AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOMICIDA DOS EXTRATOS DE CHEILOCLINUM COGNATUM.


Gilmar Aires da Silva (IC)1; Lígia Pereira Coelho (IC) 1; Luciano Morais Lião (PQ) 1; Marcos Roberto Monteiro (PQ) 2; Sérgio Albuquerque (PQ)3.


1Universidade Federal de Goiás, Instituto de Química, Goiânia-GO. 2Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Química, São Carlos-SP. 3Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Ribeirão Preto-SP.


palavras-chave: Artemia salina; Trypanosoma cruzi; Cheiloclinum cognatum.


De acordo com a Organização Mundial de Saúde, entre 16-18 milhões de pessoas no continente americano sofrem com a doença de Chagas, estimando-se, que a mortalidade seja da ordem de 45.000 casos por ano. O fato de induzir danos hemostáticos em plaquetas e alterar a coloração do sangue, explica o uso cada vez menor do violeta de genciana na esterilização de sangue. Dessa forma, vem-se buscando extratos vegetais e/ou substâncias com atividade tripanomicida, como forma alternativa na quimioprofilaxia da Doença de Chagas.

Na triagem de extratos de plantas à procura dessas substâncias bioativas, utilizou-se o ensaio de toxicidade às larvas do camarão de água salgada, Artemia salina (BSLA), configurado como um método geral e de confiança, podendo detectar um amplo espectro de bioatividades. McLaughlin (1991), demonstrou a correlação entre este bioensaio e os usuais utilizados para se detectar compostos antitumorais. Outras correlações com atividades tais como: tripanomicida (Zani e cols., 1995) e antifúngica em fitopatógenos (Macrae e cols., 1988), também são relatadas. O baixo custo, simplicidade, rapidez e a não exigência de técnicas assépticas são vantagens apresentadas por esse bioensaio, podendo ser realizado por um químico de produtos naturais em seu próprio laboratório, ampliando a interdisciplinaridade pretendida por aqueles que trabalham com fitoquímica. Além desses fatores, vale ressaltar a pequena quantidade de substância teste envolvida nestes ensaios, facilitando o fracionamento biomonitorado.

No presente trabalho enfatizou-se o estudo fitoquímico de Cheiloclinum cognatum, uma planta da família das Celastraceae, utilizando-se a técnica de toxicidade aguda às larvas de A. salina, na triagem dos extratos e frações obtidas durante o fracionamento cromatográfico.

As cascas das raízes de C. cognatum foram coletadas em outubro de 1998, em uma área de preservação do Cerrado, na Universidade Federal de Goiás. Após secas e moídas foram extraídas com diclorometano e metanol. Dentre esses extratos, o diclorometânico se destacou frente ao bioensaio com A. salina, apresentando mortalidade de 100% das larvas na concentração de 100 mg.mL-1 e 45% em 10 mg.mL-1. Frente as formas tripomastigotas do Trypanosoma cruzi, observou-se mortalidade de 97,95 e 45,13%, para os extratos diclorometânico e metanólico, respectivamente, na concentração de 4,0 mg/mL. O extrato diclorometânico, foi submetido à partição líquido-líquido, resultando nos extratos hexano, metanol, acetato de etila, n-butanol e água, sendo o metanólico o mais ativo frente ao T. cruzi, causando 95,38% de letalidade na concentração de 4,0 mg/mL.

O fracionamento cromatográfico desse extrato em sílica gel (230-400 mesh), utilizando-se hexano/acetona em gradiente forneceu 5 frações, após monitoramento por TLC. A avaliação da bioatividade destas frações junto ao ensaio com A. salina, ressaltou aquelas contendo os triterpenos quinonametídeos. Estudos preliminares destas frações, já resultaram no isolamento dos triterpenos quinonametídeos tingenona (1) e pristimerina (2), identificados através dos métodos espectroscópicos usuais. Dentre esses, a tingenona (1) apresentou os melhores resultados, causando letalidade total das larvas de A. salina a 10 mg.mL-1. Estas frações encontram-se em processo de avaliação de sua bioatividade frente ao T. cruzi.

A metodologia utilizada no ensaio de toxicidade aguda às larvas de A. salina, foi estabelecida por McLaughlin (1991). Os ovos de A. salina foram eclodidos em água salgada sintética, aguardando-se 48 horas para completa eclosão. Os extratos vegetais, após dissolução, foram inicialmente avaliados a concentrações de 1000, 100 e 10 mg.mL-1, utilizando-se 10 larvas de A. salina em triplicatas. A leitura se deu após 24 horas, contando-se os indivíduos vivos. Para frações purificadas e substâncias isoladas utilizou-se concentrações de 100, 10, 1 mg.mL-1.

O potencial tripanomicida dos extratos foi avaliado através de testes “in vitro” com as formas tripomastigotas sangüíneas. A escolha deste modelo se explica porque atende os requisitos fundamentais para o monitoramento do estudo fitoquímico a partir de extratos vegetais.

Estudos anteriores têm demonstrado que espécies pertencentes às famílias Celastraceae e Hippocrateaceae, produzem triterpenos quinonametídeos em altas quantidades. Estes triterpenos, também conhecidos como celastrolóides, constituem um grupo relativamente pequeno de produtos naturais encontrados exclusivamente nestas famílias, conferindo-lhes a função de marcadores quimiotaxonômicos. Celastrolóides tem-se mostrado interessantes devido as suas atividades antitumorais, antileucêmicas, antimicrobianas, entre outras (Gunatilaka, 1996), justificando o rumo tomado no fracionamento químico guiado pelo ensaio de toxicidade às larvas de A. salina.

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Gunatilaka, A. A. L. (1996) In: Fortschritte der Chemie Organischer Naturstoffe, V. 67, 1-123, NY, Springer-Verlag/Wien.

Macrae, W.D., Hudson, J.B., Towers, G.H.N. (1988), J. Ethnopharm., 22, 143.

McLaughlin, J.M. (1991) In: Methods in Plant Biochemistry. V. 6, 1-32, San Diego, Academic Press.

Zani, C.L. et al. (1995), Phytomedicine, 2, 47.


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