IDENTIFICAÇÃO DE GEOLIPÍDIOS PRESENTES NA LAGOA DO RIBEIRÃO GRANDE, MUNICÍPIO DE PAULO LOPES, SC



Maurícia Beddin Fritzen (IC) e Luiz Augusto S. Madureira (PQ)



Departamento de Química, Campus Universitário Trindade, Universidade Federal de Santa Catarina, CEP 88040 900



Palavras-chave: sedimento, geolipídios, cromatografia gasosa.



Os lagos surgem de fenômenos que são quase sempre de natureza geológica e, devido à sua forma côncava, têm uma tendência natural a destruição. Portanto, um lago vive desde seus jovens estágios até a maturidade captando matéria orgânica e nutrientes num processo natural, e morre quando a bacia está totalmente cheia. (1) No entanto, a proximidade com o homem traz consigo problemas múltiplos ligados ao lançamento de detritos e despejos, acarretando modificações das condições naturais dos sistemas lagunares e adjacentes. A extensão desse impacto causado pela ação antrópica pode ser monitorado, por exemplo, por alguns grupos de compostos orgânicos (denominados geolipídios) presentes nos sedimentos de fundo do ambiente aquático. É importante ressaltar porém que alguns desses compostos orgânicos podem ser derivados também de plantas terrestres e organismos aquáticos, o que requer cuidados para a interpretação dos resultados.

Como parte dos nossos estudos sobre a presença de geolipídos em sedimentos de lagoas costeiras no Estado de Santa Catarina, foram avaliados alguns grupos de compostos orgânicos na lagoa do Ribeirão Grande, localizada no município de Paulo Lopes. A região faz parte de uma área de preservação do Ibama, sendo, portanto, um ótimo local para se avaliar a extensão com que são preservados alguns geolipídios de procedência terrestre e aquática. Ressalta-se também que próximo a esta lagoa encontra-se um aterro sanitário, onde há cerca de dez anos era depositado o lixo da grande Florianópolis.

Os perfis sedimentares com cerca de 1 m de profundidade foram coletados com auxílio de tubos de PVC (1m x 6 cm) em três pontos da lagoa: próximo a uma das margens, no centro e na desembocadura do principal rio que deságua na lagoa. Após serem seccionadas em intervalos de 3 e 5 cm, as amostras foram mantidas congeladas, liofilizadas e, em seguida, extraídas em ultra-som com uma mistura de CH2Cl2:CH3OH. Uma alíquota foi retirada antes da extração para análise granulométrica, carbono orgânico total e nitrogênio total. A partir da granulometria, observou-se que a superfície do sedimento tem uma textura rica em silte (65,39 %), com menor percentual de argila (16,81 %) e areia (17,80 %). Entretanto, na profundidade de 45 cm, aumentou o percentual de areia (27,78 %) e argila (36,07 %) com redução de silte (36,15 %). Entre os grupos de compostos orgânicos encontrados destacam-se os hidrocarbonetos, ácidos graxos e álcoois, todos de cadeias longas, acima de vinte átomos de carbono, que são procedentes de plantas terrestres. Os compostos de origem aquática presentes nos sedimentos são provenientes de microalgas, como os esteróis e os ácidos graxos com cadeias menores que 20 átomos de carbono. Foram identificados também alguns terpenóides e hidróxiácidos, que são característicos da comunidade microbiana existente principalmente na interface sedimento-água. A mudança na composição geolipídica dos sedimentos com a profundidade foi acompanhada através de alguns índices como o IPC (Índice Preferencial de Carbono) e o RTA (Razão Terrestre-Aquático). Esses índices levam em consideração a distribuição relativa de alguns grupos de compostos orgânicos e são úteis para monitorar possíveis mudanças devido a variações no aporte de material orgânico terrestre ou áquático. Observou-se que os valores do IPC para os hidrocarbonetos, ácidos e álcoois, em duas amostras, uma próxima à superfície (3 – 6cm) e outra próxima ao fundo (59 - 65cm) são característicos de material orgânico de origem alóctone (IPC ³ 2) e não variaram com a profundidade.(2) Por outro lado, o RTA calculado para os ácidos graxos foi menor do que 1 (fração 3 – 6cm, RTA = 0,90 e fração 59 – 65cm, RTA = 0,70), o que indica uma deposição predominante de material orgânico do tipo aquático.

