O EFEITO DA COMPETIÇÃO DO CONTRA-ÍON NA ADSORÇÃO DE Hg(II) EM SÍLICA FUNCIONALIZADA

Eunice F. S. Vieira (PQ), Antonio R. Cestari (PQ), Euler A. dos Santos (IC).

Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Química / CCET, São Cristovão, CEP 49100-000, Sergipe. e-mail: cestari@infonet.com.br

Claudio Airoldi (PQ), José A. Simoni (PQ)

Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Química, Campinas, São Paulo, C.P. 6154, CEP 13085-970, e-mail: airoldi@iqm.unicamp.br


Palavras-chave: sílica gel, adsorção, haletos de mercúrio


Introdução:

O grande avanço na área de síntese, caracterização e aplicação de matrizes mecanicamente estáveis tais como sílicas funcionalizadas, tem contribuído para diversos setores da ciência. Sílica gel funcionalizada com o 3-mercaptopropiltrimetoxissilano (MPTS) apresenta a propriedade de extrair íons metálicos de soluções aquosas e não aquosas [1,2]. A adsorção quantitativa de metais, via formação de complexos com ligantes imobilizados, depende de vários fatores experimentais, como a massa da sílica, tempo de contato, temperatura de adsorção, dentre outros [3]. Estes fatores têm sido amplamente investigados. No entanto, não existem na literatura estudos de adsorção nos quais são considerados os efeitos da competição do contra-íon. Nisto consiste a principal abordagem deste trabalho.


Objetivos:

Obter valores de capacidade máxima de adsorção da mistura dos haletos de mercúrio (HgCl2 e HgBr2) na sílica gel funcionalizada com o MPTS (Sil-SH) em meio aquoso. Avaliar, através da entalpia de adsorção, as interações que ocorrem na interface sólido/solução.


Métodos:

Sílica gel previamente ativada foi tratada com o organossilano MPTS, conforme descrito anteriormente [1]. Observou-se a presença de 1,37 mmol g-1 de enxofre na Sil-SH. A adsorção dos haletos de Hg(II) foi realizada a 35, 40, 45 e 50 oC, através do processo de batelada. Aproximadamente 200 mg de Sil-SH foram adicionados a 100 mL de soluções aquosas de mercúrio na faixa de concentração 5 x 10-4 a 5 x 10-3 mol/L contendo diferentes composições dos haletos. A quantidade de mercúrio, antes e após a adsorção, foi analisada por titulações complexométricas, utilizando-se soluções de Mg-EDTA.


Resultados:

Na tabela 1 encontram-se os resultados obtidos para as adsorções de mercúrio. A capacidade máxima de adsorção para a formação de uma monocamada, Nmono, foi calculada a partir dos dados de adsorção ajustados ao modelo de Langmuir. As variações de entalpia para formação de uma monocamada, DmonoH, foram determinadas através da equação de van’t Hoff.

Tabela 1. Valores de capacidade máxima de adsorção, Nmono, e entalpia de adsorção para a formação de uma monocamada, DmonoH referentes aos processos de interação HgX2/Sil-SH (X = Cl e/ou Br)

Composição

T / K

Nmono/10-3 mol g-1

-DmonoH/kJ mol-1


308

0,42


100% HgCl2

313

0,47

41,6


318

0,53



323


0,58



308

0,48


75% HgCl2

313

0,53

35,3

+

318

0,59


25% HgBr2

323


0,65



308

0,51


50% HgCl2

313

0,58

34,5

+

318

0,65


50% HgBr2

323


0,68



308

0,50


25% HgCl2

313

0,55

34,6

+

318

0,64


75% HgBr2

323


0,69



308

0,46


100% HgBr2

313

0,51

40,5


318

0,57



323

0,62



Conclusões:


Um fato bastante surpreendente que pode ser observado através de uma análise dos dados apresentados na tabela 1 é o comportamento sinérgico sugerido pelos valores de Nmono quando o sistema metal/superfície é induzido a uma competição aniônica, indicando um aumento da capacidade de extração do mercúrio pela sílica funcionalizada. Analisando-se os valores de entalpia, é possível observar que todos os processos de interação são exotérmicos e indicam que as ligações mais fortes mercúrio/SH imobilizado ocorrem quando são utilizados os haletos puros. Este efeito antagônico observado sugere que, embora a capacidade de adsorção do material adsorvente seja favorecida, as forças de interação Hg/Sil-SH são enfraquecidas, ou seja, a competição dos ânions não favorece as forças de ligação metal/ligante imobilizado.


Bibliografia:

[1] Vieira, E.F.S., Simoni, J.A., Airoldi, C., J. Mater. Chem., 7 (1997) 2249.

[2] Vieira, E.F.S., Cestari, A.R., Simoni, J.A., Airoldi, C., Thermochim Acta, 328

(1999) 247.

[3] Cestari, A.R., Bruns, R.E., Airoldi, C., Colloids Surfaces, 117 (1996) 7.


CNPq / PIBIC , COPES / UFS