ESTUDO DA ADSORÇÃO DOS PRODUTOS DE DEGRADAÇÃO DO DISSULFOTON POR MATRIZES DE SOLOS ASSOCIADAS A UM MATERIAL ORGÂNICO SECO


Raquel Andrade (PG)1; Maria Eliana Lopes Ribeiro de Queiroz (PQ)1, Antônio Augusto Neves (PQ)1 José Humberto de Queiroz (PQ)2 e Laércio Zambolim(PQ)3


1 Departamento de Química - Universidade Federal de Viçosa

2 Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular - Universidade Federal de Viçosa

3 - Departamento de Fitopatologia - Universidade Federal de Viçosa


"palavras chave": dissulfoton, isotermas de Freundlich, matéria orgânica


Os agrotóxicos com maior probabilidade de contaminar o ambiente são os persistentes e os que não se ligam às partículas do solo.

A adsorção é um processo chave para se entender o comportamento dos agrotóxicos no solo, pois está diretamente relacionado aos processos de transporte, absorção e bioatividade destes no solo, influenciando diretamente na disponibilidade dos produtos para as plantas e no seu deslocamento e na probabilidade de contaminação do meio ambiente (BAILEY e WHITE,1964).

Diversas técnicas têm sido propostas para reduzir o potencial de lixiviação e contaminação da água e do ambiente por agrotóxicos. Uma delas é a associação de algum tipo de material orgânico ao solo, como forma de se obter uma maior interação do agrotóxico com o solo.

O objetivo deste trabalho foi estudar a adsorção dos produtos finais de degradação do dissulfoton (dissulfoton sulfona e seu análogo oxigenado) em um Latossolo Vermelho-Amarelo, associado a um material orgânico seco (esterco bovino), através das isotermas de Freundlich.

O dissulfoton (O,O-dietil-S-2-(etiltio)-etil fosforoditioato) é um inseticida e acaricida organofosforado sistêmico, que vem sendo amplamente empregado no controle do bicho-mineiro (Perleucoptera coffela), uma das principais pragas do cafeeiro. Este produto, quando aplicado no solo é degradado por microorganismos através de reações de oxidação dando origem a sulfóxidos e sulfonas que são os produtos que devem ser considerados quando se quer avaliar sua toxicidade.

Para a realização deste trabalho utilizou-se às seguintes matrizes: solo coletado no campo (SCC), solo sem matéria orgânica (SMO) e material orgânico seco (MOS). Às matrizes SCC e SMO foram adicionadas diferentes proporções do material orgânico seco (5, 15 e 30%). Para o estudo da adsorção foram adicionadas soluções do dissulfoton sulfona e seu análogo oxigenado, em várias concentrações (2, 5, 10, 20 40 e 60 mg mL-1), às matrizes estudadas. Os frascos foram agitados por 24 horas até que o equilíbrio fosse atingido. Os produtos foram extraídos via extração líquido-líquido utilizando diclorometano como solvente extrator. Após evaporação do solvente extrator, o extrato foi analisado por cromatografia gasosa (CG), empregando um detector de ionização de chamas (FID).



As constantes da isoterma de Freundlich, Kf que expressa a capacidade de adsorção e 1/n que representa a linearidade da isoterma e o número de sítios ativos, mostraram que MOS influenciou no processo da adsorção dos produtos. Na proporção de 30% do MOS associado às matrizes, foram observadas alterações acentuadas nos valores da capacidade de adsorção. Os coeficientes das isotermas de Freundlich obtidos na adsorção dos produtos estudados pelo MOS estão apresentados no Quadro 1 e pelas matrizes SCC e SMO no Quadro 2.


Quadro 1: Coeficientes Kf e 1/n das isotermas de Freundlich da adsorção do dissulfoton sulfona e seu análogo oxigenado pelo MOS

Dissulfoton sulfona

Análogo oxigenado do dissulfoton sulfona

Kf

1/n

Kf

1/n

14,880

0,598

12,872

0,686


Quadro 2: Coeficientes Kf e 1/n das isotermas de Freundlich da adsorção do dissulfoton sulfona e seu análogo oxigenado pelo SCC e SMO


%

MOS

Dissulfoton sulfona

Análogo oxigenado do dissulfoton sulfona


SCC

SMO

SCC

SMO


Kf

1/n

Kf

1/n

Kf

1/n

Kf

1/n

0

9,210

1,077

5,812

0,945

5,843

1,072

4,379

0,995

5

8,477

1,116

5,046

0,959

6,022

0,949

5,262

0,913

15

8,382

1,179

5,329

1,126

8,290

0,802

6,660

0,717

30

11,246

0,788

9,761

0,718

10,341

0,840

8,658

0,612


A importância da matéria orgânica nos processos de adsorção de agrotóxicos deve-se em parte aos sítios de adsorção fornecidos por ela e à ocupação de sítios de adsorção das argilas por componentes da matéria orgânica (STEVENSON, 1982).

Avaliando, de maneira geral, os valores de 1/n para o análogo oxigenado do dissulfoton sulfona, percebe-se que estes tendem a diminuir com o aumento da proporção do MOS. Essa tendência pode estar relacionada com o baixo valor de 1/n que o MOS possui. Para o dissulfoton sulfona o aumento do MOS não afetou de maneira expressiva os valores de 1/n. Estes resultados sugerem que os dois produtos não competem pelos mesmos sítios, pois a diferença na linearidade pode estar associada aos diferentes tipos de sítios de adsorção.


Referência Bibliográficas:


BAILEY, G.W., WHITE, J.L. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.12, n.4, p.224-232, 1964.


STEVENSON, F. J., Humus chemistry. New York: John Wiley, 1982, 443p


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