Os resultados obtidos demonstram que a maior parte das degradações dos compostos orgânicos ocorrem na região biologicamente mais ativa, ou seja, nos primeiros 20 cm. Após esta região, há uma certa estabilidade, com pouca variação na distribuição e concentração dos compostos orgânicos. Não há indícios de poluição por combustível fóssil, pois não foram detectados hidrocarbonetos policíclicos aromáticos ou lineares sem predominância dos ímpares sobre os pares. Em relação a pesticidas e herbicidas, ainda não podemos tirar nenhuma conclusão, pois as técnicas de extração e análise utilizadas até o momento foram específicas para os geolipídios.


FUNPESQUISA (UFSC), CNPq


Bibliografia


1 COLE, G.A. (1979) Textbook of Limnology. 20 ed. The C. V. Mosby Company.


2 RIELEY, G.; Collier, R.J.; Jones, D.M. & Eglinton, G. (1991) Org. Geochemistry, v. 17, n.6 , p. 901-912.

ANÁLISE DOS HERBICIDAS PICLORAM E 2,4D EM GRAMÍNEAS


Marcelo da Rosa Alexandre (IC), Maurícia Beddin Fritzen (IC) e Luiz Augusto S. Madureira (PQ)


Departamento de Química, Campus Universitário Trindade, Universidade Federal de Santa Catarina, CEP 88040 900


Palavras - chave: cromatografia gasosa, picloram, 2,4D


O uso de pesticidas nas culturas agrícolas, na pecuária, casas, jardins, etc., tem sido uma constante em nosso dia-a-dia. Vários são os alimentos que consumimos e que contêm pesticidas. Por esta razão, torna-se necessário o desenvolvimento de métodos para análise desses produtos em alimentos e plantas. Dentre os vários grupos de pesticidas, os fenoxiácidos são uma problemática, pois além de sua toxicidade, são facilmente lixiviados percolando por todo a região de aplicação, inclusive no solo. Para a análise destes, faz-se necessário após a extração, uma pré-concentração, pois a concentração no meio é da ordem de nanograma ou picograma, para em seguida submeter à análise por cromatografia gasosa com detecção por captura de elétrons (CG-DCE). Neste trabalho, os procedimentos para a extração, concentração e análise do picloram e 2,4D foram modificados e adaptados de outros estudos.(1,2) Devido à ampla aplicação do herbicida Tordon (2,4-D e picloram) como desfolhante no interior do estado de Santa Catarina, decidiu-se pelo desenvolvimento de um método para a análise deste produto em folhagem, mais especificamente em gramíneas. Três metodologias foram testadas, sendo que os melhores resultados foram obtidos com o método no qual não foi empregada nenhuma pré-purificação do substrato. A tabela que segue mostra os resultados obtidos nesta análise.

Tabela 1 - Valores de fortificação, concentração e recuperação dos herbicidas adicionados em gramíneas utilizando o método sem pré-purificação do substrato (n=3)

Pesticidas

Fortificação (mg/mL)*

Concentração de herbicida em gramínea (mg/g)

Recuperação (%)

Picloram

15,50

0,258

43,5 ± 2,8

Picloram

4,03

0,067

34,2 ± 12,9

2,4-D

14,94

0,249

20,3 ± 5,6

2,4-D

3,98

0,066

60,6 ± 4,5

Em termos de concentração, foi possível detectar os padrões 2,4-D e picloram com concentrações de até 0,99 e 0,93 mg.mL-1,, respectivamente. Na verificação da eficiência do método (Tabela 1), observa-se que a recuperação dos herbicidas alcançou valores baixos, com uma média de 40% de recuperação para ambos os pesticidas.

A análise de 6,0 g de amostra de gramínea coletada uma hora depois da aplicação do herbicida mostrou que o uso é indiscriminado, pois estima-se que seja utilizado cerca de 6,45 e 0,53 mg.g-1 de 2,4-D e picloram, respectivamente, nas pastagens. Não foi encontrado na literatura disponível nenhuma norma ou resolução para a quantidade mínima destes herbicidas em gramíneas. Entretanto, mesmo que as quantidades limites de análise do método desenvolvido esteja muito acima do normativo, pode-se adotá-la para avaliar ambientes impactados, uma vez que pecuaristas usam os herbicidas em grandes excessos nas pastagens. É necessário que se dê seqüência a este trabalho a fim de fazer novas medidas, otimizar a etapa de extração e propor meios de purificação das amostras a serem analisadas a fim de se conseguir uma redução no efeito matriz e aumentar o percentual de recuperação dos herbicidas.

FUNPESQUISA (UFSC), PIBIC-CNPq



Bibliografia



1 VIEIRA, E.M.; Prado, A.G.S.; Landgraf, M.D.; Rezende, M.O.O. (1999) Química Nova, v. 22, n. 3, p. 305-308.

2 WAN H. B., Wong M. K., Lim P. e Mok C. (1994) Journal of Chromatography, v. 662, p. 147-152.