ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO MERCÚRIO EM SOLOS E SEDIMENTOS DA BACIA DO RIO DAS VELHAS (MG), POR TERMODESSORÇÃO/ABSORÇÃO ATÔMICA


Fabiane Ferreira de Souza (IC) (1) e Cláudia Carvalhinho Windmöller (PQ) (1), Alcione Ribeiro de Mattos (PQ)(2)

(1)Departamento de Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas Gerais

(2) Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)

palavras-chave: solo, mercúrio, especiação


Análise de especiação de mercúrio nas mais diversas matrizes tem se tornado cada vez mais importante. Através dela torna-se possível uma avaliação de riscos à saúde devido a diferenças de toxicidade entre as espécies e também uma avaliação de possíveis mecanismos de transporte do mercúrio no meio ambiente e portanto seu grau de impactação, uma vez que as diferentes espécies são transportadas de maneiras distintas entre os compartimentos do meio.

O princípio da técnica de termodessorção de Hg e detecção por Absorção Atômica é de que diferentes espécies de mercúrio termodessorvem em diferentes faixas de temperatura (1,3) . Dessa forma a técnica vem sendo usada para análise qualitativa de mercúrio em matrizes sólidas, sobretudo para determinação de estado de oxidação deste (2, 3).

A FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente) vem monitorando a qualidade das águas da Subbacia do Rio das Velhas, sendo que no cálculo do indice de toxidez é considerada a concentração de mercúrio em 26 pontos ao longo da Bacia. Em vários pontos de amostragem vem sendo encontrado níveis de mercúrio acima do limite máximo estipulado pela FEAM (4).

Baseando-se nesses dados, os objetivos deste trabalho foram de analisar amostras de solos e de sedimentos por termodessorção e estudar o comportamento do mercúrio nas mesmas. Foi escolhido um ponto da Bacia em que foi obtido mais de uma vez concentrações altas de mercúrio (4). Nesse mesmo ponto (BV105 segundo relatório da FEAM), perto do Município de Santa Luzia (4), foi feita amostragem em um dia em que estava ocorrendo garimpagem.

Foram coletadas cinco amostras: (1) local onde é depositado o material proveniente da etapa da lavagem feita pelos garimpeiros (eventualmente contaminado com mercúrio); (2) na margem do rio mais próxima do local de garimpagem; (3), (4) e (5) em barrancos contendo material de antigos garimpos no mesmo local.

Foram feitos termogramas das cinco amostras com as quantidades máximas permitidas pelo equipamento de termodessoção (2,5 a 3,0 g). As amostras 1, 3 e 4 foram dopadas com mercúrio metálico e depois foram feitos termogramas destas periodicamente para verificar mudanças no perfil de termodessorção do mesmo.

O conteúdo de matéria orgânica das amostras foi determinado pela perda de massa por ignição a 500 °C por uma hora.

Em nenhuma das amostras in natura foi verificada presença de mercúrio. Já os perfis de dessorção do mercúrio nas mesmas apresentou diferenças. A comparação desses termogramas com termogramas de amostras padrão de mercúrio metálico, cloreto mercuroso e cloreto mercúrico permitem as seguintes observações: a amostra (1) apresentou uma oxidação imediata do mercúrio, logo após a preparação da mesma. O primeiro termograma já mostrou praticamente todo o mercúrio no estado de oxidação 2+. A amostra 3 apresentou oxidação do mercúrio de 0 para 2+ muito lenta. A amostra 4 mostrou uma oxidação do mercúrio de 0 para 1+, e muito lenta (semelhante a amostra 3) para 2+. A figura abaixo mostra termogramas obtidos das três amostras, logo após serem preparadas.


Fig.1 Termogramas das amostras 1, 3 e 4 dopadas com Hg(0)


Esses resultados levam a conclusão que o mercúrio depositado nos rios e suas margens, pela atividade de garimpo, pode sofrer oxidação com maior ou menor facilidade, dependendo da composição do solo e/ou sedimento que estiver em contato. O conteúdo de matéria orgânica e a composição desta parece ter uma influência determinante neste processo, uma vez que a oxidação do mercúrio adicionado foi maior quanto maior o conteúdo de matéria orgânica das amostras (9,6 % no caso da amostra 1; nenhum na amostra 3 e 3,3 % na amostra 4).


1. BIESTER, H.; SCHOLZ, C., Determination of mercury binding forms in contaminated soils: mercury pyrolysis versus sequential extractions. Environ. Sci. Technol. 1997, 31, 233-239.

2. BIESTER, H.; ZIMMER, H., Solubility and changes of mercury binding forms in contaminated soils after immobilization treatment. Environ. Sci. Technol. 1998, 32, 18, 2755- 2763.

3. WINDMOLLER, C. C.; WILKEN, R. D.; JARDIM, W. F. "Mercury Speciation in Contaminated Soils by Thermal Release Analysis", Water, Air and Soil Poll. 1996, 90, 399-416.

4. FEAM (1995/1996/1998), Monitoração da Qualidade das Águas na Sub-Bacia do Rio das Velhas



Apoio: FUNDEP e Projeto Manuelzão