no anel oxazol quanto no grupo éster presente na molécula, o que produz diferentes confôrmeros para a forma enol. O efeito causado pela presença de traços de água ou ácido, em solventes polares, nas propriedades fotofísicas do corante estudado, é diferente do efeito causado em solventes apolares. Nos solventes apolares a hidrofilicidade faz com que os traços de água tenham um contato maior com o corante, enquanto que nos polares estes traços podem ser dispersos por toda a solução. Desta forma, a presença dos traços de água em solventes polares não causa efeitos sérios em comparação a solventes apolares. Outro fator que influencia a estabilidade relativa é a constante dielétrica do solvente, pois as estruturas apresentam momentos de dipolo diferentes. Isso faz com que observamos bandas ceto e/ou enólicas dependendo da constante dielétrica do meio. Realizaram-se cálculos semi-empíricos AM1 através do programa MOPAC93. As geometrias AM1 foram utilizadas para cálculos espectroscópicos nos métodos também semi-empíricos INDO/S-CI e HAM/3 através dos programas Argus e HAM/3, respectivamente. Os cálculos ab initio com base 6-31G** foram realizados com o programa GAMESS. Todos os cálculos foram feitos para os estado fundamental e excitado (figura) utilizando recursos computacionais do CESUP-RS. Oito fototautômeros dos apresentados na figura foram otimizados pelos métodos AM1 e ab initio. Ambos métodos de otimização apresentam a mesma estabilidade termodinâmica, contudo a descrição dos graus de liberdade moleculares, principalmente no estado excitado, é um tanto falha pelo método semi-empírico. Pelas medidas dos comprimentos de ligação os cálculos ab initio indicam que no estado excitado são predominantes as formas ceto e não as estruturas carregadas. As geometrias AM1 dos tautômeros EO0 e EN0, assim como os KN1 e KO1 foram utilizados para os cálculos espectroscópicos de absorção e emissão, respectivamente, e concordam com os dados experimentais, principalmente com o espectro de absorção.

Sendo assim, concluímos que: diferentes espécies são responsáveis pelos processos fotofísicos observados; os cálculos de absorção concordam com os dados experimentais; os estados excitados não são bem descritos pelo AM1; a estabilidade termodinâmica é corretamente descrita por ambos os métodos AM1 e ab initio; não há indícios de estruturas com separação de carga.

 

1 Sastre, R.; Costela, A., Adv. Mater., 1995, 7 (2), 198.

2 Shang, X.; Tang, G.; Zhang, G.; Liu, Y.; Chen, W.; Yang, B.; Zhang, X., J. Opt. Soc. Am. B, 1998, 15 (2), 854.

3 Wang, Y.; Liu, W-H.; Wang, J-H.; Wang, K-M; Shen, G-L; Yu, R-Q., Anal. Lett., 1997, 30 (2), 221.

4 Segala, M.; Domingues Jr, N. S.; Livotto, P. R.; Stefani, V., J. Chem. Soc., Perkin Trans. 2, 1999, (6), 1123.

 

CNPq, CAPES, FAPERGS, PROPESQ-UFRGS, CESUP-RS