SAZONALIDADE DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE ESPÉCIES DO GÊNERO CROTON
Margareth de Araújo Silva (IC)1, Alberto dos Santos Pereira (IC)1, Ana Cláudia F. Amaral (PQ)2, Roderick A. Barnes (PQ), Francisco Radler de Aquino Neto (PQ)1
1LADETEC - Instituto de Química Departamento de Química Orgânica UFRJ,
palavras-chave: fitoterápicos, CGAR-AT-EM, sazonalidade
O gênero Croton constitui um grupo de 700 espécies1, apresentando diversas atividades biológicas, como antimalarial, anti-cancerígena, anti-helmíntica, inseticida. Dentre seus principais compostos bioativos, destacam-se os alcalóides do tipo tetrahidroprotoberbínicos, benzilisoquinolínicos e aporfínicos. Pelo seu emprego na fitoterapia e homeopatia, torna-se importante o estudo da variação da concentração destes compostos durante o ano. Devido a atividade farmacológica desejada depender da concentração dos compostos bioativos na matriz vegetal. Fatores como condições climáticas, de solo e ataque por pragas, afetam a composição química das plantas, como forma de defesa das mesmas frente a agressões pelo ambiente à sua volta. O conhecimento da sazonalidade destas plantas permite uma maior eficiência e o controle de qualidade do seu uso como fitoterápico.
- exemplos de alcalóides:
A utilização da Cromatografia Gasosa de Alta Resolução e Alta Temperatura acoplada a Espectrometria de Massas (CGAR-AT-EM) como a técnica de análise de fitoterápicos, torna a caracterização dos compostos dessas plantas mais rápida, por não necessitar de etapas intermediárias de separação e purificação, como na fitoquímica clássica. A possibilidade de operar a altas temperaturas (até ~420ºC), aliada a injeção da amostra na coluna capilar a frio (injeção do tipo cold on-column), permite a análise de componentes de alto ponto ebulição e/ou termolábeis, tais como vários alcalóides. Os quais não são detectados por outras técnicas analíticas. Representando uma solução às limitações da CGAR-EM e uma potente técnica para a análise de produtos naturais, em geral.
O presente trabalho visou o monitoramento da sazonalidade química das espécies Croton hemiargyreus e Croton echinocarpus, por CGAR-AT-EM. Buscando-se traçar o perfil químico dessas espécies e validar a utilização da CGAR-AT-EM como ferramenta para a análise de fitoterápicos.
Analisaram-se amostras mensais de três plantas de cada espécie, coletadas em Nova Friburgo (RJ), no período de junho de 98 a março de 99. As amostras consistiam de extratos de folhas e galhos, solubilizados em metanol, em uma concentração aproximada de 10.000 ppm. Para a CGAR-AT, usou-se cromatógrafo HP-5890-II, com uma coluna OV 1701-OH (88% metil, 7% cianopropil, 5% fenilpolisiloxano), de dimensões de 20m x 0,30mm x 0,1µm. A injeção adotada foi do tipo on-column volume injetado de 1µl de amostra e H2 como gás carreador. Seguiu-se programação de 40ºC a 390ºC, a 10ºC/min e isoterma de 10min a 390ºC. Utilizou-se detector por ionização em chama (DIC) a 400ºC. As análises de CGAR-AT-EM foram feitas num HP-5890-II, acoplado a um HP-5972MS, com as mesmas condições da CGAR-AT, temperatura de interface de 390ºC, faixa de varredura de 40 a 700 daltons, 70eV e He como gás carreador.
A concentração total de alcalóides, hidrocarbonetos, terpenos, álcoois e tocoferóis de C. echinocarpus e C. hemiargyreus foi analisada. Em relação a sazonalidade alcaloídica, levou-se em consideração os alcalóides característicos de cada espécie2. As variações dos compostos citados foram semelhantes entre as plantas da mesma espécie. Observando-se que a época de maior concentração de glaucina, nas amostras de C. hemiargyreus, foi em setembro. Verificou-se uma maior concentração de hidrocarbonetos no mês de novembro, na espécie C. hemiargyreus, e nos meses de janeiro e julho, nas amostras de C. echinocarpus. A taxa de terpenos em C. hemiargyreus teve valor máximo em janeiro, enquanto que, em C. echinocarpus, a maior ocorrência foi em setembro. Os álcoois apresentaram-se em maior proporção no mês de setembro, na espécie C. echinocarpus, e em novembro, para C. hemiargyreus. A a-tocoferol (vitamina E) aparece principalmente nos meses de agosto e setembro em C. hemiargyreus e C. echinocarpus, respectivamente.
Com base nos resultados até então obtidos, propõe-se uma maior atividade farmacológica relativa à presença de alcalóides em C. hemiargyreus no mês de setembro. Confirmando-se, também, a eficiência da utilização da CGAR-AT-EM na análise de compostos de alta massa molecular e controle de qualidade de fitoterápicos. Faz-se necessário o acompanhamento por vários anos, de modo a definir se as variações observadas são de fato sazonais ou foram temporárias.
Farnsworth, N. R.; Blomster, R. N.; Messmer, W. M. (1969) LLOYDIA, 32(1), 1-28
Pereira, A. S.; Amaral, A. C. F.; Barnes, R. A.; Cardoso, J. N.; Aquino Neto, F. R. (1999) Phytochemical Analysis, 10(5), 254-8
Vioque, J.; Pastor, J.; Vioque, E. (1994) Phytochemistry. 36(2),349-52
(CNPq, UFRJ/SR-2, FAPERJ, FUJB, FINEP)