DEPOSIÇÕES ATMOSFÉRICAS, SECA E ÚMIDA, NO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA
Marcelo Dominguez de Almeida (PG)1; William Zamboni de Mello (PQ)1
1. Departamento de Geoquímica, Instituto de Química, UFF
palavras chave: deposições atmosféricas; Parque Nacional do Itatiaia; chuva ácida
Introdução - A atmosfera tem sido um dos compartimento mais utilizados para despejo de parte dos rejeitos da produção industrial, atividades urbanas e agropecuárias. Isso ocorre, principalmente, devido a atmosfera ser um meio de escoamento rápido e portanto, capaz de promover a dispersão do material nela injetado. A dispersão dos poluentes não ocorre somente na atmosfera, mas também nos processos naturais que se relacionam com os ciclos hidrológicos e geológicos. Desta maneira, os poluentes quando deixam a atmosfera podem, também, poluir os sistemas aquáticos ou mesmo alterar ciclos biogeoquímicos.1 A tendência é que com o aumento da queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a atividade agropecuária, a atmosfera deva se tornar mais poluída. Assim existe uma necessidade crescente de se avaliar quantitativamente a natureza dos poluentes atmosféricos.
Os objetivos do presente trabalho são: 1) determinar o aporte atmosférico dos íons H+, Na+, K+, Na+, Mg2+, Ca2+, NH4+, Cl-, NO2-, NO3- e SO42- sob a forma de deposição úmida (exclusivamente chuva) e seca (sedimentação de partículas na ausência de chuva), em diferentes altitudes no Parque Nacional do Itatiaia (PNI) e 2) Comparar os pontos de amostragem identificando possíveis causas para as diferenças. Os resultados aqui apresentados são parte do projeto Deposições Atmosféricas no Rio de Janeiro, do FNMA.
Métodos - A coleta das amostras de deposição úmida e seca foi feita semanalmente no período de 21/01/99 - 08/07/99, através de dois coletores automáticos Graseby/GMW modelo APS 78-100, ambos instalados em estações meteorológicas no PNI, um a 2400m de altitude (Planalto do Itatiaia), e outro a 800m de altitude (Sede do PNI). No laboratório as amostras recolhidas foram filtradas em membranas de acetato de celulose de 0,22 µm de diâmetro de poro. O pH e a condutividade foram medidos com alíquotas não filtradas. Os ânions Cl-, NO3-, NO2- e SO42- foram analisados por cromatografia de íons. O íon NH4+ foi analisado pelo método do azul de indofenol. Os cátions Na+ e K+ foram analisados por espectrofotometria de emissão de chama, e Mg2+ e Ca2+ por absorção atômica.
Resultados Os resultados estatísticos referentes às concentrações dos principais íons presentes na chuva do PNI, e as taxas de deposição, úmida e seca do período, encontram-se compilados na Tabela 1. Os valores das concentrações expressos na Tabela 1 representam a média ponderada pelo volume (MPV). Este procedimento elimina a possibilidade de que pequenas chuvas, que geralmente mostram altas concentrações, influenciem a no valor médio2. Os fluxos de deposição estão descritos em massa do elemento por área, sendo assim no caso do íons NH4+, NO3-, NO2- e.SO42 a massa descrita é a do N ou S. Na Tabela 1, Q1 e Q3 representam respectivamente o 1o e 3o quartis que exprime uma aproximação da distribuição de freqüência. No período compreendido entre 21/01/99 08/07/99 somam-se 25 semanas, sendo que 5 sem chuva. Nesse período a precipitação acumulada foi de 896,5 mm no Planalto, e 811,5 mm na Sede. Uma amostra de deposição úmida do Planalto e uma da Sede foram excluídas devido a problemas técnicos. O pH na Sede foi inferior ao do planalto. Os íons K+, Ca2+, Mg2+, NO3- e SO42-, foram superiores na Sede. Já o íon NH4+ mostrou maior concentração no Planalto. O Na+, NO2- e Cl- não são significativamente diferentes. A deposição seca também seguiu o mesmo comportamento, sendo maior em todos os caso na Sede, exceto no fluxo de H+. Feita a transformação da deposição úmida, de concentração para fluxo de massa por área, observa-se que a mesma é muito mais efetiva no transporte desse íons para a superfície do solo do que a deposição seca. É bom frisar que a metodologia de coleta da deposição seca empregada nesse trabalho, não é efetiva na deposição de gases. Esse fator explica as grandes diferenças do fluxo de deposição úmida e seca para os íons NH4+, NO3-, H+ e SO42- . Utilizando o Na+ como íon traçador do aerossol marinho, estima-se que cerca de 2% do SO42- presente na água da chuva tenha como origem a água do mar, o restante (98%) é decorrente da oxidação do SO2 resultante de atividade antrópica.
