DETERMINAÇÃO DE ELEMENTOS TRAÇOS ATRAVÉS DA ANÁLISE DIRETA DE AMOSTRAS DE MEL POR ICP-MS UTILIZANDO O MÉTODO DA DILUIÇÃO ISOTÓPICA


Nádia Filomena Rossi (PG)1, Ana Paula Packer (PG)1 e Maria Fernanda Giné (PQ)2


(1): Instituto de Química de São Carlos - Universidade de São Paulo - IQSC/USP. e mail: apcpacke@carpa.ciagri.usp.br

(2): Seção de Química Analítica - Centro de Energia Nuclear na Agricultura - Universidade de São Paulo - CENA/USP.


Palavras-chave: ICP-MS, elementos traços em mel, diluição isotópica.


A determinação de metais em amostras de mel pode ser efetuada através de procedimentos que empregam a digestão por via seca ou úmida, bem como por simples diluição ácida. A determinação de Pb, Cd e Cu em amostras diluídas com aplicação do procedimento das adições padrão em métodos eletroanalíticos apresentaram resultados coerentes1.

Neste trabalho, foram determinados Ba, Cu, Pb e Zn em amostras de mel, não digeridas, empregando o método da diluição isotópica (ID)2 e espectrometria de massas com fonte de plasma (ICP-MS). O nebulizador de injeção direta (DIN) permitiu a introdução de 100 µl de amostra diluída. As amostras diluídas receberam a adição de Triton X-100 e foram mantidas em banho de ultrasom até a análise. Para evitar o entupimento do capilar do DIN as amostras foram aspiradas através de um filtro de poliéster para preencher a alça de amostragem. Esse nebulizador permite a introdução de pequenos volumes de soluções de amostras de matrizes complexas diretamente no plasma através do capilar empregando uma bomba de deslocamento gasoso de alta pressão (300 psi)3. A eficiência de introdução da solução da amostra leva a maior sensibilidade e a produção de gotículas uniformes, aumentando a precisão. Outras vantagens adicionais são o aumento da frequência analítica devido ao menor tempo de limpeza e a diminuição do efeito de memória.

Com o objetivo de analisar as amostras de mel com mínima diluição as condições de operação do acoplamento DIN-ICP-MS foram otimizadas para a determinação dos elementos por diluição isotópica. As medidas das razões isotópicas foram obtidas utilizando pressão de nebulização de 75 psi e pressão da bomba de deslocamento gasoso (GDP) de 300 psi para o DIN. Os parâmetros do ICP-MS foram pressão de nebulização auxiliar de 3 psi e vazão do gás auxiliar de 0,7 l min-1.

O método da diluição isotópica consiste na adição de quantidades conhecidas de um composto enriquecido, em um dos isótopos do elemento, à amostra. Após atingir o equilíbrio a solução é analisada e o espectro de massas obtido é usado para medir a alteração na razão isotópica. Desta forma, a quantificação elementar na diluição isotópica baseai-se em diferença de massas, constituindo-se em medida absoluta e exata2.

Primeiramente, a concentração dos elementos nas amostras diluídas foram estimados usando calibração externa. A quantidade ótima de material enriquecido, de cada elemento, adicionado às amostras foi calculada utilizando a equação citada anteriormente por Fasset2. Os materiais enriquecidos adicionados foram 135Ba (150-1000 ng), 65Cu (4-15 µg), 206Pb (0.5-5 µg) and 66Zn (7-40 µg). As razões isotópicas 135Ba/138Ba, 65Cu/63Cu e 66Zn/68Zn foram medidas durante 15 s e as de 206Pb/208Pb durante 1 min. A precisão das medidas para Ba, Cu e Zn foram menores que 1,5 % e para Pb foi menor que 2,5 %. A faixa de concentração elementar encontrada nas amostras de mel foram Ba (30-500 ng/g), Cu (150-1700 ng/g), Pb (20-150 ng/g) e Zn (400-5500 ng/g).

Para a validação do método de análise direta de amostras de mel, os resultados obtidos foram comparados com os obtidos através da digestão nitrico-perclórica (Tabela 1). A comparação de variâncias e das médias (Tabela 1) foram calculadas, respectivamente, através dos testes F e t. Somente a amostra S2 para análise de Ba apresentou variância diferente. O Pb na amostra S2 e o Zn na amostra S1 apresentaram discordância no teste-. No entanto, a maioria dos resultados apresentaram variância semelhante das medidas e as médias não foram significativamente diferentes para um nível de confiança de 95 %.


Tabela 1. Concentração elementar obtida através da análise direta (ad) e da digestão nitrico-perclórica das amostras de mel (dig).



Ba

(ng/g)

Cu

(ng/g)

Pb

(ng/g)

Zn

(ng/g)

S1

ad

dig


98.5 ± 14.7 (n=12) F = 2.43

92.1 ± 9.4 (n=9) t = 1.12


192 ± 17 (n=18) F = 1.62

192 ± 21 (n=9) t = 0.04


149 ± 11 (n=9) F = 3.24

133 ± 20 (n=9) t = 2.02


3456 ± 86 (n=23) F = 1.51

3628 ± 105 (n=11) tcal > ttab

S2

ad

dig


273 ± 43 (n=12) F = 4.88

296 ± 20 (n=9) Fcal > Ftab


231 ± 16 (n=26) F = 1.06

225 ± 16 (n=9) t = 1.72


29.8 ± 5.0 (n=9) F = 2.43

35.8 ± 7.9 (n=9) tcal > ttab


502 ± 25 (n=27) F = 3.10

485 ± 29 (n=9) t = 1.72

S3

ad

dig


187 ± 3 (n=12) F = 4.04

191 ± 5 (n=5) t = 2.07


373 ± 19 (n=19) F = 1.13

370 ± 21 (n=6) t = 0.95


Amostra superestimada


2402 ± 69 (n=19) F = 2.10

2373 ± 49 (n=6) t = 0.95

S4

ad

dig


145 ± 9 (n=17) F = 1.54

144 ± 11 (n=9) t = 0.04


2283 ± 232 (n=11) F = 1.02

2131 ± 229 (n=8) t = 1.42


204 ± 36 (n=8) F = 1.01

181 ± 36 (n=9) t = 1.30


3988 ± 170 (n=12) F = 1.85

3977 ± 232 (n=9) t = 0.12

S5

ad

dig


411 ± 4 (n=12) F = 2.45

405 ± 7 (n=6) t = 2.01


422 ± 8 (n=14) F = 2.91

429 ± 13 (n=9) t = 1.75


30.1 ± 1.6 (n=9) F = 2.07

31.9 ± 2.3 (n=6) t = 1.80


2412 ± 58 (n=16) F = 1.31

2419 ± 51 (n=9) t = 0.31

S6

ad

dig


335 ± 16 (n=17) F = 1.18

326 ± 17 (n=9) t = 1.39


200 ± 11 (n=19) F = 1.63

210 ± 13 (n=6) t = 1.75


Amostra superestimada


1781 ± 42 (n=18) F = 2.87

1746 ± 72 (n=9) t = 1.89


[1] Li, Y., Wahdat, F. and Neeb, R., Fresenius J. Anal. Chem., 1995, 351, 678.

[2] Fassett, J.D. and Paulsen, P.J., Anal. Chem., 1989, 61, 643A.

[3] Wiederin, D.R., Smyczek, R.E. e Houk, R.S., Anal. Chem., 1991, 63, 1626.



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