DETERMINAÇÃO DE trans-resveratrol em vinhos gaúchos por hplc
Marcus Seferin (PQ), André A. Souto (PQ), Manuel C. Carneiro (PQ) ,Marcos J. H. Senna (PQ), Andressa Conz (IC), Kristiane Gobbi (IC)
Faculdade de Química Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
palavras-chave: resveratrol, vinho, cromatografia.
O trans-resveratrol (trans-3,4,5-triidroxiestilbeno) é uma fitoalexina presente em algumas espécies vegetais, como amendoins e uvas. A produção desta fitoalexina por uvas Vitis vinifera se dá como resposta a ataques externos, especialmente infestação por fungos e radiação UV. Este polifenol é encontrado em maiores concentrações em vinhos tintos [1]. O efeito do consumo de vinho sobre doenças coronarianas vem sendo atribuído a propriedades antioxidantes e anticoagulantes do resveratrol [2]. Efeitos anti-carcinogênicos, de redução no estresse oxidativo de culturas de neuroblastos, de inibição da replicação do vírus do herpes simplex, entre outros, têm sido também relatados [3].
Muitos estudos têm sido recentemente apresentados para a determinação das concentrações de resveratrol em amostras de vinhos originários das principais regiões produtoras do mundo [1]. Todavia, ainda não foi apresentada a avaliação dos teores de resveratrol em vinhos brasileiros. Neste trabalho, relatamos um levantamento dos teores deste estilbenóide em vinhos varietais tintos oriundos do Rio Grande do Sul, responsável por mais de 90 % da produção de vinho nacional.
No presente estudo utilizou-se um procedimento de análise do trans-resveratrol por cromatografia líquida para investigar 36 amostras de diferentes vinhos vairetais tintos gaúchos. As análises foram realizadas em um cromatógrafo HPLC Perkin Elmer equipado com detector UV-VIS e coluna C18 de 250 mm de comprimento, 5mm de diâmetro de partícula e 4,6 mm de diâmetro interno. 20 µL da amostra de vinho diluído 6 vezes com o eluente foram injetados e detectados em 306 nm. A HPLC foi conduzida com eluição isocrática (fluxo de 1,5 mL min-1), empregando-se uma solução aquosa de acetonitrila a 25 %, com pH 3,0, ajustado com H3PO4. Para a quantificação foi construída uma curva de calibração externa, com concentrações de trans-resveratrol variando entre 0,10 a 10,0 mg.L-1.
Os resultados obtidos para os vinhos analisados encontram-se na Tabela 1. O valor médio observado para as amostras testadas (2,57 mg. L-1) é maior do que os valores apresentados na literatura para vinhos portugueses, gregos, japoneses, norte-americanos e sul-americanos, embora valores ainda maiores tenham sido relatados para vinhos preparados com a vinífera Muscadine [4]. Os vinhos analisados que apresentaram teores mais elevados de trans-resveratrol foram os varietais Sangiovese (5,75 mg.L-1), Merlot (5,43 mg.L-1) e Tannat (4,17 mg.L-1). O vinho Merlot apresentou valores maiores que aqueles mostrados para o mesmo varietal em vinhos espanhóis e canadenses.
Tabela 1 trans-resveratrol em vinhos varietais gaúchos.
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Concentração (mg.L-1) |
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Varietal |
Ano a |
Mín |
Máx |
Média (dpr, %)b |
Merlot |
1999 (2) 1998 (1) 1997 (7) |
4,97 - 0,91 |
5,23 - 5,43 |
5,10 (1,67) 3,90 (1,80) 3,12 (1,77) |
Cabernet Sauvignon |
1998 (6) 1997 (5) 1994 (1) 1991 (1) |
1,17 0,82 - - |
3,57 2,33 - - |
2,01 (1,93) 1,53 (1,95) 2,33 (1,91) 1,25 (2,03) |
Cabernet Franc |
1999 (1) 1997 (2) 1990 (1) |
- 1,83 - |
- 2,07 - |
1,60 (1,80) 2,10 (1,90) 1,07 (2,08) |
Pinot Noir |
1999 (1) 1998 (1) 1996 (1) |
- - - |
- - - |
1,07 (1,99) 3,36 (1,11) 4,21 (1,01) |
Gamay |
1999 (2) 1998 (1) |
0,91 - |
2,37 - |
1,64 (1,76) 1,27 (2,05) |
Pinotage |
1997 (1) |
- |
- |
3,43 (1,55) |
Sangiovese |
1993 (1) |
- |
- |
5,75 (0,87) |
Tannat |
1997 (1) |
- |
- |
4,17 (1,03) |
a Número de amostras entre parêntesis. b Desvio padrão relativo (dpr, %) de quatro determinações para cada amostra.
Verificou-se que as concentrações de trans-resveratrol em vinhos Merlot vêm aumentando nas últimas safras. Efeito similar tem sido observado para o varietal Cabernet Sauvignon. Estes resultados são distintos de outros apresentados por grupos italianos para o Cabernet Sauvignon [4]. Tais diferenças podem ser entendidas em termos das condições climáticas diferenciadas para cada safra, assim como diferentes pressões por fungos sobre as diversas colheitas [1].
Referências:
1 - Goldberg, D. M., Yan, J., Ng, E., Diamandis, E. P, Karumanchiri, A, Soleas, G., and Waterhouse, A. L. . Am. J. Enol. Vitic.,1995 46, 159.
2 - Frankel, E. N., Waterhouse, A. L., and Kinsella, J. E. Lancet, 1995 341, 1103.
3 - Kopp, P. Eur. J. Endocrinol. 1998 138, 619.
4 - Souto, A. A., Carneiro, M. C., Seferin, M., Senna, M. J. H., Conz, A., Gobbi, K. J. Food Anal. Compos., submetido.
CNPq, FAPERGS