ANÁLISE SISTEMÁTICA DE COMPOSTOS POLARES EM PRÓPOLIS POR CROMATOGRAFIA GASOSA DE ALTA TEMPERATURA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE MASSAS
Michael Norsell (IC)1*, Alberto dos Santos Pereira (IC)1, Mônica Freiman de Souza Ramos (PQ)2, Jari Nobrega Cardoso (PQ)1, Francisco Radler de Aquino Neto (PQ)1
1LADETEC - Instituto de Química Departamento de Química Orgânica UFRJ,
Ilha do Fundão. e-mail: ladetec@iq.ufrj.br 2Faculdade de Farmácia Centro de Ciências da Saúde UFRJ *Presente endereço: Danmarks Farmaceutiske Højskole, Universitetsparken 2, 2100 København Ø, Dinamarca
palavras-chave: própolis, CGAR-AT-EM, compostos polares
Um dos muitos produtos naturais utilizados pela humanidade tem sido durante séculos a própolis (CAS No. 9009-62-5), seu emprego já era descrito pelos Assírios, Gregos, Romanos, Incas e Egípcios. No antigo Egito (1700 A.C. cera negra) era utilizado para embalsamar os mortos.
Própolis é uma mistura complexa, formada de material resinoso e balsâmico, coletado pelas abelhas de partes aéreas de plantas (flores, pólen, brotos, etc.) e modificadas na colmeia pela adição de secreções salivares e cera de abelha.
Vários trabalhos tem sido publicados divulgando e revisando as propriedades biológicas da própolis onde podemos destacar: antimicrobianas, antifúngicas, antiprotozoárias, antioxidante e antivirais.
Sua composição varia de acordo com a flora, espécie de abelha e época do ano, podendo assim apresentar variações em algumas de suas características, como odor, principais constituintes e coloração. Mais de 300 substâncias já foram identificadas, entre elas compostos fenólicos e flavonóides.
O objetivo do presente trabalho é a análise dos compostos mais polares presentes na própolis (ex.: carboidratos, inositol, etc.) através da Cromatografia Gasosa de Alta Resolução a Alta Temperatura acoplada a Espectrometria de Massas (CGAR-AT-EM).
Propolis pulverizado foi extraído inicialmente com hexano (1:25, m/v), e o resíduo de extração, é extraído em seguida com acetona. O resíduo de extração finalmente é extraído com metanol, todas as extrações foram realizadas a temperatura ambiente. Um banho de ultra-som, (Bransonic 72, Branson, E.U.A.), foi utilizado em todas as extrações.
As frações de própolis foram secas em um dessecador à vácuo com P2O5, e a temperatura ambiente. 100µl de bis-(trimetilsilil)trifluoroacetamida (BSTFA) foram adicionados a 10mg das amostras do resíduo seco. As amostras permaneceram durante 16 horas à 60ºC de modo a completar totalmente a derivatização.
As análises de CGAR-AT foram realizadas em uma coluna de borossilicato, de 20 metros de comprimento e 0,2 mm de diâmetro interno, recoberta com a fase PS-086 (15%-fenil-85%-metilpolissiloxana) com 0,2 mm de espessura de filme de fase estacionária. Utilizou-se um cromatógrafo HP-5890-II, com detector por ionização em chama (FID) e injetor tipo na coluna a frio cold on column (para que não haja discriminação da amostra no injetor) a 400°C e ambiente, respectivamente. As seguintes condições de análise foram aplicadas: temperatura inicial 40°C, taxa de aquecimento de 8°C/min, temperatura final 390°C, velocidade linear do gás carreador (He) 38 cm/s e volume de injeção 0,5 ml.
As análises de CGAR-AT acoplada a espectrometria de massas foram realizadas em HP-5972-MSD acoplado a um cromatógrafo HP-5890-II, com temperaturas de interface e da fonte 370°C e 300°C, respectivamente, utilizando-se uma faixa de varredura de 50 a 700 daltons e a 70 eV (modo impacto de elétrons).
Através dos dados da espectrometria de massas pudemos caracterizar em todas as amostras analisadas um grande de açúcares, principalmente monossacarídeos. Mas uma amostra do Estado do Rio de Janeiro, apresentou um grande número de polissacarídeos, inclusive tetrassacarídeos.
A caracterização de compostos em matrizes de produtos naturais através de análise por espectrometria de massas é bastante dificultada, devido ao grande número de isômeros possíveis e diferenças mínimas entre os espectros de massas. Apesar disso, mais de 40 compostos diferentes (excluindo os carboidratos) foram caracterizados (por exemplo fosfato, glicerol, ácido cinâmico, compostos de alta massa molecular, etc.).
A CGAR-AT-EM abre assim, a possibilidade de se obter informações extremamente relevantes da composição química de frações polares da própolis. A CGAR-AT e a CGAR-AT-EM mostraram assim serem ferramentas poderosas para o estudo sistemático de própolis, propiciando informações rápidas sobre a sua composição química, sem a necessidade de processos de isolamento e purificação. A metodologia pode, portanto, ser aplicada ao controle da qualidade de própolis.
Referências:
1) Pereira, A. S.; Poças, E. S. C.; Ramos, M. F. S.; Cardoso, J. N.; Aquino Neto, F. R. (1999) Aplicação da Cromatografia Gasosa de Alta Resolução e a Alta Temperatura no Estudo da Composição química de Própolis Brasileira. Livro de Resumos do I Simpósio Brasileiro Sobre Própolis e Apiterápicos. p 38
2) Pereira, A. S.; Ramos, M. F. S.; Poças, E. S. C.; Dias, P. C. M.; Santos, E. P.; Silva, J. F. M.; Cardoso, J. N.; Aquino Neto, F. R.; 1999 Z. Naturforschung, 54C, 395.
3) Pereira, A. S.; Pinto, A. C.; Cardoso, J. N.; Aquino Neto, F. R.; Ramos, M. F. S.; Dellamora-Ortiz, G. M.; Santos, E. P.; 1998 J. High Resol. Chromatogr., 21, 514.
(CNPq, UFRJ/SR-2, FAPERJ, FUJB, FINEP)