USO DO ÁLCOOL POLIVINÍLICO NO CONTROLE TEXTURAL DE ÓXIDOS DE FERRO

Camilo Castro de Oliveira (IC), Jaime Soares Boaventura (PQ), Ivan Lima Júnior(PG) e

Maria do Carmo Rangel (PQ)

Grupo de Estudos em Cinética e Catálise, Universidade Federal da Bahia


Palavras-chave: óxido de ferro, álcool polivinílico, propriedades texturais


Os óxidos inorgânicos têm sido extensivamente empregados na fabricação de vidros, cerâmicas, suportes catalíticos e catalisadores. Nos dois últimos casos, se objetiva preparar materiais altamente porosos e com elevada área específica enquanto, nos outros, se procura obter sólidos densos e com baixas áreas. Nesta situação, as pesquisas estão voltadas para métodos ou agentes que favoreçam a densificação ou a sinterização. Em todos os casos, os polímeros orgânicos têm sido amplamente usado para controlar as propriedades texturais dos materiais finais, podendo gerar sólidos densos ou porosos. Klimova et al.1, por exemplo, utilizaram polietileno glicol, polipropileno glicol, álcool polivinílico (PVOH) e poliacrilamida para controlar a estrutura porosa e a área superficial de óxidos mistos de titânio e alumínio. Foi observado um aumento entre 20 a 60 % da área superficial e entre duas a quatro vezes do volume poroso do material. Resultados similares foram obtidos por Trimm e Stanislaus2, com a alumina. Com a finalidade de obter sólidos com propriedades texturais previamente estabelecidas investigou-se, neste trabalho, o uso de PVOH no controle das propriedades texturais de óxidos de ferro, obtidos como hematita, a-Fe203,

As amostras foram preparadas por técnicas de precipitação, em presença de PVOH a diversas concentrações; para comparação, foi também obtida uma amostra do óxido sem PVOH. Preparou-se uma solução do PVOH em água, à qual adicionou-se uma de nitrato de ferro e outra de hidróxido de amônio, à temperatura ambiente, e sob agitação magnética. O gel assim obtido foi centrifugado e seco a 120oC e, em seguida, moído e peneirado a 100 mesh. O pó resultante foi calcinado sob fluxo de ar sintético a 500oC, por 2h, após aquecimento a uma taxa de 2oC por minuto. As amostras obtidas foram caracterizadas por medidas de área específica (método BET), tamanho e distribuição dos poros (porosimetria de nitrogênio), análise térmica (calorimetria diferencial de varredura, DSC e termogravimetria, TG),infravermelho com transformadas de Fourrier (FTIR), difração de raios-X e redução com temperatura programada (TPR).

Os resultados de TG mostraram que o PVOH coprecipitou significativamente com o hidróxido metálico. O material, preparado a partir de uma solução a 6% em peso de PVOH, perdeu cerca de metade de sua massa quando aquecida a 600oC em ar; nas mesmas condições, uma amostra obtida sem o polímero perdeu apenas 13% de massa. Resultados consistentes foram obtidos por análise de DSC, conduzidas em fluxo de ar sintético; a queima do coprecipitado nas amostras preparadas com 1 e 6% de PVOH liberou, respectivamente, em torno de 0,5 e 1,5 kcal/g. No material preparado sem PVOH, foi observado um pequeno pico a 250 oC (em torno de 5 cal/g) e outro a 427 oC (43 cal/g), este referente à formação da hematita. Além disso, as análises de DSC indicaram que a formação desse óxido foi facilitada pela presença do polímero, ocorrendo paralelamente à queima do polímero, muito abaixo de 400oC. Os espectros de infravermelho obtidos com as amostras de hidróxido de ferro, preparados em presença do PVOH, apresentaram bandas típicas do material orgânico, em torno de 1050 cm-1 e 1300 cm-1, atribuídos à vibração de deformação da ligação C-H e de estiramento da ligação C-O, respectivamente; ambos os picos aumentaram com a concentração do PVOH adicionado. As amostras de hematitas mostraram espectros de infravermelho semelhantes, com bandas características em torno de 540 cm-1, independentemente do modo de preparo do material 3. Por outro lado, a distribuição do tamanho de poros variou, como ilustra a Figura 1. A presença do PVOH aumentou a fração de poros com diâmetro inferior a 200 nm e reduziu ligeiramente a de maior diâmetro. Entretanto, essa variação não foi suficiente para causar um aumento na área que, ao contrário, decresceu com o aumento da concentração do PVOH na solução mãe. Essa redução foi de aproximadamente 30%, entre as hematitas preparadas com 6% de PVOH e sem PVOH, e pode ser atribuída ao elevado calor gerado na combustão do polímero (confirmado pelos termogramas de DSC), aliado à facilidade de sinterização dos óxidos de ferro. Esses resultados estão de acordo com trabalhos anteriores desenvolvidos com alumina2 e sílíca-alumina4, em que se detectou esse fenônemo, denominado filler.


Figura 1 Distribuição de diâmetro poroso de hematitas preparadas com e sem PVOH, medido por adsorção de nitrogênio.


Pode-se concluir que o álcool polivinílico é adequado para o controle das propriedades texturais de hematita, cuja aplicação exija materiais densos. A presença do polímero não altera significativamente a distribuição do tamanho de poros, mas diminui a área específica. Essa redução foi atribuída à sinterização das partículas, causada pelo calor gerado na combustão do polímero.

(RHAE/PADCT/CNPq, FINEP)

1T. Klimova, J. Ramirez, E. Carmona, V. Castaño

XV Simposio Iberoamericano de Catalisis, 16-20/setembro/1996, Córdoba, Argentina

2D. L. Trimm, A. Stanislaus, Appl. Catalysis 21 (1986) 215

3J. Lee, T. Isobe e M. Senna, J. Colloid Interface Sci. 177 (1996) 490

4R. Snell, Appl. Catalysis 12 (1984) 347