DETERMINAÇÃO DOS PESTICIDAS ORGANOFOSFORADOS FENITROTHION E DICLORVOS POR VOLTAMETRIA DE ONDA QUADRADA

Lilian Mayumi Haneda (PG), Robson Tadeu Soares de Oliveira Junior (PG), Sérgio Antonio Spinola Machado (PQ), Luis Alberto Avaca (PQ)


GMEME – Departamento de Físico-Química – Instituto de Química de São Carlos

Universidade de São Paulo, Cx. P. 780, 13560-970 São Carlos, SP

e-mail: haneda@iqsc.sc.usp.br ou robson@iqsc.sc.usp.br


Palavras-chave: pesticidas, voltametria de onda quadrada, fenitrothion, diclorvos


De acordo com dados da fundação Fiocruz/Sintox, as intoxicações por pesticidas organoclorados (DDT e BHC, por exemplo) estão diminuindo com o passar do tempo, devido, provavelmente, ao aumento no rigor da legislação que restringiu o uso desses produtos. Em compensação, porém, estão aumentando os casos relacionados aos produtos à base de organofosforados e carbamatos. Resíduos destes pesticidas estão presentes na água, nos alimentos e mesmo no ar, intoxicando, tanto o homem do campo como também as populações urbanas, por meio da cadeia alimentar. Isso se deve tanto à sua aplicação de forma indiscriminada como à falta de monitoramento destes poluentes. Os principais métodos de análise de pesticidas organofosforados são as técnicas cromatográficas, muito precisas e sensíveis porém caras e de difícil aplicação. Por outro lado, as técnicas eletroanalíticas, mais simples e acessíveis, também têm sido utilizadas para determinação de pesticidas em águas puras, naturais , solos, frutas, etc.

Uma das principais vantagens dos métodos eletroanalíticos é a possibilidade de se determinar diretamente a concentração de pesticidas em matrizes naturais, sem as etapas prévias de separações e pré-tratamentos. Assim, este trabalho tem como objetivo a determinação dos pesticidas fenitrothion e diclorvos por voltametria de onda quadrada utilizando o eletrodo de gota suspensa de mercúrio.

As análises foram feitas em soluções preparadas a partir de uma solução estoque de sulfato de sódio (0,5 M) em pH entre 4,5 a 5,0, contendo os pesticidas em uma concentração de 1,0x10-5 M. A partir desta solução estoque, faz-se a adição padrão de alíquotas de 200 mL em uma solução do branco (10 mL), purgando-se estas soluções durante 150 segundos com N2 (White Martins). As voltametrias de onda quadrada foram feitas com a utilização de um Analisador Polarográfico EG&G PARC modelo 384B, acoplado a um eletrodo de gota suspensa de mercúrio EG&G PARC modelo 303. As condições para os experimentos voltamétricos foram otimizadas para os seguintes parâmetros: Ei= 0, 0 V; Ef= -1,2 V para o diclorvos e Ei = 0,0 V até Ef = -0,6 V para o fenitrothion; freqüência da onda quadrada de 100 Hz, amplitude de pulso de 50 mV e incremento de varredura de 2 mV.

As respostas voltamétricas de onda quadrada, nas condições dadas, para a redução eletroquímica de ambos os pesticidas, em diversas concentrações, são apresentadas na Figura abaixo, (a) para o fenitrothion e (b) para o diclorvos.



A aplicação dos critérios da voltametria de onda quadrada ao pico de redução do fenitrothion, assim como ao primeiro pico do diclorvos (Ep = -0,2 V), mostrou uma reação de redução completamente irreversível, envolvendo a transferência de um elétron e com os reagentes adsorvidos na superfície do eletrodo. Já o segundo pico do diclorvos (Ep = -1,1 V) também envolveu um elétron e reagente adsorvido, porém mostrou uma certa reversibilidade.

A variação das correntes de pico com a concentração de pesticidas foi linear, possibilitando a elaboração de uma curva analítica que determinou o limite de detecção da técnica como sendo de 1x10-8 M (em água pura), para os dois pesticidas. Experimentos de recuperação mostraram uma eficiência acima de 95 %. Finalmente, a transposição destes experimentos para eletrólitos feitos com água coletada em riachos urbanos poluídos (Rio Monjolinho e Rio Gregório em São Carlos) mostraram apenas um pequeno efeito no limite de detecção, aumentando-o para 5x10-8 M. Além disto, a eficiência de recuperação também mostrou uma pequena diminuição, caindo para acima de 90%. Estes efeitos estão associados ao alto conteúdo de matéria orgânica, nestas águas, que bloqueiam a superfície do eletrodo, dificultando a adsorção dos reagentes.

Assim, a técnica da voltametria de onda quadrada mostrou-se muito eficiente para a determinação dos pesticidas organofosforados, tanto em água pura como em matrizes naturais poluídas. Além disto, os parâmetros obtidos por esta técnica permitem uma discussão do mecanismo de redução, apontando, inclusive para a formação de intermediários (tóxicos ou não) sendo, assim, útil também para a determinação de resíduos de pesticidas.