PREPARO DO GLICONATO DE SÓDIO E DE
CÁLCIO A PARTIR DE HIDROLISADO DE SACAROSE
Neila
Maria Cassiano (PQ) e Eduardo Almeida Neves (PQ)
Laboratório de
Química Analítica, Departamento de Química,
Universidade Federal de
São Carlos, CP 676, CEP 13560-970, São Carlos, SP
palavras-chave:
gliconato de cálcio, glicose, sacarose
INTRODUÇÃO:
O ácido glicônico e seus sais são amplamente
utilizados em indústrias alimentícias, químicas
e farmacêuticas, sendo suas propriedades exploradas em diversas
aplicações tais como aditivos para alimentos, na
composição de banhos eletrolíticos para
deposição de metais e uso farmacêutico como
suplemento de cálcio e ferro1. Dentre os vários
métodos de preparação de ácido glicônico
e gliconatos a partir da glicose, a oxidação enzimática
no processo de fermentação microbiana1 e a
oxidação eletrolítica2,3 ocupam lugar
de destaque.
OBJETIVO:
O presente trabalho descreve os resultados obtidos na otimização
das condições do processo eletroquímico de
obtenção dos gliconatos de sódio e de cálcio
a partir de hidrolisados de sacarose. Neste caso, o processo torna-se
muito interessante para o País, grande produtor de açúcar,
uma vez que o custo da sacarose é muito inferior ao da
glicose.
MÉTODO:
As eletrólises dos hidrolisados de sacarose foram realizadas
em uma célula eletrolítica termostatizável
contendo um anodo de grafite posicionado entre dois catodos de cobre
de mesma área. O rendimento do processo eletrolítico em
termos de produção de gliconato de sódio foi
obtido pela análise iodométrica da glicose
remanescente. A precipitação do gliconato de cálcio,
foi feita pela adição estequiométrica de
CaCl2.2H2O à solução de
gliconato de sódio aquecida a 70 oC, seguida pela
adição de igual volume de etanol gelado. A solução
foi resfriada à temperatura ambiente e guardada na geladeira
por 24 horas. O gliconato de cálcio foi filtrado, seco a 60
oC, resfriado em dessecador e pesado para o cálculo
do rendimento da reação de eletrodo.
RESULTADOS:
A otimização das condições de hidrólise
foi realizada avaliando-se a concentração de sacarose,
temperatura e concentração dos ácidos HBr e HCl.
Inicialmente avaliou-se o comportamento da reação de
hidrólise de soluções de sacarose em diferentes
concentrações, a 80 oC e na presença
de HCl 0,020 mol/L. A condição ideal de hidrólise
foi alcançada utilizando-se soluções 0,80 mol/L,
quando se obteve glicose em concentrações 0,80 mol/L.
Mantendo-se a concentração de sacarose em 0,80 mol/L e
HCl em 0,020 mol/L, estudou-se o efeito da temperatura (60, 80 e
90oC). Na temperatura de 80oC chegou-se a um
bom resultado como processo rápido (20 min) e sem decomposição
química da solução.
Outro
fator estudado foi a concentração (0,010, 0,020 e 0,050
mol/L) dos ácidos HCl e HBr utilizado na hidrólise.
Utilizando-se HCl ou HBr 0,050 mol/L a sacarose é hidrolisada
em 10 min. Definida as condições de hidrólise
eficiente (sacarose 0,80 mol/L, temperatura de 80oC e HCl
ou HBr 0,050 mol/L), partiu-se para as eletrólises dos
hidrolisados da sacarose.
O
íon brometo é o catalisador do processo anódico
de eletrodo ao formar bromo em meio alcalino (bicarbonato de sódio),
segundo a reação: 2Br- ®
Br2 + 2e-
O
halogênio formado reage com o meio alcalino formando bromo(I),
altamente reativo especialmente como espécie neutra HBrO,
ácido hipobromoso:
Br2
+ H2O ® H+
+ Br- + HBrO
H+ + CO32- ®
HCO3- +
Br2
+ H2O + CO32- ®
HCO3- + Br- + HBrO
O ácido
hipobromoso reage com a glicose, em meio contendo bicarbonato:
HBrO
+ C6H12O6 + CO32-
® C5H11O5COO-
+ H2O + CO2 + Br-
No catodo
há redução de íons hidrogênio,
liberados na superfície metálica pouco favorável
à hidrogenação dos grupos carbonila: 2HCO3-
+ 2e- ® H2
+ 2CO32-
A reação
global, soma dos processos catódico e anódico, se
resume na seguinte reação: C6H12O6
+ HCO3- ®
C5H11O5COO- + H2
+ CO2
A
tabela a seguir apresenta os valores das eficiências
eletrolíticas de oxidação da glicose a partir
dos hidrolisados da sacarose nas seguintes condições:
Glicose, Frutose e NaHCO3 0,80 mol/L, NaBr e NaCl 0,050
mol/L, T=35oC, j=10 e 20 mA/cm2(*), tempo de
eletrólise teórico + 20%
Eletrólito
|
Eficiência eletrolítica
(%)
|
Glicose-Frutose-NaHCO3-NaBr
|
94
82(*)
|
Glicose-Frutose-NaHCO3-NaBr-NaCl
|
91
|
Na
presença de cloreto há diminuição de
rendimento devido à drenagem de corrente para processos
secundários com a formação de clorato, seja por
desproporcionamento ou por oxidação direta de cloreto a
clorato. Sendo pouco reativo quimicamente ou como despolarizante
catódico, não ocorre a efetiva recuperação
do íon cloreto como catalisador. Os resultados mostram, ainda,
que eletrólises realizadas a 20 mA/cm2 apresentam
uma queda significativa no rendimento eletrolítico,
tornando-se assim um parâmetro crítico do processo. A
eficiência de precipitação de gliconato de cálcio
foi de 92%.
CONCLUSÕES: A
sacarose mostrou-se conveniente como produto de partida para a
obtenção de gliconato de sódio e cálcio.
Nas temperaturas de 25 e 35oC, em meio de NaHCO3
e densidade de corrente de 10 mA/cm2, a reação
de interconversão glicose-frutose e a conversão química
brometo-bromato é praticamente suprimida, chegando-se a bons
rendimentos em gliconato de sódio e de cálcio.
BIBLIOGRAFIA:
1- Das, A.
e Kundu, P.N., J. Sci. & Ind. Res., 46(1987), 307.
2- Fioshin,
M. Ya. E Avrutskaya, J. Appl. Chem. USSR, 42(1969), 2153, 2337.
3- Cassiano, N.M., Zanette, D.R. e Neves, E.A., An.
Assoc. Bras. Quim., 47(1998), 123.
CNPq