Tabela 1. Concentrações e taxas de deposição relativas ao período de 21/01/99 08/07/99
|
Planalto |
Sede |
||||||||
|
Deposição úmida N = 19 |
Deposição seca N = 25 |
Deposição úmida N = 19 |
Deposição seca N = 25 |
||||||
|
µEq L-1 |
Q1 |
Q3 |
g ha-1 |
g ha-1 |
µEq L-1 |
Q1 |
Q3 |
g ha-1 |
g ha-1 |
pH |
5,3 |
5,1 |
5,7 |
----- |
----- |
5,0 |
4,8 |
5,2 |
----- |
----- |
H+ |
4,6 |
1,8 |
8,1 |
41 |
7 |
10,9 |
5,7 |
17,6 |
88 |
7 |
Na+ |
1,6 |
0,8 |
1,9 |
321 |
111 |
2,4 |
1,3 |
2,8 |
442 |
222 |
K+ |
1,0 |
0,7 |
1,4 |
366 |
108 |
1,8 |
1,2 |
2,3 |
555 |
489 |
Ca2+ |
1,2 |
0,6 |
1,9 |
212 |
70 |
3,5 |
2,2 |
6,1 |
576 |
296 |
Mg2+ |
1,1 |
0,9 |
1,5 |
121 |
45 |
2,9 |
1,8 |
3,8 |
286 |
178 |
NH4+ |
9,6 |
6,0 |
13,1 |
1205 |
158 |
5,8 |
2,5 |
13,2 |
655 |
321 |
NO3- |
6,3 |
4,6 |
8,9 |
789 |
150 |
11,1 |
7,3 |
17,0 |
1263 |
237 |
NO2- |
0,1 |
0,1 |
0,2 |
13 |
1 |
0,1 |
0,1 |
0,2 |
13 |
3 |
SO42- |
5,6 |
3,8 |
7,8 |
807 |
155 |
10,2 |
5,6 |
19,2 |
1325 |
474 |
Cl- |
5,2 |
2,2 |
7,6 |
1651 |
311 |
5,6 |
3,8 |
6,5 |
1610 |
491 |
Conclusão A precipitação no PNI não mostrou influência marinha, dada a distância do mar e características de circulação atmosféricas da região, com preponderância dos ventos do interior do país. Assim, do sulfato presente na água da chuva, 98% origina-se da oxidação de SO2. O maior aporte de íons na Sede pode ser explicado pela altitude. A sede se encontra à 800 m do nível do mar enquanto o planalto fica a 2400 m, assim o primeiro está mais sujeito à emissões da Rodovia Presidente Dutra e de cidades vizinhas. O Planalto não sofre influências locais, mas sim de transporte a longa distância.
Bibliografia
1. ANDREAE, M.O., TALBOT, R.W., BERRESHEIM, H., BEECHER, K.M., Journal of Geophysical Research, 1990, 95: 16987-16999.
HILL, J. W & KOLB, D. K., Times, 1995. New Jersey: Prentice Hall.
Capes, FNMA