O uso de microondas em disciplinas

de Química Orgânica Experimental


Cláudio Eduardo Rodrigues dos Santos (IC), Dario Araújo Cerqueira Júnior (IC)

Aparecida Cayoco I. Ponzoni (PQ) e Aurea Echevarria (PQ)


Departamento de Química da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


Palavras-chave: microondas, suporte sólido, química orgânica experimental


Em uma época em que se evidência o aumento da velocidade da produção do conhecimento técnico-científico e a diminuição da distância entre a produção de novas tecnologias e sua colocação ao alcance do cidadão, é importante que a Universidade passe a incorporá-las em sua praxis em um menor tempo.

O ensino da química orgânica experimental tem sido uma ferramenta importante para o aprendizado da química orgânica como um todo. É indiscutível a importância das aulas práticas nos cursos de química e a escolha das mesmas para uma aprendizagem significativa. De maneira geral são realizadas uma série de sínteses que envolvem diversas etapas levando à várias horas de trabalho no laboratório. Reações clássicas em síntese orgânica tem sido re-estudadas utilizando-se metodologias alternativas objetivando, principalmente a diminuição de custos, tempo e melhoria dos rendimentos.1,2

Na disciplina Química Orgânica Experimental II, oferecida aos cursos de Licenciatura em Química, Química Industrial e Engenharia Química da UFRRJ, as práticas iniciam-se com um produto oriundo da petroquímica, o anidrido ftálico, e uma série de reações são realizadas para produzir intermediários sintéticos importantes, a exemplo da ftalimida, ácido antranílico e ácido fenilglicina orto-carboxílico; corantes e indicadores como a fenolftaleina, fluoresceina, vermelho de metila e índigo entre outros.3


Esta comunicação relata os resultados obtidos para a preparação da ftalimida (1), fenolftaleína (2), fluoresceína (3) e ácido fenilglicina-orto-carboxílico (4), precursor do corante índigo, utilizando metodologias alternativas, especificamente empregando o forno de microondas doméstico e reações em meio sólido.


Os produtos (1-3) foram obtidos partindo-se de quantidades equimolares de anidrido ftálico e uréia, m-resorcinol e fenol, respectivamente, na presença dos catalisadores H2SO4 conc., ZnCl2 e ZnCl2 + areia, em diferentes experimentos, variando-se também o tempo e a potência do forno de microondas. O composto (4) foi obtido a partir da reação em quantidades equimolares do ácido antranílico e ácido monocloroacético, na presença de Na2CO3. Os produtos também foram obtidos segundo a metodologia tradicional.4 Todos os compostos obtidos foram identificados através dos pontos de fusão.

Os resultados obtidos nas diferentes metodologias utilizadas estão indicados na tabela abaixo.


Composto

Método

Rendimento (%)

Tempo

T (°C)/Potência

1

Tradicional

56

60 min

Banho de areia


ZnCl2/m.o.

42

2 min

10 W


H2SO4/ m.o.

40

35 seg

10 W


ZnCl2/ m.o./areia


70

2,5 min

10 W

2

Tradicional

33

9 horas

Banho de óleo


ZnCl2/m.o.

56

2 min

10 W


H2SO4/ m.o.

43

20 seg

10 W


ZnCl2/ m.o./areia


23

10 min

5 W

3

Tradicional

55

1 hora

Banho de óleo


m.o.


73

5 min

10 W

4

Tradicional

55

6 horas

100°


Seco/m.o.

90

2 min

10 W


Seco/m.o./Et3N

33

2 min

10 W

m.o.: microondas


A metodologia utilizando o forno de microondas doméstico e particularmente quando no meio reacional havia areia do mar como suporte sólido, mostrou resultados muito interessantes. Pôde-se observar, a melhoria dos rendimentos na maioria dos casos e maior facilidade no isolamento e purificação dos produtos, particularmente quando se utilizava areia como catalisador/suporte sólido.

Normalmente nas aulas práticas somente um dos produtos é sintetizado. Com o uso do forno de microondas doméstico, será possível a síntese de um maior e variado conjunto de substâncias durante o período de uma aula.


CNPq/PIBIC

1 Caddick, S. Tetrahedron, 51(38), 10403, 1995.

2 Souza, A.E.; Echevarria, A. 20a Reunião Anual da SBQ, QO-084, 1997.

3 Ponzoni, A.C. 14a Reunião Anual da SBQ, 1991.

4 Vogel, A.I.; Química Orgânica, 3a. Ed., Ao Livro Técnico S.A., 1973.