ESTUDO DA INTERAÇÃO ENTRE O GLUCANTIME E A
b-CICLODEXTRINA USANDO CALORIMETRIA EXPLORATORIA DIFERENCIAL DSC
Rosemary Ochoa (PG), Cynthia Demicheli (PQ), Rubén Dario Sinisterra (PQ), María Irene Yoshida (PQ).
Departamento de Química- Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte
Palavras-chave : DSC, composto de associação, Glucantime-b-Ciclodextrina
A leishmaniose é considerada pela Organização Mundial da Saúde como uma das doenças tropicais mais graves no mundo. Na quimioterapia, que é essencialmente uma das principais medidas de controle das leishmanioses, o Glucantime1 (Antimoniato de Meglumina (AM)) derivado de antimônio pentavalente, é um dos medicamentos de primeira escolha para uso humano. As desvantagens desta droga são sua alta toxicidade e instabilidade1. Devido ao anterior, é necessário obter compostos antimoniais mais potentes, menos tóxicos e mais estáveis.
O conhecimento das aplicações das ciclodextrinas na industria farmacêutica e dos seus efeitos sobre a estabilidade química das drogas2 levou-nos a investigar a formação dos complexos não covalentes entre o Glucantime e a b-ciclodextrina (b-CD).
No presente trabalho foi realizada a síntese do glucantime com base no método previamente descrito na literatura3; foram sintetizados os compostos AM-b-CD nas seguintes relações molares 1:1 e 1:2 pelo método de co-precipitação4. Para efeitos de comparação, foram feitas misturas mecânicas com as mesmas relações molares que dos compostos sintetizados. Realizou-se a caracterização destes sistemas binários por Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e termogravimetria (TG) para obter informações sobre as interações do fármaco com a b-CD no estado sólido. Os resultados de DSC estão apresentados na Tabela 1.
A curva DSC do AM puro apresenta um pico endotérmico de desidratação na faixa de temperatura entre 26-119 0C que corresponde na curva TG a perda de três moléculas de água e um pico exotérmico de termodecomposição por volta de 3010C. Na curva TG não é verificado nenhum patamar de estabilidade, o qual mostra sua instabilidade térmica.
A curva DSC da b-CD livre apresenta dois picos endotérmicos o primeiro corresponde à desidratação observado também na curva TG, devido à perda de sete moléculas de água e um outro pico associado ao ponto de fusão com termodecomposição. A curva TG desta mostra um patamar de estabilidade de 109,3 a 281,4 0C.
Na curva DSC do complexo AM/b-CD 1:1 observa-se três eventos térmicos, um pico endotérmico de desidratação, verificado na curva TG na mesma faixa de temperatura mostrando a perda de nove moléculas de água. Verifica-se a decomposição parcial (pico B), seguida de fusão com termodecomposição (pico C). Na curva TG do mesmo composto verifica-se um patamar de estabilidade térmica de 111,42 a 222,41°C. Quando compara-se a curva DSC do AM/b-CD com a da mistura física observa-se a inversão dos dois últimos eventos.
Tabela 1. Dados de DSC do AM, da b-CD e sistemas binários AM/b-CD
sistemas |
AM |
b-CD |
AM/b-CD MF 1:1 |
AM/b-CD C 1:1 |
AM/b-CD MF 1:2 |
AM/b-CD C 1:2 |
Pico A Faixa 0C Pico 0C D H J/g |
26-119 65,65 222,88 |
34.-104 74,93 241,33 |
36-100 71,11 208,16 |
37-136 71,16 196,73 |
28-108 73,88 289,77 |
37-136 76,19 230,11 |
Pico BFaixa 0C Pico 0C D H J/g |
250--340 301,17 -209,02 |
289-339 315,79 205,27 |
298-317 312,68 24,07 |
238-298 290,28 -124,95 |
298-314 309,82 36,48 |
245-300 286,91 -18,71 |
Pico CFaixa 0C Pico 0C D H J/g |
|
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317-340 327,42 -11,11
|
298-340 312,97 47,41 |
321-357 334,44 -47,50 |
300-308 304,36 -7,62 |
Pico DFaixa 0C Pico 0C D H J/g |
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308-322 314,38 -7,41 |
A curva DSC do complexo AM/b-CD 1:2 apresenta 4 picos, um endotérmico de desidratação e três exotérmicos de termodecomposição, não se observa o ponto de fusão com a termodecomposição deste composto. A respectiva curva TG também mostra um patamar de estabilidade térmica de 114.45 a 231.910C.
As curvas DSC das misturas físicas mostram diferenças significativas quando são comparadas às curvas DSC dos compostos correspondentes. Estes dados sugerem de fato, que existem interações do tipo ligação de hidrogênio entre o Glucantime (AM) e a b-CD no estado sólido. Alem disso, através da comparação das curvas TG do AM e das espécies supramoleculares estudadas, pode-se concluir que nos sistemas AM/b-CD o comportamento térmico está controlado pela b-CD que estabiliza termicamente o Glucantime. Vale a pena salientar que a técnica DSC permitiu monitorar as interações intermoleculares dos sistemas Glucantime-b-Ciclodextrina no estado sólido.
1 J.D. Berman, CID., 24, 684 (1997)
2 T.Loftsoon e M. Brewster, J.Pharm.Sci., 85,1017 (1996)
3 C. Demicheli,et al, Biometals., 12, 63 (1999)
4 A.R. Hedges, Chem.Rev., 98, 2035 (1998) [CAPES-CNPq-FAPEMIG]