INVESTIGAÇÃO POR DSC, RMN 1H E IV DA FORMAÇÃO DE COMPLEXOS DE INCLUSÃO ENTRE O MEGAZOL E A b-CICLODEXTRINA.
Fabiane Ramos Rebello (IC)1 e Edson Ferreira da Silva (PQ)1,2
Laboratório de Síntese, Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Farmanguinhos, Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ),
Sizenando Nabuco 100, Manguinhos, Rio de Janeiro, CEP 21041-250, Brasil.
Laboratório de Pesquisa, ICEN- Instituto de Ciências Exatas e da Natureza, Universidade do Granderio (UNIGRANRIO), Prof. José de Souza Herdy 1160- 25 de agosto, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, CEP25071-200, Brasil.
Palavras-chave: complexos de inclusão, megazol, b-ciclodextrina
A transmissão do Tripanosoma cruzi através da transfusão sangüínea é reconhecida como o mais importante mecanismo de disseminação da moléstia de Chagas na América Latina1. Os nitroaromáticos, em especial os nitroimidazóis [p. ex. Megazol] destacam-se como a classe de compostos mais ativa, no entanto o que ainda inviabiliza o seu uso são: a toxicidade e a baixa hidrossolubilidade.
Nos últimos anos vem crescendo o interesse por formação de complexos de inclusão (hóspede-hospedeiro) de fármacos, tentando, com isto, uma melhora da solubilidade do fármaco em água e, em certos casos, um aumento da biodisponibilidade do mesmo2. As Ciclodextrinas por possuírem estruturas bem definidas, são utilizadas como modelos de enzimas e proteínas nas suas interações com muitos substratos3. Isto sugere que as Ciclodextrinas podem formar complexos de inclusão com substratos orgânicos em solução aquosa.
Desta forma, este trabalho teve por objetivo, a preparação dos complexos de inclusão entre Megazol e b-Ciclodextrina e suas identificações utilizando várias técnicas, RMN H1 , IV e DSC (Differencial Scanner Calorimetry).
A b-ciclodextrina foi adquirida pela Sigma, enquanto que o Megazol4 foi sintetizado em nosso laboratório. Os complexos de inclusão, foram preparados a partir da mistura de uma solução aquosa saturada de b-ciclodextrina e uma solução metanólica saturada com Megazol, nas seguintes razões molares Megazol/b-ciclodextrina: 0,4 ; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5.
As análises de RMN H1 foram realizadas no espectrômetro AC-200 Bruker operando à 200 MHz (2,0mg de amostra em 0,6ml de D2O). Os deslocamentos químicos foram obtidos em Hz tomando como referência interna a água.
As análises de absorção na região do infravermelho foram efetuadas no espectrômetro Nicolet-210 magna. Um DSC Mettler foi usado para a análise térmica do Megazol e do complexo, utilizando de 1 a 5mg de substância e submetidas à um gradiente de temperatura de 25-300°C numa taxa de aquecimento de 10°C/min.
Pela as análises do DSC (Figura-1) pode-se identificar a presença de três transições (63,40C, 177,50C e 259,20C) para o Megazol, enquanto que no complexo, observou-se somente duas transições completamente diferentes (88,00C e 266,30C). A ausência dos sinais das transições do Megazol mostra a formação do complexo de inclusão.
Figura
1: Análise de DSC do complexo Megazol/b-CD
2,0 e do Megazol.
As análises de RMN 1H mostram (Tabela-1) uma blindagem dos hidrogênios H-3 e H-5 na b-CD. É possível observar que no complexo com b-CD na razão de 2,0, a blindagem foi maior do que os outros complexos inferiores. Já o complexo na razão 2,5 a blindagem diminuiu, indicando que a razão 2:1 é a razão ideal.
Tabela 1: Deslocamento químico (em Hz) dos H-3 e H-5 da b-CD e dos complexos Megazol/b-ciclodextrina nas razões molares: 0,4; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5.
AMOSTRAS |
b-CD |
|
|
H-3 (Hz) |
H-5 (Hz) |
b-ciclodextrina |
787,4 |
769,8 |
Complexo 0,4 |
787,1 |
771,0 |
Complexo 0,5 |
782,7 |
766,8 |
Complexo 1,0 |
783,4 |
768,0 |
Complexo 1,5 |
783,6 |
767,1 |
Complexo 2,0 |
776,3 |
763,8 |
Complexo 2,5 |
780,3 |
766,2 |
Os resultados de IV também vieram comprovar a formação do complexo pela mudança dos estiramentos da ligação NO2 do Megazol (deformação axial assimétrica 1496 cm-1), para um número de onda mais alto (1499 cm-1), indicando assim, que o grupo nitro está provavelmente dentro da cavidade b-CD.
1- Schirmer, R.H., Müller, J.G. & Krauth-Siegel, R.L. ; Angew. Chem. Int. Ed. Engl., v. 34, n. 2, p. 141-154, 1995.
2- Chiesi, P. & Servadio, V.; United States Patent, US 4,603,123 , 1986.
3- Bender, M.L., Elten, R.L., Clower, G.A., Sebastian, J.F.; J. Amer. Chem. Soc., v. 88,n.10,p. 2319-2320, 1966.
4- Albright, I.D. & Shepherd, R.G.; United States Patent., US 3,812,141 , 1974.
Agradecimentos: FIOCRUZ/FAPERJ
CNPq/PIBIC
DIQUIM/CENPES