ESTUDO FITOQUÍMICO DE STRYCHNOS COGENS
Maria Lúcia Belém Pinheiro (PG)
Departamento de Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade do Amazonas
Francisco José Queiroz Monte (PQ)
Departamento de Q.Orgânica e Inorgânica, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará
Arnaldo F. Imbiriba da Rocha (PQ)
Departamento de Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade do Amazonas
palavras-chave: Strychnos cogens; lupeol; longicaudatina
Além do emprego na confecção de curares, o gênero Strychnos tem história na medicina folclórica, registrando-se para as espécies americanas, efeitos antimaláricos, tônicos, afrodisíacos, febrífugos e anti-anêmicos [1].As ações farmacológicas mais estudadas, são as convulsivantes e relaxantes, entretanto, estudos mais recentes revelaram a presença de novas estruturas que apresentaram atividades antimitótica, citotóxica, antimicrobiana, antitumoral, amebicida, hipotensiva, antipalúdica etc [2, 3]. Em continuação às investigações fitoquímicas sobre o gênero Strychnos da flora amazônica, foi estudada a espécie S.cogens Bentham (Loganiaceae), a qual se apresenta como uma liana de porte médio, encontrada principalmente em terra-firme, sendo comum nas vizinhanças de Manaus. Estudos químicos e farmacológicos, realizados na década de 50, revelaram fraco conteúdo alcaloídico, não se isolando qualquer alcalóide, a despeito de seu emprego na preparação do curare [4].
710, 0 g de cascas da raiz foram pulverizados e submetidos a maceração em metanol/ ácido acético ( 99:1) por um período de uma semana, renovando-se o solvente a cada 3 dias. Após a eliminação do metanol através de concentração a pressão reduzida, observou-se a precipitação de um material esbranquiçado, o qual após sucessivas recristalizações em clorofórmio/metanol forneceu 6.0g de um sólido cristalino, identificado através de técnicas cromatográficas e espectroscópicas como o triterpeno lupeol. Por intermédio de marcha química convencional para separação de alcalóides, foi obtido um resíduo pastoso avermelhado, que submetido a coluna cromatográfica, utilizando como fase estacionária sephadex LH-20, e fase móvel, metanol, seguida de separação em placa preparativa de sílica gel, eluída com uma mistura de acetato de etila/isopropanol/ hidróxido de amônio (85:15:5), forneceu 0,006g de um sólido alcaloídico, codificado como SCA2. SCA2 apresentou coloração azul diante de sulfato cérico, característica de alcalóides do grupo das toxiferinas e longicaudatinas. O espectro de massas revelou um pico proeminente em 569,2 (M+1), de mesma intensidade do pico base em m/z 272. Observou-se também fragmentos em m/z 249 e 250, característicos do sistema indoloquinolizidina não substituído; e em m/z 143, evidenciando presença de esqueleto estricnano. No espectro de infravermelho há bandas de absorções características de NH /OH( 3413 e 3247) e de ligações duplas e anel aromático de sistemas indólicos não substituídos (1635, 1600 e 756 cm-1). No espectro de RMN1H observou-se 2 conjuntos de 4 hidrogênios, configurando a presença de dois anéis aromáticos e um sinal, provavelmente de NH em campo muito baixo ( d 11,06). Sinais em d 5,82 ( q largo) e d 1,6 ( d , 3H)) sugerem a presença de segmento CH3 CH=C na molécula . Um singleto em d 6,61 compatível com H-17´ (d 127 no RMN13C) e um sistema de hidrogênios mutuamente acoplados =CH (19)-CH2(18)-O em d 6,30 ( 1H, t largo) e d 4,10 e 4.0 ,observado através de 1H, 1H-COSY apontam para uma estrutura indolo-indolínica corinante-estricnano como da longicaudatina. Análises através técnicas modernas de Ressonância Magnética Nuclear bidimensionais (HMQC, HMBC e NOESY) e comparação com dados da literatura [5,6] levaram a identificação de SCA2 como o alcalóide longicaudatina 1, cujos testes farmacológicos indicam ação reserpínica [7]. É a primeira vez que se isola um alcalóide bisindólico terciário tipo longicaudatina, de espécie amazônica utilizada na confecção do curare [4]
1
Quetin-Leclercq, J., Angenot, L. e Bisset, N.G. (1990) Journal of
Ethnopharmaclogy 28, 1.
2. Leclercq, J., De Pauw-Gillet, M., Bassleer, R. e Angenot, L. (1986) Journal of
Ethnopharmacology, 15 , 305.
Frederich, M., Tits, M., Hayette, M.P.,Brandt, V., Penelle, J., DeMol, P., Llabres,
G., e Angenot,L.(1999) Journal of Natural Products 62, 619.
4. Krukoff, B.A. (1972) Lloydia , 35, 193.
5. Massiot, G., Massoussa, B., Jacquier, M.J., Thepenier, P., Le Men-Olivier, L.,
Delaude C. e Verpoorte, R. (1988) Phytochemistry, 27, 3293.
6. Mukherjee, R., Silva T.M.S.da, Guimarães, J.B.L. e Oliveira, E.de J. (1997)
Phytochemichal Analysis, 8, 115.
7. Ohiri, F.C., Verpoorte, R. e Svendsen, A .B. (1983) Journal of
Ethnopharmacology, 9, 167.