ESTUDO
DA INFLUÊNCIA DO ÁCIDO FOSFÓRICO NA ESTRUTURA
LAMELAR DO FOSFATO ÁCIDO DE NIÓBIO (V):
I - EFEITO
DO TEMPO DE REAÇÃO E DO TRATAMENTO TÉRMICO
João Célio Gervásio Da Silva1 (PQ)
Sérvulo Folgueras-Domínguez2 (PQ)
Ana Carlota Belizario Dos Santos3 (PQ)
1Departamento de Química Geral e Inorgânica - UFF
2Instituto de Química de São Carlos - USP
3Divisão de Tecnologia de Processos e Catalisadores - CENPES - PETROBRÁS
palavras-chave: fosfato de nióbio (V), sólido ácido, alteração estrutural
Os fosfatos ácidos de nióbio (V) apresentam relação molar P/Nb>1 e são formados de lamelas interligadas por moléculas de ácido fosfórico. Esses compostos podem ser obtidos a partir de diferentes métodos [19, 21, 22], porém vários de seus aspectos químicos e estruturais, como a influência do ácido fosfórico interlamelar na organização estrutural, ainda não são bem conhecidos. Em virtude das características gerais desses materiais, como a forte acidez no espaço interlamelar, eles podem apresentar aplicações em diversas áreas de interesse, tais como troca iônica e catálise.
O objetivo principal deste trabalho consiste em levantar informações referentes à influência do ácido fosfórico interlamelar na estrutura cristalina do fosfato ácido de nióbio (V). Para isso, foram investigadas algumas modificações químicas e estruturais decorrentes do tempo de reação, da temperatura de tratamento térmico e da neutralização desse composto por solução básica.
O fosfato ácido de nióbio (V) foi obtido a partir da reação entre niobato de potássio - lote AD-1148 da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) - e ácido fosfórico, numa relação molar P/Nb=20, necessária à formação do produto contendo ácido fosfórico no espaço interlamelar e, também, à remoção de íons potássio. A síntese foi realizada sob refluxo e agitação mecânica constante, seguida de lavagem dos precipitados com água até pH predeterminado para minimizar a alteração química do produto.
De
acordo com os resultados obtidos, o tempo de reação tem
grande influência na preparação desses fosfatos.
Isto pode ser verificado pelos respectivos difratogramas de raios X,
em que ficou evidente que a evolução de determinados
picos de difração ocorre de modo preferencial. Após
30 minutos de reação, o difratograma do produto revela
picos relacionados com reflexões de planos que correspondem às
direções cristalográficas a e b.
Portanto, o surgimento de picos atribuídos aos índices
de Miller independentes de l, tais como hk0 e 0k0,
sugerem que a organização estrutural no plano ab
está em desenvolvimento. Com o aumento do tempo de reação,
a organização na orientação do eixo c,
que se manifesta através da ordenação das
lamelas e pode ser observada com o aparecimento de picos com
componentes na direção c, intensifica-se
concomitantemente com o aumento de cristalinidade. Em concordância
com esses resultados, estipulou-se o tempo mais prolongado de reação,
isto é, 24h, para a obtenção do fosfato ácido
de nióbio (V). Os resultados obtidos pela indexação
dos picos de difração das amostras tratadas a 120, 600
e 1000oC revelaram mudança de sistema cristalino
triclínico (a = 6,50(1) Å, b = 6,45(1) Å,
c = 16,03(2) Å, a = 94,2(2), b = 85,8(2) e
g =
90,37(1)) para monoclínico (a = 6,466(8) Å, b
= 6,394(9) Å, c = 13,84(2) Å e
b =
88,0(1)), passando para tetragonal (a = 6,379(2) Å, c=
4,102(2) Å), respectivamente, com conseqüente aumento de
simetria e gradativo decréscimo dos parâmetros de cela
unitária a e b. Em relação ao
parâmetro c, uma variação acentuada foi
observada até o colapso da estrutura lamelar, o qual foi
precedido de decréscimo das distorções angulares
na respectiva rede cristalina.
Observou-se também que o aumento da temperatura de tratamento térmico até 600oC provoca decréscimo do tamanho médio dos cristalitos no plano (020). Essa variação pode ser atribuída à desordem provocada pela saída de água, com conseqüente colapso da estrutura lamelar. Por outro lado, o tratamento até 1000oC resultou em reorganização estrutural, com formação da fase a-NbOPO4 e aumento do tamanho médio dos cristalitos. Em relação ao plano (110), essa última observação também se aplica, embora seja verificada pouca variação quando o fosfato ácido lamelar de nióbio (V) é tratado até 600oC, sugerindo que o decréscimo do tamanho médio dos cristalitos no eixo cristalográfico b é acompanhado de um correspondente aumento do tamanho no eixo a.
No
espectro de RMN-MAS observou-se o aparecimento de dois picos nítidos,
intensos e finos (-1,8 ppm, com 54%; -3,3 ppm, 46%), compatíveis
com a significativa organização estrutural que esse
composto revelou por DRX, IV e Raman. Os resultados indicaram a
presença de dois ambientes químicos distintos para o
fósforo, os quais foram atribuídos ao fósforo
constituinte das lamelas
(-1,8 ppm) e daqueles existentes no
espaço interlamelar (-3,3 ppm).
O
tratamento térmico do fosfato ácido de nióbio
(V) a 400oC revelou um pico fino (-3,3 ppm, 63,7%), além
de dois ombros (-10 ppm, 19%; -17,5 ppm, 17,3%). Quando o tratamento
foi realizado a 600oC, o espectro exibiu um pico largo
em
-6,7 ppm (96,5%), indicando que o ambiente químico do
fósforo é pouco simétrico nas condições
experimentais empregadas. Essa observação está
relacionada com a desordem estrutural observada por IV e DRX.
O aumento da temperatura de tratamento térmico para 1000oC revelou acentuado deslocamento do pico para valor mais negativo (-23,1 ppm, 76%, e ombro a -10 ppm, 24%), sugerindo a existência de ambientes químicos onde os núcleos de fósforo estão mais blindados, com conseqüente aumento da força de interação.
(CAPES)
__________________________________
1. Beneke, K.; Lagaly, G.; Inorganic Chemistry 1983, 10, 22, 1503.
2.
Qureshi, M.; Gupta, J. P.; Khan, H.; Ahmad, A.; Bull. Chem. Soc.
Jpn. 1988, 61,
2181.
3. Kinomura, N.; Kumada, N.; Inorganic Chemistry 1990, 29, 5217.