COMPLEXOS MACROCÍCLICOS TETRAAZAANULENOS:

SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO ELETROQUíMICA E CÁLCULOS TEÓRICOS

Geraldo R. Friedermann (PG), Rodrigo França (IC), Shirley Nakagaki (PQ), Joaquim Delphino da Motta Neto (PQ), Sueli M. Dreschell (PQ)

Laboratório de Bioinorgânica, Departamento de Química

Universidade Federal do Paraná - UFPR

Palavras-chave: tetraazaanulenos,macrocíclicos, porfirina


INCLUDEPICTURE "tetrasbq.wmf" \* MERGEFORMAT \d

Figura 1 - Estrutura do Tetraazaanuleno

1 X=H, R1=R2=CH3, M=H2

2 X=Cl, R1=R2=CH3, M=H2

3 X=H, R1=CH2CH(CH3)2,R2=CH3, M=H2

4 X=H, R1=R2=CH3, M=Ni

5 X=H, R1=R2=CH3, M=Cu

6 X=Cl, R1=R2=CH3, M=Ni

7 X=Cl, R1=R2=CH3, M=Cu

8 X=H, R1=CH2CH(CH3)2,R2=CH3, M=Ni

9 X=Cl, R1=CH2CH(CH3)2,R2=CH3, M=Ni

Compostos complexos do tipo TMTAA (dianion de 6,8,15,17-tetra-metil- 5,14-diidrobenzeno [b,i] [1,4,8,11] tetraazaciclotetradecino) são chamados de tetraazanulenos e têm como característica principal uma estrutura mais flexível devido a sua pequena conjugação eletrônica (se comparados a outros compostos macrocíclicos do tipo tetraaza, como as porfirinas que são anéis altamente conjugados), o que causa maior facilidade para distorções do tipo sela (saddle-shaped) levando a diferenças na solubilidade, nas propriedades ópticas e eletroquímicas e facilidade de oxidação do metal, servindo portanto como possível modelo para sistemas biológicos, em especial os catalíticos. Alguns tetraazaanulenos apresentam propriedades catalíticas na redução do CO2 [1].

Os compostos dibenzo-tetrazaanulenos, estudados aqui cuja estrutura geral é apresentada na Figura 1, possuem os substituintes R1 e R2 diferentes de H, o que leva à deformação citada do tipo sela devido a interação entre estes substituintes e os anéis benzênicos do macrocíclico. Temos observado que as modificações nos substituintes do ligante afetam entre outras propriedades, os potenciais redox do complexo, e assim podem ser usadas para modular estes potenciais de forma a adequá-los para aplicações específicas [2].

Com o objetivo de verificar o efeito destas alterações nos potenciais redox dos compostos dibenzo-tetraazaanulenos, foram sintetizados alguns complexos (Figura 1), os quais foram submetidos à estudos por voltametria cíclica.

Os complexos foram obtidos pela dissolução de um acetato do metal de transição de interesse (Cu ou Ni), em etanol anidro, juntamente com uma orto-diamino-benzeno e uma b-dicetona, mantidos em refluxo em atmosfera de argônio por um período de 14 a 50 horas. O ligante neutro, foi obtido pelo tratamento do composto em solução de etanol ou acetona anidro com HCl gasoso, seguido da adição de NH4PF6 e neutralização com solução diluída de Na2CO3 até pH7. A purificação dos macrocíclicos metalados e desmetalados foi efetuada por cromatografia em coluna de silica ou alumina. A identificação e caracterização dos compostos foi feita por espectroscopia Infravermelho (pastilhas de KBr) e Ultravioleta-Visível (com determinação da absortividade molar), análise química elementar (CHN), Ressonância Magnética Nuclear (1HRMN e 13CRMN) e RPE [2].

Cálculos semi-empíricos INDO/S dos orbitais moleculares, realizados com o programa ZINDO [3], mostram para os compostos 1 e 2, o orbital HOMO com uma energia de -6,9 eV e -7,1 eV respectivamente [4], coerente com o primeiro potencial de oxidação observado nestes compostos, 0,67 V e 0,77 V respectivamente.

Observou-se em todos os casos que os potenciais de oxidação dos complexos são menores quando os macrocíclicos estão metalados com cobre, preferencialmente ao níquel ou na ausência de metal. A presença de um átomo de cloro nos anéis benzênicos do macrocíclico contribui para o aumento nos potenciais de oxidação do ligante, em todos os compostos estudados (2, 6, 7 e 9), em torno de 0,10±2 V. O cloro em posição para nos anéis benzênicos exerce efeitos desativantes na reatividade química do anel, abaixando assim a energia do orbital HOMO com o conseqüente aumento do potencial de oxidação. A substituição do R1 de metil (1, 4 e 6), para iso-butil (3, 8 e 9), também proporciona um aumento nos potenciais de oxidação do macrocíclico, provavelmente devido a maior deslocalização de carga nestes radicais. Agrupando os compostos estudados por diversas ordens, pode-se fazer uma análise direta dos substituintes sobre os potenciais de oxidação, sendo possível uma previsão desta propriedade para compostos da série que ainda não foram sintetizados ou estudados. A presença do níquel nos macrocíclicos (4, 6, 8 e 9) diminui o primeiro potencial de oxidação em torno de 0,20±2 V se comparado aos complexos não metalados. Complexos metalados com cobre (5 e 7) tem potenciais de oxidação 0,27±1 V menores que os complexos não metalados. A variação no segundo potencial de oxidação parece não ser afetada significativamente pelo metal.

Os potenciais de redução destes compostos estão sendo estudados separadamente tendo em vista serem valores bastante negativos, em alguns casos menores de -2,2 V [1]. Correlações com outros compostos similares, suportadas por dados de cálculos obtidos do programa ZINDO, permitiram estimar o potencial de redução de 2 entre -2,21 e -2,38 V [3].

Também foram obtidos os espectros de absorção eletrônica calculados dos compostos não metalados, incluindo os efeitos do solvente, os quais apresentam boa semelhança com os experimentais [4].


1- a) Lukes,P.; McGregor,A.; Clifford,T.; Crayston,J.; Inorg.Chem. 31,4697 (1992); b) Purrington,S.; Knight, B.; Bereman, R.; Inorg. Chim. Acta, 223,187 (1994).

2- Ferreira, R.S.; Friedermann,G.; Nakagaki,S.; RA-SBQ,P.Caldas, 1999, QI-198.

3- Zerner, M. C., Programa ZINDO, Universidade da Flórida, Gainesville, FL.

4- Friedermann,G.; Nakagaki,S.; Motta Neto,J.; J. Mol. Struct. THEOCHEM (para publicação).

CNPq, CNPQ/PIBIC/UFPR, FUNPAR