TRANSFERÊNCIA DE CARGAS NA FORMAÇÃO DE LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO


João Bosco P. da Silva (PQ), A. Arnóbio S. da Gama (PQ), Mozart N. Ramos (PQ) e Antenor J. Parnaíba da Silva (PG)


Departamento de Química Fundamental – Universidade Federal de Pernambuco


Palavras-chave: Transferência Parcial, Cargas, Ligações de Hidrogênio


Introdução

Em diversos sistemas químicos e biológicos, é indiscutível a importância do processo de reconhecimento molecular. Um exemplo, particularmente interessante, é o enovelamento de proteínas. Dentre os vários tipos de reconhecimento molecular, uns dos mais importantes presentes na maioria de sistemas químicos são as ligações de hidrogênio. Na literatura há modelos teóricos recentes que propõem diversos mecanismos de formação de ligações de hidrogênio, no entanto, neste trabalho ateremos nossa atenção apenas a sistemas mais simples formados por complexos de hidrogênio lineares, em vistas em aplicar as técnicas de renormalização já amplamente utilizados por nós em outros sistemas moleculares.


Objetivos

Verificar a transferência de carga na formação de ligações de hidrogênio; estabelecer correlações entre os elementos dos tensores de polares atômicos (TPA) e o cálculo de interações efetivas através dos elementos não-diagonais da função de Green (Gda(E)) de modo a possibilitar a estimativa de eficiência de formação das ligações.


Metodologia

Foram realizados cálculos ab initio RHF/4-31G** para obter os elementos dos TPA’s e a matriz de Fock para realizar cálculos das interações efetivas através dos elementos de matriz não-diagonais das funções de Green de um elétron(1). Os sistemas de ligações de hidrogênio estudados são do tipo: CnNH----X, onde X = CmNH ou NmCH com n = 1 ou 3 e m = 1 ou 3, perfazendo um total de 8 possíveis sistemas(2). A partir destes cálculos, foram obtidas as variações das cargas de Mülliken e das cargas corrigidas (extraídas dos TPA’s) entre o monômero isolado e o mesmo formando ligações de hidrogênio com outro monômero do tipo X. Para efeito de avaliação e comparação com as variações de cargas dos 8 sistemas, foram realizados cálculos de interação efetiva entre os orbitais com características retiradoras e doadoras de cargas, baseados no formalismo das funções de Green. Repetiu-se o procedimento acima para o sistema CNH----CNH, porém variando-se o comprimento da ligação de hidrogênio, a fim de estabelecer o comportamento da transferência de carga neste processo.

Resultados



Os resultados obtidos sugerem que há uma boa correlação entre as variações de cargas corrigidas e o elemento Gda para os 8 sistemas investigados. Estes resultados também sugerem que a estabilização das ligações de hidrogênio não dependem apenas da distância entre os monômeros e sim da eficiência de transferência de carga do grupo doador para o grupo aceitador de carga no complexo. Analisando gráficos das variações de cargas (Mülliken e corrigidas) e dos elementos Gda em função da variação das distâncias entre os monômeros do sistema CNH----CNH, observa-se que há um aumento exponencial de primeira ordem na eficiência de transferência de cargas na medida em que os monômeros aproximam-se da posição de equilíbrio, ver Figuras 1a e 1b.

Figura 1. Variação de carga e Gda versus a distância entre os monômeros no complexo C1N2H3----C4N5H6. (a) Cargas corrigidas. (b) Cargas de Mülliken


Conclusões

De acordo com os resultados, observa-se que os elementos da função de Green Gda correlacionam-se melhor com as variações de cargas corrigidas do que com as variações de cargas de Mülliken, fator que permite estabelecer uma relação entre os elementos da função de Green de 1 elétron, amplamente aplicados em cálculos de eficiência de transferência de elétrons em sistemas biológicos, com a transferência de carga calculada a partir de elementos do TPA. Portanto, com estes dois parâmetros, interação efetiva e cargas corrigidas, podemos realizar estimativas sobre eficiência da formação das ligações de hidrogênio e consequentemente sua estabilidade eletrônica.


Referências:

  1. (a) A.A.S. da Gama, Theor. Chim. Acta, 68, 159 (1985); (b) A.A.S. da Gama, Quim. Nova, 11, 76 (1988); (b) A.A.S. da Gama, J. Theor. Biol., 142, 251 (1990)

  2. João Bosco P.da Silva and Mozart N. Ramos, J. Mol. Struct. (TheoChem), 231, 267 (1991).

CNPq/FINEPE