Determinação voltamétrica simultânea DE sulfeto livre e combinado em soluções de nutrição parenteral


Paulo Cícero do Nascimento* (PQ), Denise Bohrer* (PQ), Ana Lúcia Becker Rohlfes** (PG), Adrian Ramirez* (IC), Marcello Trevisan* (IC).

*Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Departamento de Química

Campus Universitário, C. P. 5051, 97110-970 Santa Maria - RS – Brasil

**Universidade de Santa Cruz do Sul, Departamento de Química e Física

Campus Universitário, C. P. 188, 96815-900 Santa Cruz do Sul - RS - Brasil


palavras-chave: nutrição parenteral, voltametria, sulfetos


Soluções de nutrição parenteral (NP) são utilizadas como formulações intravenosas em pacientes com necessidades nutricionais específicas e em muitos casos onde a assepsia no tratamento nutricional é indispensável. Estas soluções contém cerca de 15 aminoácidos alguns dos quais com átomos de enxofre na molécula que podem ser responsáveis, a partir de reações de dessulfidrilação, pela produção de sulfetos como contaminantes destas soluções. A presença de sulfetos na forma livre (HS-, S2-) e combinada (R-SH, R-SS-R') é indesejável tanto do ponto de vista clínico quanto da qualidade do produto em relação às suas propriedades organolépticas. Devido à complexidade das soluções de NP a análise destes contaminantes em concentrações muito baixas (µg l-1) impõe a necessidade de alguma etapa de cleanup para eliminar as interferências da matriz mesmo quando métodos cromatográficos são utilizados(1).

No presente trabalho, sulfeto livre (S2-) e combinado (CH3SH, C2H5SH) foram quantificados simultaneamente em soluções de NP por voltametria após separação dos analitos em frascos de Conway(2) com pequenos volumes de solução absorvente.

As medidas voltamétricas foram realizadas num equipamento Metrohm 646 VA Processor/ 675 VA Sample Changer, operando no modo HMDE com um tempo de pré-concentração de 60 s em –300 mV. Os voltamogramas foram registrados entre –300 e –1000 mV para a obtenção dos sinais correspondentes a sulfeto combinado (-450 mV) e sulfeto livre (-650 mV). Todos os potenciais referem-se ao eletrodo de referência, Ag/AgCl 3 mol l-1 e o volume de eletrólito (0.01 mol l-1 NH4Cl, pH 10 ajustado com 0,01 mol l-1 NaOH ) utilizado na célula voltamétrica foi 19,5 ml. Frascos de Conway com volume de solução absorvente (0,01 mol l-1 NaOH) de 0,5 ml foram utilizados no processo de separação entre os analitos e a matriz com um tempo de aquecimento da amostra de 45 min a 47 °C. Alíquotas de 10 ml de soluções de NP foram misturadas na parte inferior do frasco de Conway com 1 ml de EDTA 0,1 mol l-1 e 9 ml de tampão de fosfato (pH 8), preparado pela mistura 1:1 de soluções 6 10-3 mol l-1 K2HPO4 e 3 10-3 mol l-1 KH2PO4 para garantir a estabilidade dos alquiltióis durante a etapa de aquecimento. Tanto a solução do eletrólito quanto a solução adicionada à amostra foram deaeradas previamente com nitrogênio.

Soluções sintéticas de NP com diferentes formulações foram preparadas para testar o método e soluções comerciais dos laboratórios Braun, Darrow, Fresenius e J.P. Indústria Farmacêutica foram analisadas.

O mecanismo de formação de sulfetos a partir das soluções de NP não está ainda perfeitamente estabelecido; contudo, espécies voláteis como sulfeto livre e algumas formas sulfetos combinados de baixo peso molecular, são freqüentes em soluções NP, mesmo dentro de seus prazos de validade. Espécies como metanotiol e etanotiol, que apresentam grupo sulfidrila, comportam-se de maneira idêntica em relação ao eletrodo de mercúrio e podem ser quantificadas como sulfeto combinado sem distinção entre uma forma e outra. A figura abaixo mostra o perfil dos sinais voltamétricos obtidos na presença de sulfeto livre e combinado nas condições descritas.















Os valores de corrente obtidos em procedimentos de calibração, utilizando os frascos de Conway, mostraram a relação i = 0,014c + 0,5 (r = 0,99) para sulfeto livre e i = 0,025c - 0,5 (r = 0,99) para sulfeto combinado, onde “i” é a corrente em nA e “c” a concentração em µg l-1. Uma faixa linear de calibração foi observada para concentrações de sulfetos entre 100 e 700 µg l-1 com RSD 3.5% (n=5) para 300 mg l-1. Limites de detecção de 60 and 63 µg l-1 foram calculados respectivamente para sulfeto livre e combinado utilizando o método descrito. Recuperações entre 90 e 110% foram obtidas a partir da adição dos analitos à amostras sintéticas e comerciais que não apresentavam originalmente as espécies em estudo.

Nove formulações comerciais foram analisadas com a metodologia proposta e apenas uma apresentou teores de sulfeto livre e combinado superiores a 200 µg l-1 , valor máximo permitido em alguns países.


  1. P. C. Nascimento, A. Ramirez, A. L. Becker; Anais da 22° Reunião Anual da SBQ, 1998, QA-069.

  2. R.L. Moran, G.E. Isom, J.L. Way, Toxicol. Appl. Pharmacol. 50 (1979) 323.


CNPq, FAPERGS