DETERMINAÇÃO DE DOPAMINA EM AMOSTRA FARMACÊUTICA UTILIZANDO UM BIOSSENSOR DE EXTRATO BRUTO DE ABOBRINHA (Cucurbita pepo)
Departamento de Química, Universidade Federal de São Carlos,
Luiz Antonio Ramos (IC)
Universidade Estadual Paulista Instituto de Química de Araraquara
palavras-chave: dopamina, biossensor, peroxidase
Introdução. Um biossensor1 pode ser definido como um sensor que utiliza um material biológico (enzimas, anticorpos, tecidos animal ou vegetal, etc.) conectado a um transdutor que converte o sinal biológico em elétrico.
A enzima peroxidase (E.C. 1.11.1.7) na presença de peróxido de hidrogênio, catalisa a oxidação de alguns substratos doadores de prótons (e.g. monofenóis, difenóis, polifenóis, aminofenóis, entre outros). É uma enzima encontrada em plantas e animais superiores e considerada termoestável, sendo sua atividade regenerada após tratamento térmico2.
A dopamina3 é um neurotransmissor do sistema nervoso central, precursor metabólico imediato da noradrenalina e encontrada em neurônios adrenérgicos e na medula adrenal. É muito utilizada para estimular o coração (tratamento de choque) em casos de insuficiência cardíaca, a qual pode ser causada por infarte do miocárdio. Esse fármaco atua dilatando os vasos sangüíneos renais, aumentando assim o fluxo sangüíneo. É comercializada sob a forma de ampolas de 10 mL contendo 50 mg da droga.
Objetivo. Construção de um biossensor de pasta de carbono modificado com extrato bruto de abobrinha (Cucurbita pepo) como fonte de peroxidase para determinação de dopamina em produtos farmacêuticos.
Metodologia. Para construção do biossensor contendo grafite/Nujol/extrato bruto, inicialmente homogeneizou-se em um almofariz com pistilo pó de grafite (0,225 g) e extrato bruto de abobrinha (154 mL ) durante 20 min. Em seguida foi adicionado óleo mineral- Nujol (0,075 g) e a mistura foi homogeneizada por mais 20 min. O biossensor (eletrodo de trabalho) foi construído utilizando-se uma seringa para insulina de 1 mL. Todas as medidas ciclovoltamétricas foram realizadas a 25o C utilizando-se um Potenciostato/Galvanostato da EG&G-PAR modelo 173 e um registrador universal modelo 175, com um eletrodo de Ag/AgCl como eletrodo de referência e um eletrodo de platina como contra-eletrodo
Resultados. O biossensor proposto foi construído a partir de 75/25 % (m/m) de grafite:Nujol e 200 U mg-1 de peroxidase. A escolha da melhor composição do biossensor foi baseada em estudos da concentração grafite/Nujol (60/40, 65/35, 70/30 e 75/25 % (m/m)) e concentração enzimática (20-500 Umg-1).
Foram estudados o efeito do pH de 5,0 a 7,5, da concentração de peróxido de hidrogênio de 2,0 x 10-4 a 4,0 x 10-3 mol L-1 e da velocidade de varredura de 20 a 200 mV s-1 sobre o sinal analítico. O melhor desempenho (maior relação sinal/ruído) foi observado utilizando-se tampão fosfato pH 6,0, peróxido de hidrogênio 1,0 x 10-3 mol L-1 e velocidade de varredura de 200 mV s-1. A curva analítica foi linear no intervalo de concentração de dopamina de 6,08 x 10-4 a 3,32 x 10-3 mol L-1, limite de detecção de 1,2 x 10-4 mol L-1 e Epc de 0,02 V (redução eletroquímica do Indol-5,6-quinona a dopamina). O estudo de adição e recuperação em amostras contendo dopamina em produtos farmacêuticos variou de 99,4 a 100,2% e o tempo de vida do biossensor foi superior a 4 meses (mais de 500 determinações). A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos utilizando o procedimento proposto e o procedimento padrão recomendado pela Farmacopéia Americana 4.
Tabela 1. Determinação de dopamina em preparações farmacêuticas usando o método padrão (CLAE) e o biossensor contendo grafite/Nujol/extrato bruto de abobrinha.
|
Dopamina (mg mL-1) |
Erro Relativo(%) |
CV (%) |
|||
Amostra |
Rotulado |
Farmacopéia |
Biossensor |
E1 |
E2 |
|
1 |
50 |
48,4±0,1 |
49,9±0,3 |
-0,2 |
+3,1 |
0,6 |
2 |
50 |
48,4±0,1 |
50,9±0,1 |
+1,8 |
+5,2 |
0,2 |
3 |
50 |
48,4±0,1 |
51,5±0,2 |
+3,0 |
+6,4 |
0,4 |
n = 5, nível de confiança 95 %; E1 = erro relativo entre o biossensor e o valor rotulado; E2 = erro relativo entre o biossensor e espectrofotométrico.
Conclusões. Os estudos realizados neste trabalho evidenciaram a viabilidade da utilização do biossensor desenvolvido para determinação de dopamina em amostras farmacêuticas, pois mostrou-se ser prático, exato, preciso, estável e de baixo custo, podendo ser empregado em análises de rotina desse analito.
Bibliografia
Fatibello-Filho, O.; Capelato, M. D., Quím. Nova, 15, 28 (1992)
Araújo, S. A.; Química de Alimentos. Teoria e Prática, Imprensa Universitária- Viçosa-MG, 1995, p. 247.
Gilman, A. G., The Pharmacological Basis of Therapeutics, 9a ed., Mc-Graw-Hill, New York, 1996, p.199.
The United States Pharmacopeia National Formulary XXI, U.S. Pharmacopeia Convention, Rockville, MD, 1985, p. 586.
Agradecimentos: FAPESP; CNPq e CAPES.