Voltametria Cíclica do Zn2+ em meio nitrato na presença de um oligo dupla fita de 19 mer
Clarissa S. P. de Castro (PG)1,2 , Jurandir R. de Souza (PQ)1 e Carlos Bloch Jr.(PQ)2
1 Laboratório de Química Analítica Ambiental, Instituto de Química, Universidade de Brasília, C.P. 4394, 70.919-970, Brasília-DF 2 Laboratório de Espectrometria de Massa, EMBRAPA-CENARGEN, C.P. 2372, 70.849-970, Brasília-DF.
Palavras-chave: oligo, zinco, voltametria cíclica
O
interesse pelas interações ácido nucléico-metal
está baseado no envolvimento dos metais na biosíntese,
processamento e degradação de ácidos nucléicos,
bem como no transporte e expressão da informação
genética, mutagênesis, anomalias cromossômicas e
carcinogênese1. O conhecimento quantitativo com
respeito ao grau e a extensão dessas interações
é essencial para a compreensão destas reações
bioquímicas. Em trabalhos anteriores, a interação
do Zn2+ com diversos tipos de oligos (ARC5IIC22,
3AOX12, PR1AECO2 e oligo dupla fita de 19
mer3) e com um DNA viral (fago l)4
foi estudada por meio da voltametria cíclica, voltametria de
redissolução anódica e polarografia de pulso
diferencial. Com a realização desses estudos, foi
possível além de evidenciar a interação
de todos estes tipos de DNA com o zinco, determinar o kd
e a estequiometria para as interações Zn2+-DNAfagol
e Zn2+-oligoduplafita, determinar um provável
mecanismo para a reação de complexação do
Zn2+ com o DNA fago l
e com os oligos ARC5IIC2, 3AOX1, PR1AECO e ainda identificar o pico
de redução das bases adenina
e citosina descrito por Palecek5. Dando continuidade ao
estudo da interação entre DNAs e o íon zinco com
o intuito de propor um mecanismo para a clivagem do DNA, este
trabalho teve como objetivo estudar a interação do Zn2+
com um oligo dupla fita de 19 mer ()
por voltametria cíclica para verificar a existência de
uma interação específica entre este DNA
sintético e o zinco, quantificar a extensão desta
interação (cálculo do Kd), determinar
a estequiometria e o mecanismo da reação e os possíveis
sítios de ligação do Zn2+. As medidas
voltamétricas foram realizadas com um polarográfo PAR
174 conectado a um programador universal PAR 175, a um registrador
Houston X-Y e a uma célula eletroquímica composta por
um eletrodo de Pt, um eletrodo de calomelano saturado e um HMDE. Uma
solução de KNO3 0,1 mol. L-1 (10
ml) foi utilizada como eletrólito suporte. A figura 1 mostra a
curva de titulação amperométrica do Zn2+
6,07 x 10-9 mol L-1 com o oligo dupla fita
de 19 mer. Verifica-se que adições sucessivas de 5
ml
do oligo 8,13 x 10-7 mol L-1 à
solução provocam a diminuição da corrente
de oxidação do íon Zn2+ até
zero, evidenciando a interação entre essas duas
espécies químicas. O volume do ponto de equivalência
(36,8 ml),
determinado através do ponto de inflexão
da curva, foi utilizado para o cálculo da estequiometria da
reação (2 íons Zn2+: 1oligo). A razão
2 Zn2+:1 oligo foi a esperada, uma vez que em pH neutro,
os principais sítios capazes de interagir com o zinco são
os oxigênios dos dois grupos fosfatos terminais (5)1.
Os íons Zn2+, por serem metais de transição
e estarem presentes em baixas concentrações,
estabilizam a dupla hélice (pares GC) do oligo por meio de
suas interações eletrostáticas com os oxigênios
dos grupos fosfatos. A constante de dissociação (kd)
do complexo Zn2+-oligo foi determinada
utilizando-se a equação:
onde: ip02 e ip2
= correntes de oxidação do Zn2+ na ausência
e na presença do oligo e [oligo] = concentração
de oligo adicionado na solução. O valor de Kd
(1,4 x 10-9 mol L-1), determinado através
da curva ip2 vs
(figura
2), evidencia a formação de um complexo bastante
estável entre essas duas espécies químicas e
mostra que os íons Zn2+, além de serem
indispensáveis para o processo de clivagem do DNA, estão
provavelmente interagindo não somente com o sítio ativo
da enzima nuclease, como descrito na literatura1, mas
também com o próprio DNA durante a sua degradação.
Figura
1 Curva de titulação do Zn2+ com o A figura 3 mostra a variação da corrente de oxidação do Zn2+ 6,07 x 10-9 mol L-1 com a raiz quadrada da velocidade de varredura na ausência (n) e na presença do oligo 8,12 x 10-10 mol L-1 (l). Observa-se que na ausência do oligo, o processo de oxidação do zinco é controlado por difusão, mas com a adição do oligo, o processo deixa de ser difusional. Mediante as propriedades que o DNA possui de se adsorver na superfície do eletrodo de Hg em condições de pH neutro, força iônica 0,1 e faixa de potencial de 0 a 1,3 V7, acredita-se que o oligo esteja interferindo no processo de oxidação do zinco2,4. |
Figura 2 Curva utilizada para a determinação do kd. |
Bibliografia:
1- HECHT, S. M., Bioorganic Chemistry: Nucleic Acids, Oxford University Press, New York, 1996, p. 244.
2- CASTRO, C. S. P., SOUZA, J. R. e BLOCH Jr., C., 22a Reunião Anual da SBQ, EQ-017, Poços de Caldas-MG (1999).
3- CASTRO, C. S. P., SOUZA, J. R. e BLOCH Jr., C., Resumo submetido ao XV Congresso SIBAE 2000.
4- SOUZA, J. R., CASTRO, C. S. P. and BLOCH Jr., C. (1999) Zinc Binding to Lambda Phage DNA Studied by Voltammetric Techniques. J. Braz. Chem. Soc. In Press.
5- PALECEK, E. (1969) Progr. Nucl. Acid Res. Mol. Biol. 9, 31.
6- NIU, J.; CHENG, G.; DONG, S., (1994) Electrochimica Acta, 39, 2455.
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