Utilização de microondas na preparação de amostras para a determinação de Cd e Pb em peixes da região amazônica por ASV.
Gabriella Magarelli (PG)1, Jurandir R. de Souza (PQ) 1 Antonio Carneiro Barbosa (PQ)1, Gaston E. Ponce(PQ)1, Íris Ferrari (PQ)2, José Garrofe Dórea (PQ)2,
1Laboratório de Química Analítica Ambiental, Instituto de Química, Universidade de Brasília, C.P. 4394, 70919-970, Brasília-DF
2Faculdade de Saúde, Universidade de Brasília, 70.910-900, Brasília-DF
palavras-chave: microondas, peixe, ASV
Metais pesados são continuamente lançados no ambiente aquático por via natural ou antropogênica, causando assim sua contaminação. Cd e Pb, ainda que em baixas concentrações, podem causar sérios efeitos tóxicos aos organismos. Isto justifica o número crescente de estudos que tratam da determinação e quantificação destes metais em diferentes espécies da fauna aquática, uma vez que servem para o consumo humano. A quantificação de metais pesados em peixe tem sido realizada preferencialmente através de técnicas espectroscópicas, tais como AAS, GF-AAS, ICP-AES e ICP-MS 1-2. Apesar de todas oferecerem vantagens, o elevado custo dos equipamentos e sua baixa sensibilidade para alguns elementos podem inviabilizar seu uso. As técnicas voltamétricas aparecem como uma ótima alternativa, já que possuem alta sensibilidade e usam equipamento de baixo custo. Porém, um dos pré-requisitos para a análise de metais pesados por métodos voltamétricos é a dissolução total da amostra, i. é., a destruição da matéria orgânica. A dissolução pressurizada por microondas tem conseguido ampla aceitação como método para a mineralização de amostras orgânicas e inorgânicas. Esta técnica apresenta diversas vantagens tais como: economia de tempo; o uso de pequenos volumes de reagentes e redução do risco de contaminação2. O objetivo deste trabalho é, então, desenvolver uma metodologia eficiente de digestão de amostras de peixe utilizando energia microondas para posterior determinação de Cd e Pb por voltamentria de redissolução anódica.
As amostras de peixe utilizadas no trabalho foram coletadas em rios da região amazônica (Rio das Tropas e Tapajós) no mês de dezembro de 1999. Cerca de 0,4g de cada amostra foi colocada em frasco de hostaflon do sistema de digestão por microondas (PROVECTO SISTEMAS ANALÍTICOS- MODELO DGT 100), onde foi adicionada a mistura de reagentes HNO3/H2O2. Após a digestão das amostras, utilizando programa pré-estabelecido, as bombas de digestão foram resfriadas e cada amostra transferida para balão de 25 mL. Alíquotas de 1 mL foram tomadas e transferidas para a célula polarográfica, onde acrescentou-se 20 mL de água quartex e acetato de sódio 1 mol L-1 para o ajuste do pH. As determinações voltamétricas foram realizadas com um polarógrafo PAR 174A, conectado a um controlador automático PAR 315 A, a um registrador Houston x-y e a uma célula eletroquímica. A célula eletroquímica é composta por três eletrodos: HMDE, Pt e calomelano saturado. Todas as medidas voltamétricas foram feitas operando-se a uma sensibilidade de 0,1mA, com Ei e Ef fixados em 0,9V e 0,1V, velocidade de varredura de 5mV/s, amplitude de pulso de 50mV, tempo de gota de 0,5s e tempo de deposição de 120s. Como eletrólito de suporte utilizou-se a própria amostra.
Na determinação das condições ótimas para a completa mineralização da amostra com a mistura HNO3/H2O23, foram estudados os seguintes parâmetros: proporção dos reagentes HNO3/H2O2 a ser usada, relação potência-tempo do forno microondas e o pH da solução. Das proporções HNO3/H2O2 estudadas (4:2; 4:2,5; 5: 2,5), a proporção 4:2 mostrou-se a mais eficiente. Das combinações potência tempo estudadas, chegou-se ao consenso que o programa que usava alta potência alternada com períodos de potência zero, foi o que deu melhores resultados. O programa adotado foi: 7min. a 850W, 5 min. a 0W, 7min. a 850W, 5min. a 0W e 7min. a 800W. Foi verificado ainda que o pH da solução influenciava a forma dos voltamogramas. Por esta razão, valores de pH (2, 3 e 4) foram testados e observou-se uma significativa melhoria no formato das curvas a medida que o pH aumentava. Para a determinação dos metais Cd e Pb utilizou-se então pH = 4.
A avaliação da eficiência da digestão foi efetuada analisando-se parâmetros como: o aspecto da solução resultante que mostrou-se transparente e sem resíduos, o aspecto das curvas i x E obtidas na ASV que se apresentaram bem formadas e com uma boa resolução (figura 1), sugerindo que a mineralização tinha sido completa. Este critério tem sido encontrado na literatura como uma boa forma de avaliar o êxito do método de digestão4. As concentrações de Cd e Pb nas amostras foram determinadas pelo método da adição padrão e os valores encontrados foram da ordem de 5-12 ng/g para cádmio e 40 160ng/g para chumbo (figura 1). Os resultados preliminares obtidos para as amostras |
Figura 1 Voltamogramas obtidos para 1 ml de amostra de peixe digerida (curva 2). Curva 1 = branco; Curvas 3-5: adições sucessivas de 10 ml de Cd(II) 5 ppm e 10 ml de Pb(II) 10 ppm. |
de peixe mostraram que o método de digestão proposto é eficiente para a eliminação total da matéria orgânica e que a determinação dos metais Cd e Pb por voltametria de redissolução anódica é viável.
Referências Bibliográficas:
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CNPq-CAPES, FAPDF